terça-feira, 21 de maio de 2019

Eleição corporativa ou individual. Inconsistência de Silas Daniel em seu livro Mecânica de Salvação

Dr. H. Orton Wiley é um teólogo Nazareno que escreveu "É lógico que eu prego a ideia de que a predestinação é corporativa" [1] e ao mesmo tempo ele concorda que Deus tem a presciência de quem crerá em Cristo [2], não enxergando a inconsistência dessas duas afirmações.

Eu quis começar com essa afirmação pois Wiley é um conhecido teólogo arminiano, de origem nazarena, mas o foco da minha análise é no livro Mecânica de Salvação do assembleiano Silas Daniel no qual o dito autor incorre no mesmo erro de Wiley. Em uma parte do seu livro ele, defende de que a eleição e a predestinação são corporativas e em outra parte do livro entra em contradição ao citar a distinção de que Armínio faz do eleito para o crente [3], uma vez que Armínio, apesar de não não ter se posicionado firmemente na questão da perca de salvação, deixando esse debate em aberto, vemos claramente que sua distinção entre eleito e crente deixa bem claro, para o bom entendedor, de que a ideia de eleição corporativa não é uma posição ou um ensino original de Jacó Armínio, como muitos pregam por aí.

Como eu falei no parágrafo acima, não encontramos em nenhum dos escritos de Armínio algo do tipo "olha, o crente não perde a salvação". Mas a distinção de que Armínio faz do crente para o eleito deixa evidente sua posição. A confusão que se faz são com versos em que a bíblia trata de apostasia. Não podemos negar que há essa possibilidade. É errado falar que a possibilidade de apostasia significa no eleito perdendo a salvação. Se o indivíduo apostatou da fé, isso só significa que ele nunca foi um eleito.

Paulo escreve para Timóteo que "alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios" (1 Tm 4:1) e mais tarde na segunda carta endereçada a Timóteo ele continua dizendo que "haverá [um] tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças [...] e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas." (2 Tm 4:3-4). Mas isso em nada contrasta com o ensino da eleição. Jesus ensinou que na igreja há tanto joio quanto trigo (Mt 13:24-39), mas eis a diferença; Jesus diz que suas ovelhas ouvem a sua voz e elas o seguem (Jo 10:27), bem diferente daqueles que obedecem espíritos enganadores, conforme Paulo escreve para Timóteo. (1 Tm 4:4), que acabam apostatando ou se desviando da fé verdadeira (1 Jo 2:4).

Lembremo-nos que da mesma forma que muitos seguiram Jesus tão somente por causa dos pães (Jo 6:26) hoje em dia também há os que buscam a igreja por outros motivos, como bençãos materiais, ou um discurso mais brando, mais massageador conforme já mencionei no parágrafo anterior.

Então todos esses que estão na igreja buscando apenas bençãos materiais, curas, uma vida sem provas, só de vitória mas que pouco se importam com a salvação ou em levar uma vida de santificação (1 Co 1:1) e que não dão frutos (Jo 15:2) são são os ramos que são cortados. Por falar em ramos que não dão frutos, alguns gostam até de usar o exemplo de João 15 para dizer que Deus "corta" os crentes que vivem uma vida de pecado. Isso não é verdade, pois se assim Deus fizesse ele não estaria sendo justo, ele pode até disciplinar seus filhos verdadeiros (Hb. 12:6), mas daí dizer que ele arranca os crentes da igreja, não, pois Jesus ensinou na parábola que a separação ocorrerá no dia da colheita (Mt. 13:24). Então Deus não vai proibir os não-eleitos de irem para a igreja, porém esses mesmos sairão quando postos a prova como escreve  Pedro: "se necessário sejais contristados por várias provações, para que uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo;" (1 Pe 1:6-7). Ou seja, o crente de verdade é posto a prova e uma vez confirmado o valor de sua fé, está redundará em louvor e glória em Jesus, já o crente que não é verdadeiro não suportará a prova e sairá da igreja resmungando de tudo e de Deus, pois creem que se Deus é amor (1 Jo 4:8), acham que não deveriam passar por prova alguma.

