quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Resenha: Igreja: agente de transformação.

CAPÍTULO 1. UMA ECLESIOLOGIA PARA A MISSÃO INTEGRAL.

Para Padilha, para a igreja fazer realmente missão integral ela deve reunir certos requisitos ou “...condições que a capacitem para a prática da missão integral” (p. 44). Não que haja uma igreja perfeita, pois ele mesmo admite que seriam inviáveis, nem existe uma fórmula ou estratégia que transforme a igreja da noite pro dia num agente de transformação, mas que essas igrejas que causam impacto têm em seu DNA algumas características. E aqui vai um comentário, pelo fato de o autor fazer menção dessas características, isso quer dizer que há igrejas que, segundo ele, não estão cumprindo com o papel de ser “sal da terá” e “luz do mundo”, ou seja, estão fazendo o trabalho pela metade. Mas segundo Padilha, as características dessa igreja que pratica a missão integral são as seguintes: (1) o compromisso com Jesus Cristo como Senhor de tudo e de todos; (2) o discipulado cristão como um estilo de vida missionário; (3) a visão da Igreja como a comunidade que confessa a Jesus Cristo como Senhor e (4) os dons e ministérios como meios que o Espírito utiliza para capacitar a igreja e todos os membros para o cumprimento de sua vocação.

Jesus histórico x Jesus ressurreto

“A missão da igreja, portanto, não pode se limitar a proclamar uma mensagem de ‘salvação da alma’: sua missão é ‘fazer discípulos’ que aprendam a obedecer ao Senhor em todas as circunstâncias da vida diária, tanto privadamente como em público, tanto no pessoal como no social, tanto no espiritual como no material.” (p. 52). Padilha faz uma crítica ao evangelho pregado atualmente, segundo ele, prega-se exclusivamente o Cristo ressurreto e esquecem do Jesus histórico. A diferença pode não parecer muito clara, falando nesses termos simplificados, mas basicamente a diferença é esta: o Jesus histórico (antes de sua morte e ressurreição) alimentava os famintos, curava os enfermos e libertava os cativos e o Jesus ressurreto pregava o reino de Deus. Então quando ele fala que pregam o Jesus ressurreto, só falam da salvação – e ele deixa claro que ele não quer dizer com isso que a salvação fica em segundo plano – sem se preocupar com o lado social; a situação em que a pessoa a quem o evangelho está sendo pregado está (talvez esteja em condições sub-humanas).

Ao fazer um breve comentário sobre a Teologia da Libertação ele descreve que “uma das características mais dignas de louvor da teologia da latino-americana da libertação foi a sua ênfase no Jesus histórico como paradigma da missão da igreja.” (p. 57), mas faz as ressalvas necessárias em relação à opção pelo comunismo marxista pelos teólogos da libertação – alguns teólogos protestantes mais conservadores também tentam enquadrar os teólogos da TMI como marxistas.

Tenho uma dificuldade em entender a parte na qual ele fala da “igreja e a cruz de Jesus”, onde ele fala muito sobre sofrimento. Ele escreve que “o sofrimento seria parte constitutiva da missão dos discípulos, como o foi na missão de seu Senhor.” (p. 58). Não ficou claro para mim o que vem a ser esse sofrimento. Ao comentar sobre 2 Co 5:18-19 ele diz que “o exercício do ‘ministério da reconciliação’, sem dúvida, tem um custo tanto em termos de entrega sacrificial pelos demais [...] como em termos de sofrimento por causa do evangelho.” (p. 58). Novamente aqui não vejo clareza por parte do autor. Dá margem para diversas interpretações.

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sábado, 16 de novembro de 2019

Resenha: Idade Mídia Evangélica no Brasil

MORAES, Gerson Leite. Idade mídia evangélica no Brasil. São Paulo, Fonte Editorial, 2010.

O livro ora resenhado foi escrito com o intuito de analisar o poder midiático da igreja evangélica Igreja Internacional da Graça de Deus liderada pelo Missionário R.R Soares e a relação da igreja, na figura do missionário, com a política. O autor faz um apanhado histórico da mídia e seu desenvolvimento e como isso influenciou a sociedade ao longo dos anos e como ela continua a exercer forte influência na sociedade hodierna. Hoje não se pode falar em modernidade sem falar em mídia e muito menos se pode falar em modernidade sem falar em religiosidade e autor nos mostra como a mídia esteve vinculada aos interesses religiosos. Fato é que a mídia, em sua forma impressa, que “Em 1501 o Papa Alexandre VI tentou estabelecer um sistema de censura mais rigoroso e abrangente, proibindo a publicação de qualquer livro sem a autorização do poder eclesiástico [...]” (p. 27) e a preocupação aqui era a disseminação de conhecimento que seria contra os interesses da ICAR, mas o que fica evidente aqui é o poder de atuação da mídia que pode ser usada para diversos fins – tanto para o bem quanto para o mal, como manipulação de informação, ou o que conhecemos hodiernamente como fake news – evidenciado pela tentativa de exercer um controle sobre ela. Toda essa introdução sobre a importância da mídia e o seu poder nos serve de subsídio para poder entender a tese principal do autor que é a de analisar o porquê do interesse na mídia e seus meios, o que a IIGD fez para chegar onde chegou e o que está fazendo para se manter e aumentar o seu poderio midiático.

Sendo a mídia uma peça fundamental para a ampliação e manutenção do poder no campo político, o autor defende que após a quebra do monopólio de concessões de rádio e TV em 1988, houve um significativo aumento no interesse dos evangélicos pela política, e o autor buscou também traçar um breve histórico da utilização das mídias de rádio e TV pelos evangélicos. Começando na década de quarenta, a Igreja Adventista foi a pioneira no uso o rádio, mas quem realmente ganhou tração e melhor aproveitou essa mídia foi o grupo pentecostal. Em 1951 desembarca no Brasil a Igreja do Evangelho Quadrangular que traz toda uma experiência que já é comum nos Estados Unidos, o uso do rádio, e a partir daí outras igrejas crescem usando esse meio e aproveitando bem a situação socioeconômica que estava transformando o Brasil na década de cinquenta. É também mérito da Igreja Adventista o uso da TV no meio evangélico, e outras igrejas pegaram carona nessa onda. Mas foi no final da década de setenta e início dos anos oitenta que os televangelistas passaram a investir em candidaturas políticas e um dos motivos desse interesse na política e principalmente pelo poder Legislativo, o autor escreve, “pode ser explicado porque a Constituição de 1988, no seu parágrafo 1º do Artigo 223, estendeu ao Congresso Nacional o poder de outorgar e também renovar concessões de rádio e televisão.” Fica claro aqui a real intenção do envolvimento dos evangélicos na política, isso é evidenciado, segundo o autor, pelo envolvimento desses parlamentares em comissões estratégicas como a CCTCI que é a comissão responsável pelas questões de outorga e renovação. Esse fato pode ser comprovado por dados; em 2004 o número de deputados da chamada Bancada Evangélica que eram titulares na CCTCI era de cinco deputados, no ano de 2004 esse número saltou para dez, o que nos mostra claramente qual é a verdadeira agenda evangélica na política, o autor deixa isso muito claro quando escreve: “lutar por concessões de rádio ou de televisão é uma questão tão estratégica quanto tentar converter novos fiéis para aumentar seus rebanhos.” (p. 57) É um ciclo, conseguir as concessões para aumentar seu poder midiático para ter mais penetração, atingir maior número de fiéis o que consequentemente aumentará o rebanho e esse rebanho servirá para perpetuar o poder da Igreja pois eles são facilmente convencidos a votar nos candidatos indicados pelos líderes religiosos pelo discurso maniqueísta comumente empregado na hora de pedir votos para os candidatos dos líderes evangélicos, e no caso do livro em específico o líder da IIGD.

Para analisar o tema proposto no livro, o autor além de fazer um apanhado histórico sobre o uso da mídia e sua influência em diversas áreas ao longo do tempo, como por exemplo sendo de suma importância para a Reforma Protestante, o autor também buscou analisar o passado do Missionário R.R Soares e também fez uso de diversos conceitos teóricos do campo da Sociologia como os conceitos de habitus, campo, agentes religiosos (sacerdote, profeta, mago), teoria da escolha racional etc. 

No capítulo um, após fazer uma breve introdução sobre o surgimento da mídia impressa, iniciando com a fabricação do papel na China no séc. II, a chegada dessa tecnologia na Europa, até o desenvolvimento da impressão por tipagem por volta do século VIII e as consequentes melhorias nos séculos seguintes, o autor prepara o terreno para o melhor entendimento do leitor sobre a influência dessa tecnologia na sociedade ao longo dos anos e como isso nos ajuda a entender essa relação da mídia com os evangélicos e a política. No princípio, os evangélicos não se preocupavam com assuntos de política mas percebendo a força que a mídia tem para alcançar um número maior de pessoas e a forma como conseguir acesso às mídias, os evangélicos começaram a entrar na política. Em 1988 a constituição estendeu ao Congresso Nacional o poder de outorgar e renovar concessões de rádio e TV e foi então aí que as igrejas evangélicas tomaram gosto pela política, tendo representantes no Congresso Nacional para lutar por concessões de rádio e de TV e levando em consideração o número crescente de evangélicos no Brasil, voto não faltaria e a estratégia usada pelos políticos evangélicos ou os apoiados pelas grandes igrejas é o discurso maniqueísta, que fica evidente na fala do missionário R.R Soares como relatado pelo autor na página 63, onde ele descreve uma fala do missionário em um evento da igreja IIGD em Campinas. Na ocasião o missionário diz que “contava com as orações dos irmãos para enfrentar uma série de provações que estavam levantando-se contra a RIT. Para enfrentar essas provações precisava que os fiéis apoiassem os candidatos [...]” (p. 63). Aqui fica claro o uso da tática do religioso que é fazer com que os fiéis – que conhecem bem os jargões evangélicos – acreditem que há uma batalha a ser travada e que é necessário ter representantes evangélicos no Congresso para frear essas investidas do “inimigo”. E em outra ocasião, registrada no livro, o autor nos apresenta um trecho de uma fala do R.R Soares, quando ele está negociando com um de seus representantes na política e ele fala como vai fazer para convencer os fiéis a votarem no político, ele diz “[...] Eu digo é de Jesus, é de Jesus...”. (p. 62). Novamente o velho discurso maniqueísta. E como sabemos qual a real intenção dos evangélicos na política? O autor fez um minucioso estudo sobre a atuação dos deputados evangélicos na Câmara dos Deputados e encontrou um padrão. Como já descrevi, a partir da Constituição de 1988, o Congresso passou a outorgar concessões de rádio e TV e a comissão responsável por essas concessões é a CCTCI. Interessante notar o aumento no interesse dos políticos evangélicos nessa comissão em particular. Em 2003, o número de titulares dessa comissão era de 51, destes 5 eram da chamada Bancada Evangélica. Em 2006, o número de deputados da Bancada Evangélica saltou para 10 membros titulares. E para corroborar com essa tese, temos algo bastante interessante em um registro da secretária do deputado Jorge Tadeu, quando ela diz “Ele [R.R. Soares] tem muito interesse em questões ligadas à sua TV e suas rádios”. (p. 66) O trecho foi retirado de uma entrevista com a secretária. Ao analisar as atividades do deputado Jorge Tadeu, o autor à princípio não encontrou indícios de participação deste na CCTCI, que é o órgão que trata destas questões, mas na entrevista com a secretária ficou evidente que o R.R Soares utilizava a influência do deputado com ministros afim de “desemperrar alguns processos sobre rádios pertencentes ao Missionário [...]” (p. 65) e em troca, o deputado ganhava exposição ao ser levado pelo missionário a grandes eventos da igreja e até aparições no Programa Show da Fé, exibido em horário nobre. 

No capítulo dois, após um breve relato da infância pobre de Romildo na pequena cidade Muniz Freire no Espírito Santo, sua conversão e mudança para o Rio em 1964, chegamos na parte onde é relatado um novo encontro religioso – o autor descreve que R.R Soares encontrava-se frio na fé nessa época -  que Romildo teve numa igreja que influenciará suas práticas religiosas futuras. A igreja em questão é uma igreja pentecostal liderada por um bispo canadense e onde há práticas de exorcismos, o que é algo novo para Romildo, já que ele vem de uma tradição reformada. É nesse ano também que Romildo tem contato com a literatura que marcará seu ministério, a teologia da prosperidade. Após seis anos na Igreja Nova Vida do bispo canadense McAslister, Romildo, já casado, sai desta igreja juntamente com seu cunhado Edir Macedo e vai para outra igreja, desta outra igreja ele novamente junto com seu cunhado saem e abrem aquela que ficou conhecida como Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Após conflitos internos, Romildo se desliga da IURD e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus, e aproveitando esse contexto é interessante já introduzirmos alguns conceitos teóricos usados pelo autor para analisar essa problemática. O autor introduz o conceito de agentes religiosos – uma tipologia weberiana que foi usada por Bordieu -, que são: sacerdote, profeta e mago. “O sacerdote é o agente da continuidade da burocracia religiosa [...]”, o profeta é “[...] agente da descontinuidade, que, em momentos de crise, portanto, em situações extraordinárias, produzirá [..] uma nova concepção religiosa.” E aqui eu gostaria já de ligar esse conceito às ações de Romildo que juntamente com Edir Macedo saíram da Vida Nova para uma outra Igreja e depois desta para formar a igreja deles para em seguida romper com Macedo e abrir a sua própria igreja, uma ação tipicamente de profeta, ou seja, essa característica de rompimento para a criação de um novo movimento. Após a criação deste novo movimento, a figura do profeta dá lugar à do Sacerdote, o agente da continuidade e nesta nova fase R.R Soares busca estabelecer a ordem e “[...] perenizar um sistema de crenças e ritos sagrados.” (p. 102). E somente para efeito de elucidação, já que também mencionei esse agente, o Mago é definido como “o agente religioso prestador de serviços sagrados que atua de forma autônoma [...]” e este é geralmente combatido tanto pelo Profeta quanto pelo Sacerdote. E agora eu quero mencionar o importante conceito tratado no livro que é o conceito de campo, que é definido como “[...] um espaço de relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais, espaço de disputa e jogo de poder.” (p. 64) e a importância desse conceito para a análise da problemática é o fato de que o campo religioso é marcado por contendas e disputas entre os atores que compõem o campo religioso, ou seja, há uma rivalidade entre as igrejas na disputa pelos leigos, aqueles interessados nos bens de salvação administrados pelas igrejas. E nessa corrida, ganha quem tem mais capital religioso e para conseguir mais capital religioso é necessário usar meios para atingir esses leigos de forma mais eficaz. É aí que entra os meios de comunicação, principalmente o rádio e TV.

No capítulo três é analisado as mídias da IIGD, sua expansão para um conglomerado que abrange diversas mídias (rádio, tv e revistas e jornais impressos) e o projeto do missionário em construir uma rede de televisão que propague os valores evangélicos para “[...] livrar os evangélicos e futuros evangélicos das garras do mal.” (p. 139). Com esse discurso maniqueísta, R.R Soares busca ser uma opção ao conteúdo secular que é oferecido por outras emissoras e dentro de seu grupo midiático e aqui mais especificamente nos programas da RIT, há uma gama de programas que visam atender às expectativas de diferentes grupos. No programa Curso da Fé, o objetivo é “[...] ajudar as pessoas a compreender este assunto que para muitos é mistério – o ministério da fé.” (p. 146) e nesse programa o próprio missionário é o apresentador, ele faz exposições bíblicas mas usa uma linguagem muito simplista e tende a espiritualizar tudo, mas isso é devido ao seu público, composto em sua maioria (80%) por pessoas das classes C,D,E com baixo capital cultural. O autor faz uma comparação com as igrejas históricas que procuram promover estudos mais aprofundados, o missionário traz mensagens simplistas para atingir seu público, que de outra forma não compreenderia. Outro programa analisado foi o CLIPT RIT, “Um programa para quem curte música e vídeo clipes de qualidade.” (p. 150). Foi identificado um conteúdo apelativo que “[...] busca dramatizar situações do cotidiano, como alguém passando dificuldade no trabalho, [...] na vida familiar [...] bem como a mudança imediata após ler a Bíblia ou ir a uma igreja [...]” (p. 150) e, de acordo com o autor, “Essa dramatização de situações, aproximam os receptores da mensagem e os conduzem aos bens de salvação distribuídos pela agência de salvação, no caso a IIGD [...]” (p. 151). Na análise do programa Show da Fé – o que tornou a IIGD muito conhecida pela população brasileira – nota-se uma ênfase na supervalorização do testemunho e em decorrência disso o autor buscou entender como o testemunho dá credibilidade à oferta religiosa. Para responder essa questão, o autor aplicou a teoria da escolha relacional usando o axioma 2 da teoria da religião de Stark e Bainbridge, ele escreve “[a] teoria da escolha racional diz que os seres humanos buscam o que percebem ser recompensas e evitam o que percebem ser custos.” (p. 173), ou seja, tentando resumir o argumento da análise do autor de todos os axiomas citados no livro, o ser humano este em uma constante busca pela resolução de seus problemas mas ao mesmo tempo ele não quer perder tempo com tentativas, então aquilo que para ele parece ser um método testado – e isso é atestado através do testemunho – faz com que ele se convença da eficácia daquele método, e como aqui estamos falando dos bens de salvação administrados pela IIGD, ele acaba virando um “cliente”, e é esse o objetivo da IIGD, com todo seu discurso maniqueísta, atrair expectadores para suas programações, prendê-los nessas programações e expô-los aos produtos ali oferecidos, como ficou evidente no caso do CLIP RIT. Fica evidente aqui uma segunda agenda por trás do discurso de “defesa da família” ou de ser uma alternativa ao conteúdo destrutivo das emissores seculares, que é o objetivo de aumentar ainda mais seu poderio midiático, cativar essas pessoas e torna-la clientes.

No capítulo quarto e último do livro, o autor buscou analisar a influência do poder midiático da IIGD sobre outros grupos religiosos e em especial sobre os presbiterianos. Para isso o autor fez uma pesquisa de campo com um número pequeno de presbiterianos do interior do estado de São Paulo, por ser um número de amostragem pequeno, o autor deixa claro que não tem pretensões de estabelecer um padrão estatístico, tão somente quis analisar algumas marcas da força de penetração midiática da IIGD. Analisando os dados dos entrevistados, o autor percebeu que a estratégia do missionário tem surtido efeito pois ele conseguiu penetrar e atingir até o público das igrejas históricas, quando perguntado, cerca de 40% dos entrevistados disseram que assistiam o programa Show da Fé pelo menos uma vez por semana e do total dos entrevistados (entre os que assistiam apenas uma vez até os que assistiam mais vezes) 17,5% dos entrevistados disseram que já chegaram a assistir a alguma programação da RIT TV, que não é conhecida como a Band TV, canal que veicula o programa Show da Fé. Entre outros dados, fica claro de que a estratégia do missionário e o seu estilo mais palatável – muito diferente do estilo polêmico do Edir Macedo - atinge a um público que parece não perceber as diferenças teológicas entre sua denominação e aquela do missionário. Vale ressaltar também que 10% dos entrevistados já compraram produtos oferecidos durante a programação e 72,5% disseram que comprariam algum produto anunciado, mostrando que não há um preconceito denominacional, ponto para a estratégia do R.R Soares. Caminhando já para o final do livro duas coisas que chama a atenção é o conceito de dupla pertença e a questão da criação de uma identidade “evangélica”. A dupla pertença é a ideia de um indivíduo que está ligado formalmente à uma instituição através de batismo, profissão pública da fé e devoção de seu tempo às atividades da igreja, mas que busca complementar isso assistindo, por exemplo, a cultos na TV ou no rádio mesmo que seja de outras denominações ou igrejas. Falando em denominações, o autor pôde perceber que 82,5% dos entrevistados são alheios às reduções denominacionais e 80% podiam perceber diferenças em questões doutrinárias do R.R Soares mas não sabiam dizer quais. E isso nos leva ao segundo ponto que é a identidade evangélica. Entre os pastores e teólogos há claras distinções teológicas entre as diversas denominações, mas entre os fiéis isso não fica muito claro. Há certamente uma diferença entre o católico e o não católico e para preencher esse vácuo, em nome de uma identidade nacional, adotou-se o termo “evangélico” que abarca todos esses grupos, que apesar das diferenças teológicas, que de alguma forma têm um pouco da herança da reforma protestante. Interessante notar é que essa identidade evangélica é o que possibilita a sobrevivência tanto do R.R Soares quanto de outros players no mercado religioso evangélico no Brasil. E por último, o missionário R.R Soares como todo seu carisma, prédica monótona e “clean” tornou-se palatável para o público evangélico, seja ele histórico ou não e seu sucesso acabou influenciando outros televangelistas que copiaram seu modelo e um bom exemplo é o Valdomiro Santiago, que, apesar de ter vindo da IURD, adoto o estilo “Soares” de fazer televisão.

Como vimos ao longo dos quatro capítulos deste livro, o autor tratou de traçar as origens da mídia e as influências que a mídia exerceu ao longo dos séculos e como esta vêm sendo usada hoje no meio evangélico como uma ferramenta de expansão e perpetuação de poder. É inegável hoje que grupos evangélicos exercem grande influência na política nacional e isso se deve ao poder midiático que esses grupos conseguiram ao longo dos anos através do envolvimento na política com base na barganha. O autor desmitificou o discurso comumente utilizado pelos líderes religiosos para angariar votos, como o discurso maniqueísta de uma batalha travada pelas hostes do mau contra os valores da família e contra o povo de Deus, quando na realidade, uma vez no poder, a atuação dos políticos que têm ligação com estas igrejas é totalmente voltada para os interesses desses líderes religiosos.

domingo, 20 de outubro de 2019

Amar também é servir


O tema de mensagens desse mês na igreja que congrego é: Bacia e Toalha, e se propõe a falar sobre servir o próximo. Bacia e toalha nos remete ao relato escrito no livro de João no capítulo 13 onde o nosso Senhor Jesus lava os pés dos discípulos num ato de humildade, pois ele como Senhor estava se submetendo àquele trabalho. Naquela época era algo comum lavar os pés daqueles que estavam em sua casa, o senhor da casa designava um servo para lavar os pés dos convidados. É bom lembrar que naquela época não tinham estradas nem muito menos veículos como temos hoje e as pessoas caminhavam muito e como usavam sandálias, os pés ficavam sujos e o ato de lavar os pés dos convidados era um ato de quem diz “seja bem-vindo”. Em Lucas 7:44, no relato da mulher que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos, Jesus fala ao fariseu que o recebeu que este não trouxera água para seus pés. Fica aqui mais uma evidência dessa prática nos tempos de Jesus.

Pois bem, todos conhecem o mandamento “amar o seu próximo como a si mesmo”, é muito fácil falar, mas como expressar isso na prática? Você lembra qual foi a última vez que você falou eu te amo para um amigo? Eu me lembro, faz muito tempo, mas não é algo tão fácil, soa estranho as vezes né, falar que você ama sua esposa, seus filhos, é fácil, mas falar para um amigo não é tão fácil assim, não é mesmo? Mas é um dever nosso amar nossos irmãos em Cristo e amigos, as vezes isso significa dizer “eu te amo”, afinal a gente nunca sabe se ele ou ela estará com a gente amanhã. Mas o que eu quero falar é sobre servir, que é também uma forma de amar. Afinal, dizer eu te amo e não expressar isso de forma prática, parece mais algo falso como alguns relacionamentos que vemos hoje, onde a pessoa fala eu te amo hoje e está traindo seu ou sua companheira amanhã. Então nós temos que demonstrar esse amor servindo nossos irmãos, temos que estar não somente atentos, mas também disponíveis para conversar e ajudar no que for preciso, claro que dentro de nossas possibilidades. Não é a toa que os evangélicos hoje são tachados de hipócritas por pregarem algo que eles não vivem, claro que estou aqui generalizando, mas sempre há esses casos.