Mas voltando ao caso do livro em questão. O autor do livro ao explicar os versos que tratam da eleição, afirma que quando a bíblia fala em eleição, esta se refere ao coletivo ou a Cristo Jesus, pois ele foi o "escolhido (Is 42:1). Mas afirmar isso é afirmar que Deus tinha outras opções além de Jesus e também é dizer que Deus é um e Jesus Cristo é outro, o que é totalmente antibíblico uma vez que "o verbo [Jesus] era Deus" (Jo 1:1) e que Jesus e Deus são um só (Jo 10:30). É óbvio que a questão da trindade é algo muito complexo e é o que os teólogos chamam de mistério [4], então não podemos ler os textos que tratam Jesus como o escolhido ou eleito como uma justificativa para dizer que a eleição é Cristo. Acredito que eles usam esse artifício para confundir a cabeça dos menos interessados, aqueles que não vão a fundo no entendimento de certas doutrinas.

Não vou aqui descrever todos os artifícios usados pelo autor para dar suporte à essa teoria inconsistente, vou apenas destacar dois. O primeiro está na tentativa de justificar a eleição corporativa usando um artifício linguístico. Ele escreve: "A eleição, portanto, é cristocêntrica [dizendo que Cristo é o eleito]. Mas, não só isso: ela também é corporativa. A Bíblia sempre fala da eleição para Salvação no plural - Deus "nos elegeu" (Ef. 1:4). A única exceção, que confirma a regra, é Romanos 16:13, onde Rufus é chamado de "eleito no Senhor". É óbvio que se há eleição de um povo, há indivíduos eleitos. A salvação não é impessoal. Todavia, quando o assunto é eleição, o foco bíblico recai invariavelmente sobre o grupo, sobre esse "povo" (Ef. 2:14,19) [...] o foco da eleição não é o indivíduo, mas o grupo, o corpo, a Igreja, formada por todos aqueles que creram em Cristo e permanecerão até o fim." [5].

Esse argumento de que o fato de a palavra eleição estar escrita no plural indicando, portanto a ideia de que o foco da eleição é o grupo é um absurdo, pois as epístolas foram escritas e endereçadas não somente a uma pessoa (exceto as cartas a Timóteo e Tito) e por este motivo tinham que estar no plural. Como que Pedro escrevendo para todos os santos que estavam no Ponto, Galácia, Capadócia, Asia e Bitínia (1 Pe 1:1) iria se referir a eles no singular?

Vejamos a diferença comparando com uma carta direcionada a uma só pessoa. "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus [...] a Timóteo, verdadeiro filho na fé [...]" (1 Tm 1:1-2) e comparemos com a saudação de Paulo aos irmãos em Colossos: "Paulo, apóstolo de Cristo Jesus [...] aos santos e fiéis irmãos em Cristo que se encontram em Colossos [...]" (Cl. 1:1-2). Notaram a diferença? Uma foi endereçada à uma pessoa, a outra à várias pessoas, aos santos daquela cidade, ou de várias regiões como foi o caso das cartas de Pedro, então esse argumento de que pelo simples motivo do termo estar no plural significa algo além do que o texto implica é falacioso e não deve ser aceito como argumento.

O segundo ponto é o fato de o autor não mencionar um texto muito importante para nosso entendimento, que se encontra na segunda epístola de Pedro, onde o apóstolo escreve "Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição;" (2 Pe 1:10). Se o eleito é Cristo, como então que Pedro pede para nós confirmarmos nossa eleição? Ele se dirige aos irmãos, mas o comando é a cada um individualmente, "vossa eleição". Sem contar a já mencionada inconsistência em mencionar um texto de Armínio no qual ele, como já mencionei, ao diferenciar o eleito do não-eleito [crente] deixa claro que ele nunca ensinou sobre eleição corporativa, pois ele se refere ao eleito no singular, em outras palavras, o indivíduo, pois a salvação é individual (Jo 1:12, 3:36, Rm 10:9).