Mas o que é servir e como servir? Eu gosto de pensar que enquanto estamos aqui na terra, estamos em missão, e nossa missão é proclamar as virtudes de Deus, como nos escreve o apóstolos Pedro, ele diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9), e como fazemos isso? Apenas pregando? Falando que Jesus é bom que Deus é aquilo que vai resolver todos os seus problemas? Não, nós temos que demonstrar essa mudança na prática, senão vamos cair naquilo “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”, ou seja, temos que estar atento às oportunidades para ajudar nossos irmãos, amigos, parentes, mesmo que eles ainda não conheçam a verdade que é Jesus Cristo, e quem sabe através desse nosso comportamento, de nossos atos, essas pessoas possam ver Jesus atuando através de nós e assim venham a conhecer a verdade. Infelizmente, há grupos religiosos que criaram essa ideia que a única maneira de fazer a obra de Deus é sendo um pastor, pregador, diácono na igreja, missionário, não, não é isso, todos nós somos sacerdotes como está escrito no texto que mencionei do apóstolo Pedro, basta a gente ter essa noção de que estamos pregando Jesus em nossas ações. Me lembro de um caso que ouvi de um médico que era um pouco frustrado por não conseguir fazer missões, pois na cabeça dele fazer missão é ir para outro lugar e pregar o evangelho, mas após participar de um seminário sobre esse assunto, ele descobriu que ele pode fazer missões no seu trabalho. A partir daquele dia, ele entendeu, e sempre que acabava o seu plantão ou expediente normal, ele dedicava um tempo a mais para atender a mais pessoas de forma voluntária, ele estava fazendo missões. Tiago escreve em sua carta que “se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentro vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (Tg. 2:15-16), o que Tiago está dizendo aqui é que se alguém chega pra você falando que está com fome e você diz “olha irmão, vou orar pra você e Deus vai mandar alguém te abençoar”, de nada serve essa sua fé que você diz que professa, talvez você era a providência para essa pessoa, nós é que muitas das vezes somos insensíveis e até pão duro também, sem fé, achando que se a gente der algo vai faltar para nós, isso é atitude de quem não conhece a palavra e nem o poder de Deus.

Quando eu olho para alguns dos personagens bíblicos, eu vejo missionários, homens com uma missão divina. Veja Abraão. Deus tirou Abraão de sua terra e o mandou para uma terra desconhecida e longe e falou para Abraão que dele seriam benditas todas as nações, e de fato, Jesus, nosso salvador veio da linhagem de Abraão. Davi por outro lado, teve outra missão, assim foi com os profetas, e alguns até morreram por isso, os reis, enfim. Cada um tinha uma missão específica. Nós também temos uma missão, que é proclamar as virtudes de Deus para aqueles que ainda não conhecem a verdade. É verdade que Deus separa alguns para serem pastores, evangelistas, diáconos, sim, mas isso não isenta nossa responsabilidade de amar e servir o próximo. Então essa é a mensagem que eu quero deixar aqui hoje. Amemos uns aos outros e ajudemos uns aos outros.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Atualização sobre o artigo "Você é crente mesmo?"

Eu pensei em deletar e reescrever o artigo em questão <Você é crente mesmo?>, pois com o tempo a gente acaba ficando mais maduro e tendo mais conhecimentos acerca de determinados temas ao ponto de ter que mudar certas concepções, mas esse é um processo contínuo, não tem fim, então se eu tivesse que deletar tudo que já escrevi algum dia, iria acabar não tendo nenhum registro. Fato é que isso aconteceu com grandes teólogos como Agostinho de Hipona e Martinho Lutero onde há uma clara evidência em seus escritos ao ponto de se referirem à eles como "o Lutero jovem e o Lutero velho" para diferenciar o período em que estes mudaram algumas pontos. Um bom exemplo disso, citando Agostinho, é o fato dele ter mudado sua interpretação de 1 Tm 2:4 depois de ter formulado a doutrina da predestinação.

Pois bem, depois dessa justificativa vamos ao que interessa. No artigo eu discorri basicamente sobre o que é ser um verdadeiro crente (e aqui não falo apenas de protestantes, católicos também são crentes em Jesus[1]) e eu enfatizei o fato de ter de pertencer à alguma denominação e talvez a impressão que eu tenha deixado é a de que somente a igreja salva, se foi essa a impressão não é a minha intenção, pois quem salva é a graça de nosso bom Deus (Ef. 2:8-9). Talvez o que eu tenha que enfatizar são os frutos do salvo[2], o verdadeiro crente e não o fato de este frequentar um templo, pois há uma grande confusão em relação a esses termos, igreja x templo. Para mim a forma mais fácil de exemplificar é este: o templo é onde a igreja (povo de Deus) se reúne. Se a gente não dissociar templo de igreja, fica um pouco perigoso pois, imagine que você vai para algum país bem pobre na África onde há poucos recursos, e através do seu trabalho missionário o Evangelho converte algumas pessoas ali, se não tiver um templo elas não serão salvas? Vale lembrar que as igrejas na era apostólica se reuniam em casas e também a igreja Assembléia de Deus também começou numa casa, já que os missionários estrangeiros foram "expulsos" da Igreja Batista que os acolheu, mas não aceitavam essa doutrina do Batismo com o Espírito Santo que eles estavam pregando.

Que fique claro que minha intenção não é a de afirmar que somente aquelas pessoas que estão frequentando um templo físico serão salvas, mas a Bíblia sagrada nos dá clara instruções - como deixei claro no artigo - para que a gente esteja em comunhão e isso é costumeiramente feito num templo onde o povo de Deus se reúne, mas tenho certeza que hoje ainda há muitas igrejas que se reúnem em casas como é o caso de uma pequena congregação pentecostal do lado de onde moro, não é porque eles não têm um templo bonito que eles estejam "fora" dos padrões, talvez estão fora dos padrões que a gente acha que deva ser o certo, mas não o padrão bíblico. Infelizmente há ainda quem ensine que há uma necessidade de um local específico com uma arquitetura característica para que seja considerado "igreja". Oremos.

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[1] apesar de os católicos mais extremos afirmarem que somente a ICAR é a Igreja verdadeira e somente lá há salvação, eu não sou obrigado a compartilhar dessa visão e em retaliação dizer que somente os protestantes serão salvos, pelo contrário, eu creio sim que os verdadeiros crentes em Jesus da ICAR serão salvos e como também há joio entre os evangélicos, também há por lá também.
[2] falo aqui salvo para não repetir o termo crente, sei que há todo um debate sobre se o salvo perde a salvação ou não, mas não é a intenção deste autor entrar nessa discussão.

Apenas uma pequena observação, aqui e em outros artigos meus eu falo algumas coisas que de acordo com a norma acadêmica eu deveria citar as fontes, e eu faço em certos casos, mas aqui eu não tenho a intenção alguma de estar dentro dessa norma sem contar que dá um trabalho danado ficar procurando as fontes e fazer as citações dentro do padrão.

sábado, 12 de outubro de 2019

Leituras obrigatórias do curso de Teologia no Mackenzie

Acabou a primeira etapa de provas e vamos para o segundo bimestre. Nesse bimestre houve um aumento na carga de leituras. Abaixo eu deixo as leituras obrigatórias que temos e as complementares, isto é, eu leio por conta própria livros que considero relevantes para o entendimento das matérias que estou estudando na faculdade.

As leituras obrigatórias são avaliadas pelo professor, temos que fazer ou uma crítica ou uma resenha para avaliação, não é uma simples leitura rasa, é preciso aprender de verdade. Alguns livros lemos por inteiro e outros partes selecionadas pelo professor. A medida que for fazendo, postarei aqui o resumo/resenha dos livros.

Leituras obrigatórias pro bimestre:

Idade mídia evangélica no Brasil. (Gerson Leite de Moraes)
O calvinismo. (Abraham Kuyper)
Ética protestante e o espírito capitalista. (Max Weber)
A vida diária nos tempos de Jesus. (Henri Daniel-Rops)
Cândida, Como analisar narrativas. (Cândida Vilares Gancho)
O sagrado. (Rudolf Otto)

Complementares:

A Bíblia e seus intérpretes. (Augustus Nicodemus)
Entendes o que lês? (Gordon Fee, Douglas Stuart)
Introdução Bíblica. (Norman Geisler, William Nix)
As ciências das religiões. (Giovanni Filoramo, Carlo Prandi)

sábado, 22 de junho de 2019

Combatendo o bom combate

Todo mês nossa igreja trabalha com um tema para o círculo de oração, o tema desse mês é "Combatendo o bom combate." e a cada mês eu preparo uma mensagem com fins educacionais, porém nunca havia publicado. Este mês resolvi publicar.

Combatendo o bom combate

Antes de mais nada é necessário definir o significado de combate e contextualizar isso em nossas vidas. Quando se fala em combate logo vem à mente uma luta, armada ou não, entre indivíduos, nações ou grupos, mas o que isso significa na vida do cristão uma vez que "a nossa luta não é contra o sangue e a carne" (Ef. 6:12)? Embora não tenhamos inimigos físicos, pois, Jesus nos ensina a amar o próximo (Jo 13:34), eu quero definir aqui o combate como nossa luta diária contra as diversas dificuldades que passamos ao longo de um dia e focar mais especificamente em afrontas; xingamentos, muitas vezes no trânsito, panelinhas em ambiente de trabalho, intrigas com parentes. São esses os cenários que eu quero abordar. Então resta a pergunta: como o cristão deve reagir diante desses cenários?

Eu gosto muito de exemplos e estórias, acredito que esses recursos ajudam a fixar um conceito em nossa mente. Refleti bastante sobre o tema tentando ver qual personagem bíblico poderia nos demonstrar através de seu procedimento como proceder em situações parecidas e me veio à mente um episódio específico da vida de Isaque.

O episódio em questão encontra-se no capítulo 26 do livro de Gênesis. Quando sobreveio uma fome à terra em que Isaque habitava, ele não teve outra escolha senão mudar-se dali e foi ter com Abimeleque em Gerar e ali ficou (v. 6). Deus foi muito generoso com Isaque e este prosperou muito naquela terra (v. 12-13) e isso acabou fazendo com que os habitantes dali tivessem inveja de Isaque chegando ao cúmulo de entulhar os poços que Abraão, seu pai, havia cavado. Abimeleque também não estava nada contente com a prosperidade de seu hóspede e pede para que ele saia da terra. Aqui temos a primeira lição; Isaque prosperou de tal maneira que ele já era maior do que o próprio rei. Isaque poderia muito bem usar seu poderio para, ao invés de sair de lá, reinar naquela terra no lugar de Abimeleque, mas ele tinha noção de que ele não pertencia àquele lugar e que ele estava ali como forasteiro. Ele simplesmente evitou contenda e foi para longe dali (v. 17). Porém, ao chegar lá Isaque reabriu os poços que seu pai Abraão havia cavado e os habitantes de lá entulhado, e isso aconteceu mais outra vez e novamente aprendemos com o temperamento de Isaque que não vale a pena a contenda. Como eu já falei, Isaque poderia ter aproveitado de todo o seu poderio e ter destronado Abimeleque e reinado em seu lugar ou nessas duas outras ocasiões ter simplesmente matado os que lhe causaram problemas com os poços, mas não, ele apenas deixou a contenda de lado e seguiu sua vida e aprendemos no verso 22 que ele encontrou seu lugar, cavou outro poço e ali não contenderam com ele, tanto é que ele batizou o lugar de Reobote (רְחֹבוֹת) que e uma tradução livre quer dizer "lugares amplos", e o mais importante é que ele reconheceu que o SENHOR que lhe havia preparado este lugar.