[1] Traduzido livremente de: Wiley and Others, "Debate over Divine Election," 5,15. Disponível em <http://evangelicalarminians.org/j-matthew-pinson-individual-election-corporate-election-and-arminianism/>. Acessado em: 16/05/2017.
[2] H. Orton Wiley et al., 3.
[3] Arminio, 2015, vol. 1, p. 227.
[4] Somos Todos Teólogos, p. 203
[5] Mecânica de Salvação, p. 429

sábado, 11 de maio de 2019

Pentecostalismo: manipulação ou ação do Espírito Santo?

O que começou como uma nova era de uma comunhão especial com Deus através do Espírito Santo, hoje tem se transformado em algazarra, gritaria, manipulação de sentimentos e mensagens antropocêntricas que colocam as necessidades do homem à frente do objetivo central do culto, "[onde] o maior é o menor"[1] e há uma busca incessante por aprovação por parte dos fiéis, que na visão de alguns pregadores, mais parecem clientes de suas mensagens do que irmãos em Cristo ávidos pela palavra de Deus.

Não sou contra as manifestações do Espírito, desde que sejam verdadeiras, sinceras e não precisem de serem manipuladas por pedidos de "glória a Deus". Eu mesmo já chorei muitas vezes aos pés do Senhor ouvindo um louvor, uma pregação carregada de amor, mas isso que vemos hoje de pregadores pedindo para você dar "glória a Deus", falando que se você não der um "glória" é porque você não entendeu a mensagem não é de Deus. Ora, eu numa classe quando entendo o que o professor está falando não vou ficar gritando "é verdade professor". Não há necessidade para isso. Quem gera a mudança é a palavra e não a sua busca incessante por glória. Tem culto que mais parece um programa de auditório onde o apresentador interage com o público. Não que não deva haver manifestação por parte dos fiéis que estão ouvindo a palavra, mas essa manifestação tem que ser espontânea, sincera e não ativada por um pedido do pregador para dar um glória, um aleluia sob ameaça de nos sentirmos burros por não termos entendido a mensagem ou sob ameaça de ir embora por não termos reconhecido que sua mensagem foi "forte" e portanto merecedora de um "gloria a Ti [o pregador e não a Deus, uma vez que Deus pede para adorá-lo em verdade e em espírito]". Quer ir embora vá, da mesma forma que Deus busca verdadeiros adoradores, ele também busca verdadeiros pregadores do Evangelho. Já falo sobre os diferentes ministérios.

Pregadores itinerantes e do fogo

Vim para Cristo em Março de 2018. De lá para cá foram muitas cabeçadas, desilusões e aprendizados. Uma das coisas que mais me deixa perplexo hoje é essa sobrevalorização do chamado "ministério" e devido a romantização do ministério hoje vemos até cursos online de como ''deslanchar seu ministério''. Eu pensei que ministério era algo mais focado servir a Deus, mas hoje mais parece ser no homem, em trazer a glória para o homem do que levar a mensagem do evangelho ou alimentar o rebanho do Senhor. Pessoas frustradas em suas vidas profissionais enxergam no evangelho uma nova possibilidade de realização profissional: reconhecimento e agendas requisitadas, e claro, dinheiro.

Há a figura do pregador itinerante, com agendas requisitadas, muitas viagens, fama e dinheiro, e claro, muitos jovens almejam isso para a vida deles também, e a consequência disso é uma disputa por cargos e oportunidades em suas igrejas na esperança de serem reconhecidos e um dia, quem sabe, ser famoso pregando a palavra de Deus. Há muitos homens de Deus nesse ministério, mas há também muitos oportunistas. E o pior de tudo é que muitos querem só o caminho mais fácil, que é, não estudar e pregar "na revelação" ou trechos memorizados de outros pregadores já consagrados, e claro, ter um testemunho forte.

Ninguém quer enfrentar uma faculdade de teologia de 4 anos, preferem algo mais curto, cursos básicos, leituras de livros ralos para pegar o básico pois o resto é com o "Espírito Santo" que "capacita". Certo dia um pastor foi pregar em nossa igreja, ele tem alguns livros escritos e disse que o seu livro de maior sucesso é o "Como pregar em 12 dias", sem comentários. Vejo até muitos comentários na internet erroneamente apontando para os apóstolos como um exemplo de quem não precisaram fazer uma faculdade. Ora, quer melhor faculdade do que aprender sobre o Evangelho com o próprio Jesus Cristo? Se isso não foi um curso intensivo sobre o Evangelho, então não saberia te responder o que foi. Paulo fala na carta aos Gálatas que o que ele aprendeu sobre o Evangelho foi mediante revelação de Jesus (Gl. 1:11-12) e sabemos muito bem que Paulo ficou um tempo fora do radar após a sua conversão (v. 17), o que ele estava fazendo senão se preparando para o seu chamado ministerial? Mas hoje o que vemos são pessoas que querem sair por aí pregando mensagens de fogo e nada de teologia, pois teologia não lota agenda nem igreja[2], mas mensagens massageadores de ego sim.

Ministérios

Quem nasceu para ser lagartixa, nunca vai ser crocodilo. Por mais engraçada que essa frase seja, e há muitas variantes dela, ela se aplica muito bem aos dons ministeriais. Ser pastor ou pregador não é uma segunda opção na sua vida, é um chamado divino. Ninguém pode acordar certo dia e dizer "eu vou ser pastor". Paulo escreve que Jesus "concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres." (Ef. 4:11). E infelizmente há quem ache que há uma escadinha, uma hierarquia a ser galgada por méritos próprios até um dia chegar ao pastoreio, e, não tão raro hoje, chegar a ser um "apóstolo" ou deslanchar no ministério itinerante.

A ordenação ao pastoreio varia muito de igreja para igreja e até denominação para denominação. Das que conheço até hoje a mais rigorosa é a IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) que diferentemente da Assembleia de Deus por exemplo, não existe escalada hierárquica: começa como cooperador e vai até pastor. Para mais detalhes, clique nesse link.

O que quero dizer com isso é que, como o próprio texto diz, Jesus estabeleceu uns como "evangelistas" e outros como "pastores". Se Deus quis te fazer um evangelista, seja um bom evangelista, o melhor evangelista possível, mas tem gente que pensando em algo que não é para eles, acaba relegando o dom em busca de algo que não é para você. Paulo escreve "assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberdade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria." (Rm 12:5-8).

Não busque servir à obra de Cristo por fama ou por dinheiro, faça por amor. Eu confesso que no início da fé quando comecei a receber as tais profecias, vislumbrei uma "carreira" como itinerante, mas hoje já mais maduro, espiritualmente falando, parei de pensar dessa forma. Nunca foi minha intenção ou sonho de ser pastor ou ter nada com o ministério da palavra ou qualquer outro ministério. Eu sou curioso por natureza, não importa a área, sempre estou em busca de respostas, seja na minha área profissional seja agora em relação à teologia. De janeiro para cá, li 14 livros, 12 dos quais são de teologia, e pretendo, se assim Deus permitir cursar teologia em uma faculdade reconhecida pelo MEC para assim aprimorar meus conhecimentos acerca teológicos.