Em momentos de angústia e desespero é comum questionarmos o porquê das coisas. As vezes só olhamos pelo lado negativo e nunca pelo positivo. Eu gosto de pensar que se algo não deu certo é porque Deus tinha algo melhor para mim ou que aquilo ou aquela situação foi um livramento da parte de Deus, pois "sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8:28) e Isaque sabia disso, ele também sabia que "os que confiam no SENHOR são como o monte sião, que não se abala" (Sl. 125:1) e aqui é a segunda lição dessa mensagem: confiar no SENHOR. A primeira lição é não entrar em contendas e a segunda é confiar no SENHOR.

Não adianta nem orar "Senhor não permita que eu passe pela tempestade", pois as provas virão. Pedro escreve "se necessário, sejais contristados por várias provações" (1 Pe 1:6) e Paulo vai além quando escreve: "mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança." (Rm 5:3-4). Olha que interessante, eu já ouvi isso uma vez, diz o ditado que a prova, ou deserto, é a faculdade do crente, pois é no deserto que aprendemos muitas coisas, e uma delas é depender de Deus. Tem gente que acha que depende de Deus só nas grandes causas, nas causas impossíveis, mas não é isso que Paulo ensina quando diz "em tudo dai graças, porque está e a vontade de Deus em Cristo" (1 Ts 5:18), em tudo nós dependemos de Deus, até para respirar. E Deus pode permitir certas situações para nos ensinar a sermos mais dependentes dele, para aprendermos que é Ele que no sustém, como escreveu o salmista no Salmo 54:4.

Para finalizar quero fazer uma reflexão de duas passagens de um dos cânticos de Davi que se encontram tanto em 2 Samuel 22 quanto no Salmo 18. Davi diz "Deus é a minha fortaleza e a minha força, ele perfeitamente desembaraça o meu caminho." (2 Sm 22:31) e mais atrás ele diz que "O caminho de Deus é perfeito" (v. 31), note que a princípio há uma desarmonia entre "o caminho de Deus" no verso 31 e o "meu caminho" no verso 33, porém a chave está na ação de Deus no verso 33, Davi diz: "ele perfeitamente desembaraça o meu caminho." Imagine que nós estamos sempre tomando importantes decisões; não falo daquelas decisões do tipo: hoje vou comer frango ou carne de boi no jantar? Falo de decisões como, mudar de trabalho, mudar de bairro ou de cidade, em que escola matricular os filhos e por aí vai. Agora imagine que acada estágio, ou quando nos vemos diante de tais situações onde tenhamos que tomar uma decisão, essa situação seja representada por uma parede com várias portas, cada porta representando uma opção, tem portas bem ornamentadas e outras com uma aparência nada chamativa e cada uma com seus prós, contras e dificuldades. Você quer entrar pela porta mais bonita, que na sua mente é a melhor opção, porém você não consegue abrir a porta e ao seu lado tem aquela porta que você nem considerou por achar que não era boa o suficiente e de repente ela se abre. Você estava lá há um tempo tentando abrir aquela porta bonita e nada, e abre-se essa outra porta. Nessa ilustração, essa porta que se abriu foi Deus mostrando o caminho para você. Você não acha que é por ali, mas Deus está mostrando o caminho como Davi fala. Ele está desembaraçando e você deve confiar nEle. Não entre em contendas e confie no Senhor.

Você é crente mesmo?

A empresa em que trabalho tem um escritório dentro do nosso fornecedor, e certo dia fui pedir ajuda a um dos funcionários de lá e notei uma pequena agenda com o símbolo da igreja adventista. Certo dia quando esse mesmo rapaz foi na minha mesa eu perguntei se ele era adventista, ele disse que não, que o chefe dele que era adventista mas me falou que também era cristão, perguntei então em qual igreja ele congregava e ele me disse que não congregava em nenhuma igreja; falei pra ele de Hebreus 10:25 que o Senhor diz para que "Não deixemos de congregar-nos [...]", mas a conversa ficou por ali.

Isso me fez pensar e resolvi escrever sobre o assunto. O fato de alguém crer na existência de Deus não é garantia de sua ida pro céu e eu quero escrever aqui o porquê. Uma passagem esclarecedora para provar essa tese é aquela passagem no evangelho de Mateus em que Jesus diz "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." (Mt. 7:21). Nos dias de hoje é comum a frase "Deus no comando", mas parafraseando o Senhor Jesus, não é porque você fala "Deus no comando" que, quando morrer, você irá estar junto ao Pai, para que isso aconteça, é preciso nascer de novo (Jo 3:3). Mas você pode se perguntar: como nascer de novo? Primeiro é preciso confessar que Cristo é o Senhor (Rm 10:9) e se despojar do velho homem (Ef. 4:22) e se revestir "do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. " (v. 24), porque "fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que [...] assim também andemos nós em novidade de vida." Andar em novidade de vida significa deixar os velhos hábitos (1 Pe 1:14) e buscar ter uma vida de santidade (v. 16) e obediência, pois assim o nosso Senhor nos ensinou quando disse "se me amais, guardareis os meus mandamentos." (Jo 14:15).

O problema de não abrir a bíblia é não saber o que Deus quer de nossas vidas, e está tudo escrito lá. Pense num pai que fala aos seus filhos que quando ele morrer, sua herança ficará com os filhos, mas para isso cada um tem que cumprir alguns requisitos. Um dos filhos, porém, crendo que seu pai não estava falando sério e o incluiria no testamento de qualquer maneira por ser seu pai, nunca quis perguntar ao seu pai quais eram esses requisitos. Certo dia o pai morre e o advogado liga para todos os filhos afim de anunciar-lhes o que o pai havia deixado para cada um; o filho desinteressado ficou sem herança e irado com a situação perguntou ao advogado o porquê, o advogado falou que cada filho tinha que ligar para seu pai no primeiro dia do mês e falar "eu te amo", era só essa a condição, mas como o filho nunca ligara nem sequer queria saber quais eram as intenções, ficou de fora da herança. Você pode estar pensando "que pai mal!", mas eu te digo, mal não foi o filho que nunca quis saber o que agradava seu pai que tanto o amou?

"Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou." (1 Jo 2:4-6).

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Pode beber; mas convém?

Em um debate de ideias com um irmão em Cristo sobre a questão da bebida alcoólica, ele fez alguns apontamentos e eu procurei em forma de diálogo mostrar à luz da bíblia as fraquezas de seus argumentos ao insistir na não-ingestão da bebida alcoólica por parte do crente, desta vez usando o argumento de que não convém. Deixo bem claro minha intenção que é de apenas mostrar as fraquezas lógico-argumentativas dos que dizem que a bíblia proíbe o consumo e não fazer apologia ao consumo.

Convém

O primeiro questionamento foi em relação à conveniência [se convém o crente beber]. Essa reposta só convém ao próprio indivíduo. Se ele já foi viciado, não convém, se ele não sabe se controlar, não convém. Agora se ele é como eu que nunca - antes de conhecer a palavra - teve problemas com o álcool, ou seja, não bebia para ficar dando trabalho, bebia apenas com fins recreativos, pois tudo o que Deus criou é bom (1 Tm 4:4), então não vejo motivos para a proibição. Como eu já mencionei aqui minha briga não é com o ato mas sim com os argumentos! Você pode elencar inúmeros motivos pelos quais alguém deveria se abster do álcool, só não faça uma exposição seletiva dando a entender que Deus abomina quem bebe um vinhosinho.

Aqui vai mais algumas recomendações paulinas acerca do tema em pauta. Paulo escreve para Timóteo que algumas pessoas iriam dizer que não seria lícito o consumo de certos tipos de alimento [nesse caso, o vinho], mas ele deixa bem claro que "tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável"[1], mas vale as outras orientações que [acho que] deixei claro no primeiro texto, como por exemplo se o teu irmão não é muito a favor e se escandalizaria, é melhor que não faça na frente dele (1 Co 8:13) e também se alguém tem algum tipo de fraqueza ou já foi liberto do vício, é bom também que se abstenha para não deixar ser dominado pela bebida (1 Co 6:12). Dentro desse contexto o cristão vai decidir se convém ou não e respeitando todas as recomendações já descritas.

Levantou-se a seguinte questão: Deus criou a uva e não o processo de fermentação. Quanto à esse questionamento eu me pergunto: o vinho era tão bom assim que trazia tanta alegria ao coração do homem ao ponto de ser o único tipo de suco que é mencionado em um salmo? (Sl. 104:15). Seria bem intrigante imaginar que Deus não sabia que iriam aprender a deixar a uva fermentar para virar uma bebida tão maravilhosa que é o vinho.

Sobriedade

Também foi levantado o questionamento sobre a sobriedade, uma vez que Pedro nos exorta a sermos sóbrios e vigilantes (1 Pe 5:8). A palavra traduzida como sóbrio, no Grego é νήφω (néphó #3525), cujo significado é sóbrio, no sentido de não estar intoxicado com álcool e também estar em estado de alerta (mente). Tanto é que na NIV (NVI versão em Inglês) nós lemos "Be alert and of sober mind", que em uma tradução livre seria "esteja alerta e com a mente sã [ou sóbrio de mente, mas não soa bem]". Então com base nisso, se eu quiser aqui inferir que Pedro estava falando para ficar sem beber, isso só me leva a crer que era um costume para àqueles cristãos ficarem em um estado de embriaguez, afinal não faz sentido eu falar para meu amigo "se for dirigir, não saia sem o capacete", uma vez que somente pilotos de corrida de alta velocidade usam capacete no carro, então o comando só faz sentido se estiver dentro de um contexto já conhecido, caso contrário ele vai olhar pra mim com uma cara de desentendido e perguntar "pra quê capacete?". Outro ponto em relação à essa interpretação é que a palavra νήφω é usada 6 vezes no novo testamento (1 Ts 5:6,8, 2 Tm 4:5, 1 Pe 1:13, 4:7, 5:8) e nem em todas elas tem a ver com bebida ou álcool.

Timóteo cachaceiro. 

Seguindo a lógica de que Pedro nos exorta a sermos sóbrios, ou seja, nos abstermos do álcool, então eu posso concluir que Timóteo era um bebum, pois Paulo dá o seguinte comando para Timóteo: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições [...]" (2 Tm 4:5). Sê sóbrio, ou seja, "não beba"? Primeiro, se eu interpretar sobriedade aqui como abstinência do álcool, eu só posso concluir que Timóteo era dado ao vinho, portanto inapto ao ministério (1 Tm 3:3), e segundo, porque não faria sentido você falar para alguém que não bebe, não beber, por exemplo, seu filho de 10 anos vai para a escola e você fala para ele: "filho, não quero que você chegue em casa da escola bêbado." Faz sentido esse comando ou exortação? Dito isto, eu só posso concluir aqui duas coisas: a primeira que sobriedade aqui não tem a ver com bebida, e segundo que se alguém insistir nessa questão, vai ter que explicar a harmonia desse versículo com 1 Tm 3:3, onde o apóstolo deixa claramente que o presbítero/diácono não pode ser dado ao vinho.

Conclusão

Aqui novamente eu descrevo o meu pensamento sobre isso. Se você nunca teve problema com o álcool, porque vai ser agora que terá? Acaso o diabo vai fazer você se viciar? Sejamos sóbrios em relação à esse assunto. Eu ia escrever aqui "beba para Glória de Deus", mas no mesmo instante me perguntei como tomar uma taça de vinho iria glorificar a Deus, mas lembrei que a resposta está acima, onde Paulo fala para Timóteo que tudo que Deus criou é bom e onde o salmista escreve que o vinho alegra o coração do homem. O mesmo podemos dizer do sexo, Deus é glorificado no ato sexual? Desde que esse seja feito dentro do propósito criado por Deus (Hb. 13:4), sim, Deus é glorificado. Sejamos responsáveis e não seja pedra de tropeço pro seu irmão (1 Co 8:12).

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[1] Alguns já quiseram usar esse texto para dizer que maconha pode ser consumida, mas isso não pode ser assim, pois há outros versículos que nos explicam o porquê. Primeiro a ilegalidade da substância (c.f 1 Pe 2:13, Rm 13:1-2), segundo que ela vicia (1 Co 6:12).

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Oração de madrugada tem mais poder. Desmistificando o mito farisaico

Existe uma prática no meio evangélico que é orar de madrugada. Confesso que eu já cheguei a acordar às 3h da madrugada para orar, foi bem no início da minha caminhada com Cristo. Com o tempo eu comecei a questionar a prática, eu não entendia o motivo, se Deus fez a noite para dormir, porquê  ele exigiria de nós esse esforço [desnecessário] para falar com ele sendo que ele é onipresente? Ou seja, ele nos ouve a qualquer hora do dia.

Na tentativa de me darem uma resposta plausível, as respostas eram das mais variadas, desde Provérbios 8:17, que entrarei em detalhes depois, até o fato de a madrugada ser mais silenciosa, que também não achei coerente uma vez que as orações na igreja não são nada silenciosas.

Há uma certa crença, mesmo que inconsciente, de que ao orar de madrugada sua petição terá uma maior chance de ser atendida ou que a oração tem mais poder. Estou generalizando, eu sei, há quem se acostumou à prática, por talvez ter descobrido que isso não é um mandamento tempos depois mas mesmo assim continuou a orar nas madrugadas, mas também há ainda quem creia que realmente há um mistério por trás da oração na madrugada.

Como eu sou adepto da sola scriptura, minha base é a bíblia e não testemunhos de experiências sobrenaturais que porventura tenham acontecido nesses horários [usam Jr. 33:3, mas depois eu desmistifico isso também em outro artigo], ou que seu pedido fora atendido somente por causa da oração na madrugada, contra esse argumento eu tenho vários casos bíblicos. Vamos a eles.

O primeiro é a noção de que é um mandamento orar de madrugada, tomando como base Provérbios 8:17. Eu só achei uma versão que traz essa tradução, a Almeida Revista Corrigida traz "Eu amo os que me amam, os que de madrugada me buscam me acharão." A ACF traz "os que cedo me buscam" e outras como NVI, ARA não traduziram dessa forma. A palavra no original traduzida como "cedo" ou equivocadamente "madrugada" é שָׁחַר (shachar #7836) e essa palavra tem 12 ocorrências no Antigo Testamento (Jó 7:21, 8:5, 24:5, Sl. 63:1, 78:34, Pv. 1:28, 7:15, 8:17, Is. 26:9, Os. 5:15). Analisando cada uma das passagens em questão pude notar que seu significado mais comum é procurar ou procurar com diligencia ou ansiosamente, como é o caso do Salmo Sl. 63:1. O que o Provérbio em questão quer dizer é que nos devemos fazer uma busca sincera, verdadeira, com ansiosidade e diligência. Se você acorda de madrugada para tentar impressionar Deus, você está fazendo errado ou se você ora de madrugada para falar para os seus irmãos que você tem tanta intimidade assim com Deus que faz esse esforço, sinto muito, você não passa de um fariseu hipócrita (Mt. 6:5), palavra de Jesus.

Exemplos na Bíblia

Com os exemplos tirados da bíblia eu quero tentar te fazer entender que não existe um modo específico para ganhar pontos com Deus e fazer com que ele conceda sua petição. Você deve conhecer o relato de Davi e a mulher de seu soldado Urias. Pois bem, Davi pegou esposa do cara e depois fez com que ele morresse (2 Sm 12:9) e por este motivo Deus castigou Davi matando o seu filho com Bate-Seba (v. 15). Mesmo assim Davi fez súplicas e jejuou tentando fazer com que Deus se compadecesse com ele e não permitisse que a criança morresse (v. 22), mas não adiantou pois prevaleceu a vontade de Deus. O que isso nos ensina? Não adianta barganhar com Deus, subir o monte de cabeça pra baixo, ficar 40 dias deitado numa rede só tomando água e orando no monte ou acordar às 3h e ficar até às 6h orando, senão for da vontade de Deus, seu pedido não será atendido.

Vejamos outro exemplo totalmente contrário à esse. Ezequias adoeceu de morte (2 Rs 20:1) e Deus mandou o profeta falar para Ezequias por a casa em ordem que ele iria descer a sepultura. Ezequias se pôs a chorar e fazer súplicas em uma curta oração de 25 palavras (v. 2) e Deus o escutou, falou para o profeta voltar e dizer a Ezequias que ele seria curado (v. 5). Não foi pra o monte, não fez voto nem jejuou e mesmo assim Deus atendeu à sua oração. Alguns dizem que tem que pedir com fé, senão Deus não atende, citando Mateus 21:22, mas essas pessoas nunca levam em consideração o contexto ou a bíblia como um todo, o que o relato de Ezequias nos ensina é outra coisa, nós vemos que Ezequias ainda duvidou da palavra do profeta (v. 8) mas mesmo assim ele foi curado (v. 11), pois prevalece a vontade do Pai (Mt. 6:10). Há certas coisas que Deus faz para aumentar a nossa fé, e não em troca da nossa fé. É verdade que "sem fé, é impossível agradar a Deus" (Hb. 11:6), mas nem por isso ele deixará de nos conceder a sua graça (Mt. 6:11)

E o que falar de Paulo? Você acha que Paulo deveria ter subido o monte a ver se Deus tiraria o espinho da carne dele? (2 Co 12:7-8) Será se faltou fé da parte de Paulo? O que dizer de Timóteo? Por que Paulo não curou Timóteo? Afinal de contas, Paulo foi muito usado em cura (At. 14:10, 16:18, 20:10, 28:8), então ele poderia simplesmente ter curado Timóteo, não acham?

Para responder essas perguntas, quem melhor senão João. Na sua primeira epístola João escreve "E está é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve." (1 Jo 5:14).

O que é a madrugada?

Outro mito é em relação a "hora perfeita". Se você perguntar para um crente qual o horário em que ele acorda para orar na madrugada a resposta será rápida: às 3h. Agora quem foi que definiu esse horário? Qual o conceito de madrugada?

Madrugada, de acordo com o Michaelis [1] a madrugada é "o período de tempo entre a meia-noite até o nascer do Sol; madruga." Ou seja, o certo seria então no meio da madrugada já que geralmente o sol nasce às 6:00, dependendo de onde você mora, então o meio da madrugada seria às 3h. Crente, se você acordar às 5:30 pra orar, então você estará respeitando "a regrada de ouro" da oração "forte". Aproveite e já fique acordado até a hora de ir trabalhar e fique lendo a bíblia ou algum livro de teologia para aprender mais.

Minha consideração final

Se você está se perguntando sobre os versos nos evangelhos em que Jesus fala que tudo o quanto pedirmos ele fará, ou tudo que pedirmos com fé ele atenderá, não vou entrar em muito detalhe aqui, eu fiz um estudo sobre essa questão e você pode acessá-lo clicando nesse link. E para finalizar eu digo o seguinte, se você quer acordar de madrugada por ser mais calmo, mais tranquilo, que o faça, mas não diga que se você orar de madrugada Deus atenderá mais rápido sua súplica uma vez que a bíblia não ensina isso. Também não coloque um julgo desnecessário nos outros. Eu tenho o relato em primeira mão de um líder de jovens que pedia aos seus liderados que enviassem um joinha às 3h da manhã para mostrar que eles estavam acordados e orando. Sabe o feedback que eu recebi? Uns colocavam o celular para despertar nesse horário, davam o joinha e depois voltavam a dormir, um outro colocava para despertar às 3h e voltava pra cama, meia hora mais tarde o celular despertava novamente, ele dava outro joinha falando que já tinha orado e estava indo dormir. Me respondam qual o objetivo de tudo isso?

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[1] Madrugada. Disponível em <https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/madrugada/>. Acessado em 14/06/2019.

terça-feira, 11 de junho de 2019

Igreja Neoevangélica e os crentes nutella

De acordo com o último censo feito com esse intuito, em 2010, o Brasil tinha cerca de 42 milhões de evangélicos [1]. Acredito que o próximo censo será ano que vem (2020) e teremos uma grande surpresa. Há estimativas estatísticas que indiquem que em 2020 o Brasil terá uma maioria evangélica [2] e Glória a Deus por isso, ou não?

Eu fico meio confuso pois no meio desse crescimento vertiginoso das igrejas evangélicas vemos ,através das redes sociais que, em partes, esse crescimento não é um crescimento saudável, que uma parte dos novos crentes não estão sendo expostos ao verdadeiro evangelho e que muito do que vem sido pregado é um evangelho baseado em promessas, bençãos, cura e "liberdade", e está nascendo a geração do "não julgueis". É só buscar pelo número de funqueiros e famosos homossexuais assumidos que vez o outra aparecem em notícias sendo batizados mas que continuam em seus velhos hábitos, ou o número de igrejas liberais que vêm sendo abertas por ex-pastores(as) que saíram do armário e decidiram abrir uma igreja inclusiva [ou liberal]. Quando eu digo continuam nos seus velhos hábitos, são o caso de alguns artistas do funk que hoje se dizem evangélicos mas continuam cantando funk. Você pode se perguntar, mas o que isso tem a ver. É só ler 1 João 2:4 e você saberá.

Não estou aqui pregando acepção de pessoas, mas apenas falar sobre algo muito preocupante. A igreja tem sim que saber lidar com essas situações, mas aprender a lidar não significa mudar por causa dessas pessoas. Há um livro muito bom que trata do tema, o título é Proibida a entrada de pessoas perfeitas (BURKE, 2005), no qual o autor relata suas experiências com pessoas que antes tinham preconceito das igrejas por causa do estereótipo do "crente perfeito" mas acabavam indo na sua igreja [ele fazia um marketing pesado nos meios de comunicação enfatizando a parte de que a igreja que ele lidera não era "igual essas outras"], alguns gostavam e ficavam, mas isso não significa que pecados eram aceitos, pelo contrário, ele relata várias situações que ocorreram e como ele lidou com elas. E um desses relatos é o de uma líder de louvor [salvo engano] que estava vivendo com seu namorado e tendo relações normais com ele, e então ele [o pastor] foi ter uma conversa com ela, ele diz que ela tinha confundido as coisas, pois achava que por a igreja ser essa comunidade aberta que tratava as pessoas do tipo "venha como está" isso significava que ela poderia continuar em seus caminhos pecaminosos e ao explaná-la que não era bem assim ela o acusou de estar fazendo julgamento. Ela não entendeu a graça, nem a missão da igreja. Ele também relata casos em que duas lésbicas foram pra igreja, entenderam que era errado e deixaram essa vida, não consigo lembrar a página, mas isso é um incentivo a mais para que você leia todo o livro, vale muito a pena.