[1] retirado de uma pregação do Pr. Napolão Falcão onde ele critica hoje a guerra entre pregadores para ver quem é o melhor ou atrai mais glória. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=7ocknS0FJFo>. Acesso em: 11/05/2019.
[2] Hoje graças a Deus isso tem mudado, temos visto congressos e simpósios sobre teologia lotados de pessoas com sede da palavra de Deus. Mas muitos desses eventos são patrocinados ou organizados por organizações de orientação calvinista, o que gera muita intriga da parte dos pastores assembleianos que acusam os fieis assembleianos de estarem "bebendo" de muitas fontes, ora, se não se encontra muitos eventos arminianos, quem tá com sede quer água e acaba indo onde tem. Eu hoje tenho maturidade espiritual e conhecimento teológico para filtrar o que é conhecimento puramente bíblico e o que é arminianismo/calvinismo, então não sou facilmente influenciado, mas há muitos jovens que não têm essa capacidade e acabam infelizmente influenciados pelos calvinistas.




Como me tonar um pastor?

Enquanto escrevia uma análise sobre certos pregadores pentecostais, veio a necessidade de falar sobre o ministério pastoral, e para que meu artigo anterior não ficasse tão grande, decidi escrever sobre o chamado pastoral de forma separada.

O processo para se tornar um pastor varia de denominação para denominação e dentro da denominação pode também haver diferenças. Das que tenho conhecimento, o processo mais rígido e longo é o da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil).

Vale salientar que em algumas denominações e igrejas o pastor não é obrigado a ter um diploma de nível superior em teologia, como é o exemplo das Assembléias de Deus, aliás, nas ADs [forma abreviada] você nem precisa ser pastor para dirigir uma igreja; explico.

Na Assembléia de Deus, o aspirante ao pastorado tem que começar "de baixo"; como cooperador. O cooperador, como o próprio nome diz, coopera nas atividades da igreja, desde levar água até o púlpito, a ficar na portaria entre outras atividades, e este não precisa ser casado. Já o Diácono, tem que ser casado (1 Tm 3:12), além dos outros requisitos citados em 1 Timóteo 3. É como se fosse uma escada hierárquica, onde começa pela cooperação, depois vai pra o diaconato, presbitério, vira evangelista e depois pastor. O pastor depois pode depois vir a ser um pastor setorial, responsável por uma região composta por uma igreja sub-sede e congregações. Devido à carga de trabalho e tamanho da igreja (geralmente maior do que as congregações) o pastor setorial pode trabalhar em regime de dedicação integral ou não. Algumas congregações também devido ao seu tamanho podem ter um pastor em tempo integral e assalariado. Já no tocante ao pastoreio, o Evangelista já está apto para dirigir uma congregação, ou seja, pastorear uma igreja. 

Para ser um pastor na AD tem que [até onde sei] por obrigatoriedade passar por todos os cargos, mas nem todos os cooperadores, diáconos, presbíteros e evangelistas um dia se tornarão pastores. Alguém pode chegar ao diaconato e ser diácono até a morte. Mas alguns jovens aspirantes são ávidos por "promoções" e muitos sonham em dirigir uma congregação, mesmo sem saber se este é o chamado que Deus tem pra vida deles. É aí, na minha opinião, que mora o problema. Eu vou pular para o funcionamento da vocação pastoral na IPB e depois volto para a AD.

Na IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) não há ascensão e o pastor tem por obrigatoriedade ir para um seminário e o processo não é tão simples, pois não basta ele achar que tem vocação [eles não chamam de chamado], sua vocação tem que ser "comprovada" pelo presbitério que vai analisar o aspirante e decide se ele via ou não para o seminário. Ao entrar no site do Seminário JMC na parte onde fala do vestibular você vai notar que há uma série de pre-requisitos para entrar no seminário. Não é qualquer membro de uma Igreja Presbiteriana que pode entrar num Seminário Presbiteriano, você pode até fazer uma faculdade de teologia no Mackenzie, mas se quiser ser ministro da IPB, terá que fazer do jeito deles.