A igreja não pode discriminar os homossexuais ao ponto de não permitir sua inserção no corpo de Cristo, porém não pode, como os movimentos LGTs querem, simplesmente achar que isso é normal ou que Deus aceita. Não é bem assim, pois de Deus não muda e sua palavra é imutável (Tg. 1:17, Ml. 3:6, 1 Pe 1:24). E isso também vale para determinados comportamentos mundanos, coisas que antes achávamos normais ou eram até incentivados, como postagens de fotos sensuais, bebedeiras [não sou contra o crente beber socialmente, veja artigo sobre isso], entre outros comportamentos, pois está escrito "como filhos da obediência, não vos amoldeis as paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância" (1 Pe 1:14). E hoje essa geração do "não jugueis" está um caso sério. Para quem acompanha alguns artistas "gospel" volta e meia aparece alguma postagem de algum com suas poses fotos nas redes sociais em situações não tão cristãs, assim por dizer, e ainda ficam irados com os comentários dos seguidores ao corrigirem esses comportamentos. Para ser mais objetivo, já vi algumas artistas "gospel" que postavam fotos sensuais em praia ou piscina e logo chovia de comentários e ainda ficavam "com raiva" pelos "julgamentos". A desculpa é sempre a mesma "Deus conhece o meu coração." Essa frase já é clichê para aqueles que ainda não nasceram de novo e insistem em determinados comportamentos achando que é normal e que o amor de Deus significa que tudo pode. Não pode! Ou você é filho de Deus ou não é. João escreve "aquele que diz eu o conheço e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso e nele não está a verdade." (1 Jo 2:4), ou seja, falar que é cristão e não seguir uma vida santa (1 Pe 1:15-16) apenas mostra que você não nasceu de novo, e pior, Deus não gosta de mentiroso (Pv. 6:16-19; Jo 8:44). Ser cristão não é estar numa igreja ou vestir um terno; é mudar de vida, "Se não andarmos em novidade de vida, como vamos falar de Jesus para as pessoas que estão em trevas, nosso testemunho fala mais alto." (Rm 6:4). Usando as palavras do nosso Senhor "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus [...]" (Mt. 7:21).

Hoje há igrejas que são consideradas "redutos" de famosos, principalmente de famosos que não se "encaixam" no padrão bíblico. Digo bíblico pois não há outro padrão, ou você é cristão ou não é (1 Jo 2:4). Então criou-se essa cultura de inclusivista transvestida de "venha como está", mas ao invés de dizer "mas mude" diz "pode ficar assim mesmo." Batizam os neocrentes somente por causa de seus gordos dízimos, ou seja, o interesse é puramente financeiro e não com a palavra de Deus. Sabemos sim que o que muda o ser humano é a Palavra (Rm 1:16) e não o pregador, porém senão houver confronto e ensino (1 Co 5), senão o crente vai achar que é normal e não vai buscar a mudança através da oração, jejum e uma intimidade com Deus. O interessante é que esses neocrentes vão atrás dessas igrejas justamente por não quererem mudar, e Paulo já havia alertado isso há 1900+ anos quando falou pra Timóteo "virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, sentindo coceira nos ouvidos, segundo os seus próprios desejos juntarão mestres para si mesmos. Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos." (1 Tm 4:3-4) mas Paulo fala pra Timóteo continuar no caminho certo que é o pregar o verdadeiro Evangelho. "Você, porém, seja sóbrio em tudo, suporte os sofrimentos, faça a obra de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério. (v. 5).

Não jugueis

Como já falei acima umas duas vezes, hoje temos a geração do "não julgueis" ou os "crentes nutella". São pessoas com um mínimo de conhecimento bíblico que de tanto ouvirem essa frase [não julgueis] ficam repetindo-a como papagaios sem entender o contexto e nem entender também outras passagens bíblicas em que Deus nos ensina a corrigir os irmãos em pecado ou em atitudes nada cristãs: como por exemplo tirar foto de calcinha e sutiã na praia e postar no Instagram.

Em Mateus 18:15-17 Jesus ensina a como o cristão deve proceder quando outro irmão pecar contra nós. Mas, de acordo com os crentes nutella, se algum irmão pecar contra nós, o que devemos fazer? Falar que Deus é amor? Não, Jesus disse "vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão" (v. 15) e na carta aos Gálatas Paulo escreve como devemos proceder quando pegamos algum irmão no pulo do gato, Paulo diz "vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado." (Gl. 6:1). Irmãos, é certo que há crentes recém-convertidos e que não têm muito conhecimento bíblico e as vezes falham por falta de conhecimento, nesse caso a gente chega e de forma amável corrige o irmão. Sei de um jovem que confessou que Jesus era o seu Senhor (Rm 9:7) e nasceu de novo mas não sabia ao certo que seu comportamento bi-sexual era correto, na verdade ele tinha uma certa noção mas deixou bem claro que estaria disposto a mudar se isso fosse contra a vontade de Deus. Esse é um comportamento de um cristão de verdade e que ama Jesus (Jo 14:15). Mas também têm aqueles que sabem mas como não nasceram de novo, ficam falando que não se deve "julgar", ou que "Deus é amor" portanto "perdoa tudo", mostrando claramente que nunca conheceram a verdade (Jo 8:32). Eu mesmo quando me converti, iniciei uma busca incessante pela verdade, uma das coisas que descobri é que a minha antiga atividade [agiota] não era uma atividade cristã e apesar de fazer falta a renda extra, não podia continuar pois não era algo que Deus aprova.

Dito isto, aos crentes nutella só tenho uma recomendação: "arrependei-vos [...] raça de víboras [...], Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento;" (Mt 3:2-7) porque "Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus." (Jo 3:3) e "todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu." (1 Jo 3:6).

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domingo, 9 de junho de 2019

Bora tomar uma? Uma análise séria e exegética sobre o consumo de bebida alcoólica

Uma parte dos crentes ou tende pro legalismo [nada pode] ou pro liberalismo [tudo pode]. Um dos temas de bastante contradição é o da bebida alcoólica. É a posição de muitos pastores de que o crente não pode consumir bebida alcoólica, e são bem criativos em sua defesa. Vou tentar fazer uma análise com base bíblica [parece redundante isso, mas tem muitos que se baseiam em achismo], mostrando a inconsistência de certos argumentos.

Exposição seletiva

O primeiro e o mais desonesto é o que eu chamo de exposição seletiva, que consiste em selecionar somente aqueles versículos que dão suporte ao seu argumento, por exemplo, eu poderia pegar a primeira parte de Romanos 6:23 e dizer que o pecado mata, pois está escrito "o salário do pecado é a morte" e ao ignorar o contexto eu poderia levar meu interlocutor a um entendimento equivocado do que o que o autor quis nos ensinar.

Um exemplo bastante comum é este: "Não é próprio dos reis, ó Lemuel, não é próprio dos reis beber vinho, nem dos príncipes desejar bebida forte." (Pr. 31:4). Pegam um verso fora do seu contexto e falam que não pode beber porque "tá escrito", e acabam sendo desonestos ao não continuar a leitura dos versos seguintes. Está escrito mais a frente "Dai bebida forte aos que perecem e vinho, aos amargurados de espírito; para que bebam, e se esqueçam da sua pobreza [...]" (v. 6-7). Se eu estiver cansado de tanto ter trabalhado então eu devo beber para esquecer minha fadiga? Afinal eu não sou rei!

No antigo testamento a palavra vinho (Hb. יַיִן yayin #3196) é usada 141 vezes, então imagine você os vários contextos em que o vinho foi mencionado. É honesto então eu mencionar apenas um ou dois versos e sempre fora de seus respectivos contextos e dizer que aí está a verdade?

Ainda em Provérbios temos outra passagem que talvez seja usada para dizer que o crente não pode beber, e diz assim: "Quem ama os prazeres empobrecerá, quem ama o vinho e o azeite jamais enriquecerá." (Pv. 21:17). Que chocante! Seria trágico senão fosse irônico. Aqui fala de luxúria, tanto o vinho quanto o azeite (alguns comentaristas traduzem como unguento) eram itens caros (Jo 12:5), então temos que entender óleo e vinho nesse contexto, pois a bíblia não se contradiz (2 Tm 3:16-17). Vejamos que no Salmo 104:15 está escrito que "o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe dá brilho ao rosto [...]", se você for ler o salmo todo entenderá que o salmista está louvando a Deus pela sua criação. Eu não posso pegar um verso isolado e entender de uma forma e mais tarde ao encontrar um outro verso que "aparentemente" contradiga o verso anterior, lê-lo também de forma isolada, eu tenho que tentar harmonizar os dois e entendê-los em seu contexto, caso contrário teríamos uma teologia bem confusa. Já imaginou se tivéssemos que interpretar tudo o que Jesus falou nos evangelhos de forma literal? Todos seríamos cegos de um olho e só íamos comer carne moída porque não teríamos condições de usar um garfo e uma faca só com uma mão (Mt 5:29-30).

Alcoólatras no Antigo Testamento

Usei esse subtítulo bem chamativo por pura ironia, uma vez que alguns legalistas tacham os que defendem a opção do cristão de ingerir bebida alcoólica de "beberrões".

Pois bem, seguindo essa definição, o primeiro beberrão foi Abraão, pois ao término da batalha contra os quatro reis, Melquisedeque trás pão e vinho para Abraão (Gn. 14:18) e mais um pouco à frente conhecemos outro pé-de-cana; Isaque. Em Gênesis 27 lemos o relato da benção de Jacó. Isaque fala "Chega isso para perto de mim, para que eu coma da caça de meu filho; para que eu te abençoe. Chegou-lho, e ele comeu; trouxe-lhe também vinho, e ele bebeu." (Gn 27:15). Eita Isaque pinguço. Até o próprio Deus tinha prazer no vinho. Em Levítico 23:13 lemos "[...] e a sua libação será de vinho, a quarta parte de um him." Bom para mim não resta dúvida quanto à questão do vinho. Como está claro em várias passagens no Antigo Testamento, vemos homens de Deus saboreando essa delícia que é o vinho e também destrinchei aqui a falácia interpretativa do provérbios 21 e 31. Vamos agora para o Novo Testamento.

Novo Testamento

No NT temos três passagens bem esclarecedoras, e ao mesmo tempo com interpretações um tanto contraditórias. Vamos a elas. Duas dessas passagens se encontram na carta de Paulo ao seu filho na fé Timóteo. Em 1 Timóteo 3 Paulo trata das qualificações do bispos e dos diáconos, e a partir do verso dois lemos: "É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar, não dado ao vinho [...]" (v. 2-3). De acordo com dicionário online Dicio, o adjetivo dado, nesse contexto, significa "habituado a", ou seja, alguém habituado ao vinho [que bebe com frequência as vezes até ao estado de embriaguez, cf. Ef. 5:18]. Então fica claro aqui a intenção do autor, não é em dizer "não beba", pois se assim o fosse, ele teria escrito claramente. Atenção, se você tem uma versão da Bíblia de Estudo Pentecostal, eu te digo que a nota de rodapé para esse versículo está totalmente equivocada, o autor faz uma leitura enviesada da palavra Grega πάροινος (paroinos), pois fica evidente tanto no contexto quanto em outras passagens (1 Tm 5:23, Ef. 5:18) que não era a intenção do autor da carta proibir o consumo do vinho, como já falei antes. Outro ponto interessante é o background do autor dessa bíblia: Donald Stamps, um ex-nazareno, mas não dá pra falar sobre isso aqui.

"Por esta razão, não vos torneis insensatos, mas procurai compreender qual a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito," (Ef. 5:18). Para o bom entendedor, poucas palavras bastam. É assim que eu resumo a explicação desse verso. Como deixei bem claro no parágrafo anterior, se fosse a intenção do autor ensinar ao cristão de que este não pode ingerir bebida alcoólica, ele assim o teria feito de forma clara e direta, não acha? O texto poderia ter dito "não bebais vinho", mas não foi isso que ele escreveu, então por que deveria eu interpretar o texto de outra maneira. Não há dúvidas aqui que a intenção do autor é a da exortação quanto à embriaguez e não ao ato de beber [socialmente].