Tem que ter no mínimo 3 anos de membro de uma igreja e é o presbitério quem envia o candidato para o seminário, este terá que passar no vestibular do seminário e um pastor o acompanhará durante sua formação. Após formado pelo seminário, que dura entre 4 e 5 anos e depois de ter passado por vários processos e provas, se aprovado ele passa a ser um pastor licenciado e ficará sob a tutela de um pastor ordenado [experiente] por um período que varia de 1 a 3 anos. Mais detalhes você encontra neste link. Como vemos, eles tão muita ênfase na formação teórica do aspirante ao pastoreio. Em uma troca de mensagens com um membro da IPB ele me falou que durante o tempo em que você se apresenta ao presbitério como um aspirante, eles passam a te avaliar, te indicando livros para sua leitura e estudo e acompanhando-o de perto. Não é tão simples como em algumas outras igrejas.

E diferentemente das ADs, o futuro pastor não precisa passar pelos outros "cargos" [cooperador, diácono, presbítero, evangelista], pois entende-se que cada um desses é um chamado distinto e não pre-requisito para o pastoreio. De fato, na bíblia não encontramos nada similar à dita ascensão hierárquica.

Voltando à questão da escada hierárquica na AD. Como eu falei, essa escada hierárquica pode gerar certa desilusão por parte de alguns, principalmente, como falei antes, pelo fato da romantização do ministério dentro das ADs e das famosas profetadas, onde jovens recém convertidos ou até evangélicos de berço recebem "profecias" de que Deus os separaram desde o ventre para "uma grande" obra, e todos quase que sempre assimilam essa "grande obra" à direção de uma congregação algum dia ou ao ministério itinerante. Primeiro que muitas das vezes essas chamadas profecias não passam de profetadas, e segundo que esses jovens passam a almejar essa possibilidade com unhas e dentes, mas não querem passar pelo caminho que seria o mais certo; cursar uma faculdade teológica. Seja por medo, seja por não achar necessário.

Porque mencionei medo. Medo pois a decisão de cursar uma faculdade é uma decisão séria, pois um curso superior tem uma duração de quatro anos e um custo que para muitos é ainda elevado e abocanha boa parte de seu orçamento. Se você é solteiro, vão tentar te convencer a fazer um curso que lhe "pague" um bom salário, que tenha boas oportunidades de emprego futuramente e que de maneira alguma você deve cursar teologia. Há pros e contras a respeito desse raciocínio, e a opinião que deixo aqui é puramente pessoal. Eu creio que se você está em dúvida se deva ou não cursar uma faculdade de teologia com medo de depois se arrepender, você ainda não sabe qual é o seu chamado. Você quer cursar uma faculdade com alta empregabilidade e depois "ver no que vai dar", você não tem certeza do seu chamado. Eu acredito que ser pastor é algo sério, e também não é algo que acontecerá da noite para o dia, requer maturidade e preparo. Eu não relegaria a parte do preparo intelectual, pois não basta "pregar" como muitos por aí pregam e depois ficar procurando na internet as respostas para as perguntas que as ovelhas vão te fazer, você tem uma responsabilidade com Deus, de alimentar o rebanho e para isso você tem que se preparar, e não vai ser fazendo um cursinho online que atingirá esse objetivo.

E por incrível que pareca ainda há quem ache que não é necessário um preparo mais rígido como só o que uma faculdade pode proporcionar. Você pode ser o mais estudioso possível, mas você nunca terá o rigor que uma faculdade exige de seus alunos. Você pode fazer um curso básico, médio ou bacharel livre online, que seja, mas esses nunca vão te dar o preparo que uma faculdade de quatro anos te daria. Paulo fala que aquele que ensina, que faça-o com zelo e capricho (Rm 12:7).