Agora vamos analisar o texto de 1 Timóteo 5:23 onde Paulo fala pra Timóteo não beber somente água mas "usar um pouco de vinho". Há uma disputa sem fim sobre se o vinho em questão continha álcool ou não, mas pelos vários contextos bíblicos podemos entender que a bíblia fala claramente sobre o vinho como bebida alcoólica, pois não faz sentido falar "não se embriague de suco de caju", fazendo uma alusão ao texto de Efésios 5:18 como já explanei no parágrafo anterior. Então uma vez desmistificado esse mito vamos para a lógica argumentativa. Digamos que o vinho era a versão alcoólica e que Paulo fala para Timóteo misturá-lo com água. Acaso esse processo diminui a quantidade de álcool no vinho? Claro que não. Se você tem uma taça de vinho com 100ml da substância com uma graduação alcoólica de 10% [2], o fato de você adicionar 100ml de água na mistura e obter uma bebida de 200ml não alterará a graduação original que é de 10% de álcool sobre os 100ml de vinho, o que acontece é que agora você terá uma bebida com 200ml com um teor alcoólico de 5%, pois foi adicionado 100ml de uma substância não-alcoólica.

Considerações

Tenho amigos "legalistas", que é o padrão da Assembléia de Deus, e inclusive o meu pastor é contra o consumo de bebida alcoólica, que usam esses mesmos argumentos para dizerem que não podemos beber, mas como acabei de expor as escrituras de forma mais neutra possível, fica evidente que a bíblia não proíbe o consumo "social". Há também uma questão delicada que é o caso de ex-alcoólatras que se libertaram do vício e nesses casos é preferível a abstenção. Mas em casos normais, que é o caso da maioria, não creio que deva haver uma proibição [até porque não há base para isso]. Um irmão em Cristo em conversa comigo sobre o tema me contou que prefere a abstinência total, não por por uma questão legalística, mas por vontade própria mesmo.

O interessante é que se você fizer uma rápida pesquisa em sites e blogues sobre o tema, ao entrar em uma dessas páginas vai encontrar um padrão. Inicia-se o texto com os males causados pelo álcool, que o álcool é isso que é aquilo, que falam da possibilidade de virar um bebum, alcoólatra pinguço, e que isso pode causar acidentes, falam de estatísticas de acidentes de trânsito e no final vão falar apenas de versos que, à princípio, dão a ideia de que é pecado beber, mas espero que com essa exposição esse tema tenha ficado claro.

Por último, quero falar de uma outra consideração, a escandalização. Se você está na presença de um irmão "legalista", é preferível que você se abstenha de ingerir qualquer tipo de bebida alcoólica na presença dele, conforme aprendemos em 1 Co 8:13. Já fui convidado a sair com uns amigos da igreja, minha vontade de tomar um choppezinho era grande, porém sabendo a criação deles e que eles não se sentiriam confortáveis, eu preferi não tomar.

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sábado, 8 de junho de 2019

Tenho que confessar meu pecado ao meu pastor?

Acredito que todo mundo conheça o sistema católico de confissão auricular, aquele que você vai até a igreja e o padre fica dentro do confessionário ouvindo seus pecados e após a consulta ele profere a sentença: tantas ave marias e tantos pai nossos. E seus pecados estão perdoados. Nós sabemos que não há uma passagem sequer na bíblia dê suporte à essa prática. Para nós protestantes isso é muito claro, mas eu fiquei admirado ao saber que há pastores que pregam a confissão sacerdotal. O pior é que eles não querem ouvir pecadinhos do tipo: "menti pro meu chefe"; eles, ao que tudo indica, estão mais interessado nos "pecadões" como fornicação e adultério.

Certa vez ao ouvir que era necessário confessar nossos pecados ao pastor, eu solicitei a base bíblica e, como era de se imaginar, não encontrei consistência exegética alguma que indicasse que essa dourina tivesse sido ordenada pelo nosso Senhor.

Me foi dado cinco versículos que supostamente dão suporte à confissão sacerdotal. Eu deixo aqui o versículo com o comentário original, e abaixo de cada um eu faço meus comentários, com base exegética e comentário de outros comentaristas.

Bases bíblicas e comentários

1. "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados [...]" (Tg 5:16).

Comentário original: Tiago mostrando a necessidade de se confessar, de orarmos e assim alcançarmos a cura.

Meu comentário: muitos comentaristas ao tentar explicar essa passagem deixam bem claro que não é uma tarefa fácil. A regra de ouro da exegese bíblica é olhar para o contexto, mas nesse caso o contexto não nos ajuda tanto como em outras passagens difíceis. No verso 12 Tiago fala sobre juramento, no verso seguinte fala sobre enfermidade (v. 13), ele então orienta para chamar os presbíteros para ungir o enfermo com óleo e também orar (v. 14) e no verso em questão ele orienta para confessar os pecados uns aos outros. Estaria a enfermidade relacionada com o pecado? Não sei. O fato aqui é que a ordenança de confessar uns aos outros não dá margem alguma para uma confissão sacerdotal como podemos ler no comentário de Benson [1].


2. "Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com o espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado." (Gl. 6:1).


Comentário original: os que confessam ou são flagrados pecando devem ser restaurados pelos espirituais. Como a igreja ajudará na restauração se não houver a confissão?


Meu comentário: o primeiro erro que eu vejo no comentário original é o de afirmar que um pecador pode restaurar outro [o que cometeu o pecado em questão] e o segundo é o de colocar no mesmo contexto a confissão espontânea com o flagrante, que é o que se trata o texto.

O texto é claro: "se alguém for surpreendido nalguma falta" (v. 1). A palavra aqui usada para "ser surpreendido" em Grego é προλημφθῇ (prolēmphthē) quer dizer “ser pego [de surpresa]”, ou seja, no ato. Exemplo, você está passeando e vê um irmão que é casado aos beijos com outra mulher em um restaurante, por exemplo. Você espera o momento oportuno e conversa com o irmão, "corrigindo-o com espírito de brandura". Eu não consigo ver "corrigir" como sinônimo de "restaurar".

3. "O que encobre as suas transgressões jamais prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará misericórdia." (Pv. 28:13)

Comentário original: de Deus ninguém esconde nada, pois Deus tudo vê, então, o texto está subentendido que a confissão é aos homens.

Meu comentário: é até difícil comentar o comentário original sem querer soar arrogante, mas esse comentário parece ser de alguém que entende muito pouco de bíblia, uma vez que tanto no AT quanto no NT temos vários versos nos ensinando a confessar nossos pecados a Deus, mesmo ele sabendo de tudo. O primeiro que posso mencionar é o Salmo 32. O salmista fala do processo doloroso em que ele estava passando por não ter confessado seu pecado a Deus (v. 3-4) e logo em seguida diz que foi perdoado após sua confissão (v. 5). Fica evidente que a conclusão do comentário original está errada, uma vez que o salmista nos ensina a confessar nossos pecados a Deus. E isso fica mais evidente ainda no caso do mago Simão, quando ele tenta comprar o dom do Espírito Santo, Pedro o confronta e fala para ele rogar ao Senhor, para que talvez ele seja perdoado. (At 8:22). Se Deus já sabe e não é preciso confessar nossas transgressões a Deus, por qual motivo então o apóstolo manda fazer justamente isso? João também escreve que devemos confessar nossos pecados ao Senhor (1 Jo 1:8; 2:1). Então fica evidente aqui que esse provérbio não dá base alguma para a confissão ao seu pastor.

4. "Se teu irmão pecar [contra ti], vai argui-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se estabeleça." (Mt. 18:15-16).

Comentário original: Quando o pecado atinge a igreja e/ou membro.

Meu comentário: o texto aqui fala de um pecado contra alguém  “Se teu irmão pecar contra ti, vai e reprove ele entre você e ele só.” Minha versão ARA está como arqui-lo mas o significado original quer dizer reprovar, repreender. Então vemos que o texto trata de um pecado contra alguém. Se acaso o transgressor não te ouvir, então leva-se uma ou duas pessoas para que caso ele insista no erro, essas pessoas juntamente com você sirvam de testemunhas perante a igreja. Novamente não vejo aqui nenhum suporte ao argumento original que é a confissão ao pastor.

5. "Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judeia e toda a circunvizinhança do Jordão, confessando os seus pecados." (Mt. 3:5-6).

Comentário original: Por fim, João ouvia a confissão dos pecados e logo após batizava.

Meu comentário: o contexto mostra que não eram poucas pessoas sendo batizadas (v. 5) e o comentarista Ellicott escreve que o tempo verbal Grego [2] denota uma sucessão contínua [um atrás do outro], o que torna confissões específicas ineficientes devido ao tempo. Este comentarista também é da ideia de que a confissão aqui é uma confissão pública [geral], do tipo "peço perdão pelos meus pecados" e não algo do tipo "eu traí a minha esposa, ontem menti para o meu irmão, falei pro meu chefe que já tinha começado o projeto, mas nem comecei ainda, etc". No Expositor's Greek Testament vemos uma questão interessante a esse respeito, no que tange a palavra usada para confissão. A palavra usada neste texto para confissão é ἐξομολογούμενοι (exomologoumenoi). Aqui há uma preposição ἐξ (ex/ek) que tem o significado de "fora de" [traduzido livremente do Inglês], essa mesma palavra foi usada em At 19:18 e Tg 5:16 e os comentaristas são do acordo que quando usada com essa preposição a palavra tem um significado de uma confissão pública, diferente de 1 Jo 1:9 em que a palavra é o verbo menos a preposição ἐξ (ὁμολογῶμεν (exomologoumen) (1 jo 1:9)). Em sua primeira carta João fala da confissão individual, apesar de usar o termo "se confessarmos", mas este é um uso prático da linguagem, muitas vezes usamos "a gente" para de forma modesta nos referirmos a nós mesmos. Porém tanto o Exporitor's greek quanto Ellicott sugerem que possivelmente houvesse confissões particulares mais graves, ideia também suportada por Vincent's Word Studies. Porém tanto Vincent quanto o Expositor's Greek falam que a confissão era realizada ENQUANTO eles eram mergulhados, o texto original diz que "eram por ele batizados confessando seus pecados" e não "confessavam seus pecados e eram batizados", logo a frase "João ouvia a confissão dos pecados e logo após batizava" está equivocada, essa ordem não é encontrada em nenhuma tradução. O Expositor's Greek afirma que a confissão não era uma condição sine qua non [só se batiza se confessar tudo], então não podemos afirmar que a confissão de João Batista é uma base bíblica para confissão ao homem.

Conclusão

A conclusão que eu tiro dessa exposição é a de que não há um verso sequer em toda bíblia que nos ensine a fazer uma confissão obrigatória ao pastor. Usando o texto de Tiago 5:16 como base eu, porém, acredito que as vezes nós mesmos ficamos reféns de certo(s) vício(s) ou pecado(s) e nesse caso talvez uma conversa com o seu pastor ou um irmão muito espiritual possa ajudar na busca pela libertação, um orando pelo outro, mas tendo em mente que a graça e a misericórdia vem de Deus.

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[1] Benson. Disponível em <https://biblehub.com/commentaries/james/5-16.htm>. Acessado em 08/06/2019.
[2] Ellicott. Disponível em <https://biblehub.com/commentaries/ellicott/matthew/3.htm>. Acessado em 08/06/2019.


sexta-feira, 7 de junho de 2019

Ganhando almas para Jesus; você entendeu errado.

Esse é um termo muito comum no meio pentecostal, tanto pregadores quanto irmãos falam de ganhar almas para Jesus e alguns até falam orgulhosamente de seus números. Certa vez ouvi uma irmã falando que "já tinha ganhado muitas almas para Jesus."