Eu gostaria de falar sobre o processo nas igrejas batistas, mas isso vai variar de acordo com cada igreja, pois como a batista é uma igreja de governo congregacional, este pode variar de igreja para igreja, mas as mais tradicionais seguem um padrão no quesito formação teológica. Eu vou deixar aqui um link para uma cerimônia de ordenação de um novo pastor da Igreja Batista Redenção, pastoreada pelo Pr. Marcos Granconato, conhecido debatedor do Vejam Só! na qual ele [Pr. Granconato] fala acerca do processo pelo qual o Pr. Isaac passou até esse dia [sua ordenação]. Basta clicar aqui para assistir o vídeo. E neste outro link você tem acesso a um artigo escrito pelo Pr. Granconato para quem almeja o pastorado.

Eu citei aqui dois exemplos de duas grandes instituições eclesiásticas brasileiras, a Igreja Presbiteriana do Brasil, que como o próprio nome diz é uma igreja presbiteriana e a Assembléia de Deus que é uma igreja pentecostal que é dividida em três grandes vertentes chamadas de ministérios, são eles: AD Ministério Madureira, AD Ministério Belém e AD Ministério Ipiranga. Vale salientar aqui que há outras igrejas que se intitulam Assembléia de Deus que seguem basicamente as mesmas linhas doutrinárias mas não são parte de nenhum dos três ministérios que citei. Estas três são históricas e outras são mais recentes, mas como geralmente têm origem em alguma das outras Assembleias, o modus operandi é basicamente o mesmo.

E claro, tem também as igrejas independentes que não estão ligadas à nenhuma denominação e que não seguem um modelo padrão. Eu sei de uma igreja em que o pastor principal se auto-consagrou pastor, começou com um pequeno grupo se reunindo em casa e hoje é uma grande igreja. Os pastores auxiliares foram todos treinados e consagrados por ele, bem como assim são os futuros obreiros.

Formação

Como escrito acima, a IPB dá muita ênfase à formação teológica do aspirante ao santo ministério. A própria estrutura da IPB é composta por 9 seminários para a formação de seus pastores e também é a mantedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie que oferece um curso de Bacharelado em Teologia, porém esse curso não é para a formação dos pastores presbiterianos, sendo que esta é a função dos Seminários. O motivo da diferença entre o curso do Mackenzie e dos Seminários está na questão do reconhecimento do curso por parte do MEC e os requisitos para isso. É um assunto totalmente à parte do objetivo dessa análise.

A IPB também é a fundadora e mantedora do Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper que visa à continuidade da formação dos seus pastores e de outras denominações, oferecendo cursos de pós-graduação tanto de mestrado quanto de doutorado. Vale salientar que também esses cursos não têm chancela do MEC e não é o objetivo do CPAJ em obtê-los. 

Enquanto que os pastores presbiterianos têm uma formação sólida, passando por um seminário de quatro anos em tempo integral ou cinco anos caso cursado à noite, no caso das ADs não há tanta rigidez. É comum encontrar três níveis de cursos de teologia comumente cursado por obreiros assembleianos, sendo eles o nível básico, médio e bacharel livre. 

Não há uma padronização na oferta dos cursos e geralmente ou são oferecidos na forma EaD ou presencial com aulas uma vez por semana ou até três vezes por semana, como é o caso do curso de Bacharelado livre em Teologia do IETEB que tem duração de três anos e a frequência das aulas é de três vezes por semana. É comum encontrar pastores que fizeram apenas cursos básicos, médios e os bacharéis livres, e até pastores que não fizeram nenhum dos três. 

Claro que há sim outros seminários e faculdades com cursos presenciais de quatro anos. Como por exemplo a Faculdade Batista de São Paulo cujo bacharelado tem duração de quatro anos e também é reconhecido pelo MEC. Seguem também na mesma esteira a Universidade Mackenzie e a Metodista de São Paulo.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Cuidado com o Devorador

Antes de mais nada quero deixar muito bem claro que não sou contra o dízimo. Sou contra sim as ameaças e falsas promessas que sempre têm num sermão onde o dízimo é o foco. Confesso que meu sangue ferve quando ouço coisas do tipo "Dê o dízimo para que o devorador não toque nas suas finanças." Ou "Quem dizima, é abençoado." Mas e na prática como é isso? Vejo igrejas com muitos membros e nunca vi nenhuma Ferrari lá, ou alguém pousando de helicóptero (talvez algum "dono" de igreja sim), significando que o irmão foi abençoado por ser um bom dizimista.