Determinado dia em um debate com um irmão em Cristo ele falou que eu não tinha ainda entendido a Bíblia e que eu deveria me preocupar em ganhar almas para Jesus e confesso que isso me fez pensar, não no meu estado ou responsabilidade mas nesse termo, pois a palavra ganhar significa adquirir com esforço ou recursos [em nosso caso, esforço; de pregar ou como alguns creem erroneamente, o esforço de convencer], só que olhando para a Bíblia eu não vejo nenhum verso que indique que esse pensamento esteja correto. Dizer que fulano "ganhou" uma alma para Jesus dá a entender que o mérito foi do evangelista/pregador e não da mensagem, mas não é bem assim pois quem convence o pecador não é o pregador e sim a palavra (Rm 1:16). E isso me fez lembrar das vezes que tentaram me evangelizar e lembro-me bem que sempre fui muito hostil, mas eu acho que algumas pessoas não sabem evangelizar pois elas têm a ideia errada do que é evangelizar. Já vi gente evangelizando sem mencionar uma só verso bíblico. Então como você quer que a palavra trabalhe no pecador sem falar da palavra?

Escrevi os dois primeiro parágrafos num dia e no outro continuei, nesse meio tempo fiquei meditando no assunto e buscando na memória todos os relatos de evangelismo na Bíblia e não pude encontrar nenhum onde o mensageiro tenta persuadir o pecador a ir pra igreja. Falei persuadir pois há ocasiões em que o evangelismo mais parece uma tentativa de persuasão do que uma proclamação das boas novas.

Vou mencionar apenas três relatos em que fica evidente o poder da palavra de Deus. O primeiro que me veio à memória foi a conversão do procônsul Sérgio Paulo. Lemos que o procônsul chamou Paulo e Barnabé para ouvir a palavra de Deus (v. 7) e mais à frente lemos que ele "creu maravilhado com a doutrina do Senhor" (v. 12). Você pode até argumentar que o sinal operador por Paulo teve um papel fundamental, mas ele à princípio não chamou Paulo pra ver algum sinal e sim ouvir a palavra. Outro relato que também posso citar é a conversão do Eunuco (At. 8:26-38), a história você deve conhecer bem então vou pular para a parte da palavra. Lemos que "Felipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus." (v. 35). O resultado foi mais um crente pra honra e Glória de Deus. E o que falar de Lídia (At 16:14) que ao ouvir a pregação de Paulo conheceu a verdade (Jo 8:32).

Fica evidente que não é você ou eu quem "ganha" tal pessoa para Jesus, você foi ou é um portador das boas novas, sua função é pregar a palavra e não usar de estratagemas para convencer a pessoa do seu pecado (ou o que Jesus pode fazer por ela, como é a estratégia de certas igrejas). Apenas pregue a palavra que ela irá trabalhar no pecador e ele pode tanto abrir o coração, assim como Lídia ou rejeitar a palavra (At 7:51) e não cabe a nós ficarmos insistindo ou inventando moda pra convencê-la. Se a palavra não for o suficiente, não há nada que eu ou você possamos fazer para mudar esse quadro. Lembre-se que os apóstolos operavam milagres na frente de todos e mesmo assim muitos ainda não creram.

Jesus falou "ide e pregai" e não "ide e ganhai", quem "ganha" é a ação do Espírito Santo.

sábado, 1 de junho de 2019

Como ser usado por Deus

Se você clicou aqui pensando que iria encontrar uma fórmula mágica para receber dons espirituais como revelações, profecias, cura entre outros, perdeu sua viagem. Primeiro porque que tal fórmula não existe, em lugar algum na bíblia lemos algo do tipo "faça isso de tal forma e tantas vezes pra conseguir aquilo". Lemos sim que devemos buscar os melhores dons com zelo (1 Co 12:31), mas se alguém te falar que você tem que ir pro monte tantas vezes, acordar de madrugada tantos dias seguidos, não caia nessa, não há nada na bíblia que dê suporte a essa heresia.

Vejo pessoas impressionadas com irmãos que são usados na revelação ou profecia e querem esse dom para elas, mas eu te pergunto, qual o seu objetivo em "adquirir" esse dom? É para a glória de Deus ou para você se achar o cara por ser usado em tal área? Talvez até ficar famosinho revelando a vida dos irmãos e com isso conseguir agenda? Arrependei-vos raça de víboras!

Um dom que está em falta na igreja nos dias de hoje e que nunca vi ou ouvi alguém falando em pedir é o dom de misericórdia (Rm 12:8; Mt 5:7). Misericórdia não é só um sentimento, senão for seguido por uma ação de nada vale. Não adianta olhar pra um mendigo na rua e pensar "coitado, que Deus tenha misericórdia dele", e nada fazer. Quando os dois cegos de Jericó clamaram a Jesus "Senhor, tenha compaixão[1] de nós!" (Mt 20:30), o que Jesus fez não foi somente uma oração, ele fez uma ação; ele agiu e curou aqueles dois cegos. Claro que nós não temos o poder de curar a cegueira ou fazer um paraplégico andar, mas temo o poder de saciar a fome de quem tem fome, pelo menos naquele momento e muitos tendo essa capacidade não fazem.

Dito isto, agora vou te falar como ser usado por Deus. Comece a observar na sua igreja aquele irmão que sempre vai com o mesmo terno e que nota-se um certo desgaste, chegue nele e fale "irmão, eu queria te dar um terno novo, você aceitaria?". Tenho certeza absoluta que ao chegar em casa, ele dobrará seus joelhos agradecendo à Deus pela benção e a partir daí você ganhará um intercessor junto a Deus pois em agradecimento ele passará a sempre lembrar de você em suas orações. Ele ficará muito mais agradecido do que se tivesse recebido uma profecia de que "essa prova vai passar" [2], tenho certeza disso.

Usei o exemplo do terno pois é muito comum no meio pentecostal irmãos irem de terno pra igreja, principalmente obreiros [eu congrego numa Assembléia de Deus] mas poucos sabem o dia a dia desses irmãos e quão custoso foi para ele conseguir comprar esse terno. Pode até ter sido doado. Não falo só de terno, pode ser um sapato também [risos]. Certa vez em conversa com um clérigo eu disse que preferia ser usado nessa área, abençoado as pessoas e a resposta que obtive foi a de que "igreja não é socialismo", o que discordo veementemente. Acho que há quem ache que quando estamos muito carentes de algo essa coisa irá cair do céu ou vai aparecer um valor em nossa conta de forma misteriosa [o que não duvido], mas Deus usa as pessoas para abençoar pessoas. Vejam Paulo que na carta aos Filipenses ele os agradece pela oferta que eles mandaram para Paulo que foi de grande ajuda (Fl 4:15-16). E também vejamos o exemplo dos novos convertidos em Jerusalém que vendiam suas propriedades para ajudar os mais necessitados (At 2:45). Há inúmeros outros exemplos, mas não vou ser exaustivo nesse ponto.

Não tenho dinheiro

A princípio eu queria focar em princípios bíblicos mas para não ser acusado de hipocrisia eu vou contar meu testemunho de forma bem resumida. Antes da minha conversão eu tinha um negócio paralelo; eu era agiota. Eu até que ganhava uma boa grana para um solteiro. Quando me converti a primeira coisa que fiz foi deixar a agiotagem de lado pois esse trabalho não tem nada de cristão [no Brasil é ilegal cobrar mais do que 1% de juros ao mês; eu chegava a cobrar até 20% a.m], e nesse ínterim a empresa em que trabalhava estava numa situação muito difícil mas mesmo assim, juntando as duas coisas, a perca de receita proveniente da agiotagem [+/- R$ 5.000/mês] aliado aos calotes que passei a ter [boa parte da minha carteira estava empregada na empresa em que trabalhava, logo com a crise fui afetado em duas frentes], minha situação financeira se deteriorou gravemente, mesmo assim Deus havia colocado em meu coração de abençoar um irmão o que foi confirmado por ele mesmo ao me falar que estava orando pela benção que Deus havia colocado no meu coração, mesmo devendo horrores e sem perspectivas de quitar a dívida eu fui lá e comprei não só esse como também outras vezes em que o Senhor colocou em meu coração. Um ano após minha conversão a empresa quebrou, saí nem receber o último salário ou qualquer outra quantia, fiquei dois meses em casa e o Senhor abriu as portas de um emprego melhor do que o que eu tinha antes, ganhando mais e vejam só, sem eu precisar de mandar um CV se quer e melhor ainda com um chefe crente de verdade, um homem temente a Deus.

Não estou dizendo que se você fizer isso ganhará aquilo, muito pelo contrário, estou apenas querendo mostrar que quando o que fazemos é de coração Deus cuida de nós também, pois está escrito que ele ama quem dá de coração (2 Co 9:7). Eu em momento algum barganheiro com Deus, apenas fiz o que estava em meu coração e fiz o que gostaria que fizessem comigo.

Tenho um apreço particular muito grande ao capítulo 13 da epístola aos Hebreus que diz "Seja constante o amor fraternal" (v. 1) e mais a frente o autor escreve "Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei." (v. 5). Nessa passagem podemos tirar duas grandes lições: a primeira diz respeito a avareza, as vezes não ajudamos o próximo por pura avareza, não é pelo fato de nossos recursos serem escassos não, é avareza mesmo, pensamos mais em nós do que no próximo e as vezes podemos até pensar "nossa, eu não posso comprar isso nem pra mim, imagine pra outrem" [já me ocorreu esse pensamento]. Então não seja avarento quanto ao dar pois nesse mesmo verso o Senhor promete "de maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei." (v. 5c). Se seu medo é ficar sem comer se lembre que o mesmo Deus que colocou em seu coração para abençoar um irmão é o mesmo que pode colocar no coração de outro irmão para te abençoar!

Quando criança meu sonho era tocar teclado, minha vó não tinha condições financeiras para comprar um teclado então ficou só no sonho. Já crente um dia eu tive um sonho no qual eu estava tocando piano, ao acordar pensei comigo mesmo "acho que Deus quer que eu aprenda a tocar teclado" e lembrei de meu sonho de infância, mas ficou nisso mesmo. Outro dia tive outro sonho no qual alguém me ensinava a tocar teclado, ao acordar pensei "vou comprar um teclado!". Comprei o teclado e confesso que aprendi a tocar uma música só e pela metade e deixe o teclado abandonado lá em casa. Nesse tempo o pastor estava orando por um tecladista pois na nossa igreja não tem quem saiba tocar, na verdade até que tem uma jovem de 14 anos que toca teclado porém não tinha teclado. Um dia eu olhei pra ela e Deus falou ao meu coração "dê o teclado para ela." Eu relutei por uns dias mas aquilo me incomodava e muito e pensava "mas eu nem terminei de pagar." Mas percebi que Deus estava usando minha vida para atender o desejo de uma jovem talentosa que queria servir a Cristo na adoração e de uma igreja que precisava de um tecladista. Hoje a banda está completa, graças a Deus!

Há diversas formas de servir a Cristo, não é só revelando manto ou cantando lá em cima do púlpito, você pode amolecer seu coração e começar a deixar Deus te usar em outras áreas também.


[1] Na Almeida Revista e Atualizada a tradução é "Filho de Davi, tem compaixão de nós!". Mas a palavra Grega traduzida para compaixão vem da mesma raiz da que foi usada para "misericórdia" em Mt. 5:7. ἐλεέω (eléeo).
[2] Irmãos, há sim profetas em nosso meio, mas também há aqueles que acham que estão falando da parte de Deus mas é tudo coisa do coração. Sempre que alguém começa a profetizar para alguma pessoa e esta está perto de mim eu faço um esforço para ouvir o "manto", grande parte das vezes vejo que são coisas genéricas como "eu estou entrando com providência" e o pior "eu tenho uma grande obra pra você", este último chega até ser clichê. Eu já recebi revelações profundas, mistérios que só Deus sabia, era uma profecia de verdade, mas também já recebi cada profetada que prefiro nem comentar.