A desculpa é sempre a mesma: ser abençoado não é só ter dinheiro. Olha a conversa fiada, na hora de pregar sobre dízimo e dizer que Deus vai abrir os celeiros do céu se trata de dinheiro, mas na hora de dar uma desculpa por não sermos abençoados financeiramente aí o tom da conversa muda; a definição de "benção" já é outra.

Eu creio sim que o crente deve dizimar e ofertar para manter os serviços da casa do Senhor em pleno funcionamento. O dinheiro do aluguel da igreja não cai do céu, as contas de luz, internet, água também não são pagas de forma miraculosa, todas essas contas e mais outras são pagas com dinheiro oriundo dos dízimos e ofertas. O que acho errado são as promessas surreais de "bençãos" e ameaças de que o devorador está aí só esperando você não dar o dízimo para destruir suas finanças. Sangue de Jesus tem poder! Para falar uma bobeira dessas você terá que concordar com as seguintes afirmações: 1. Deus é vingativo, pois apesar de ter sido misericordioso para nos agraciar com a vida eterna, ele está só esperando nós vacilarmos para se vingar da forma mais cruel: atingindo as finanças que são parte fundamental para a vida das famílias. Que Deus mau! E o pão de cada dia fica onde? (Mt. 6:33) Me parece que Deus está esperando que o crente não dê o dízimo para deixá-lo só no pão e água. 2. E se você falar que por Deus ser santo e não fazer esse tipo de coisa, terá que concordar que ele é igualmente mau por deixar o Satanás fazer isso - pois se como dizem que o devorador é o satanás - ele ao perceber que o crente não deu o dízimo, vai lá no terceiro céu e pede a aprovação de Deus para bagunçar a vida do crente (Jó 1:12) e Deus em sua infinita "bondade" o permite para dar uma lição no crente desobediente.

Eu já ouvi dizer que o crente que não dizima não vai pro céu, pois ele está roubando Deus e os ladrões não vão pro céu (1 Co 6:10). Nem vou entrar no mérito dessa questão. Se Jesus voltasse hoje, muitas crianças e adolescentes iriam pro inferno, pois não dão a décima parte de suas mesadas. Já pensou nisso? Você pode até alegar que o pai já deu o dízimo, então o montante da mesada estaria livre do "imposto celestial", mas se fosse assim, os funcionários de um fazendeiro que é dizimista e dá o dízimo de sua colheita não precisariam dizimar pois o patrão já deu.

Vamos para outro cenário baseado na promessa de que se eu dizimar o devorador não tocará nas minhas finanças. Eu sou um trabalhador normal que troco meu tempo por uma remuneração, isso no setor privado, e estou sujeito às mudanças econômicas: país entra em crise, empresas demitem etc. Então eu tenho que estar em constante alerta para não ser pego pelo devorador, pois se eu der o dízimo direitinho, mesmo se a empresa em que eu trabalho me desligar, Deus é obrigado a me dar outro trabalho, certo? Errado, e já vou dar explicações econômicas para isso. Agora vamos para um crente concursado. Felipe Labaxuria é funcionário público, ele vez ou outra oferta alguma quantia para a casa do Senhor, mas não é fiel nem nas ofertas e nem nos dízimos. Me responda, no caso de alguém que trabalha no setor privado e por este motivo não tem estabilidade, ou seja, pode ser desligado a qualquer momento, nesse caso seria muito fácil para o "devorador" pegar ele, bastaria fazer com que ele fosse desligado da empresa. Mas e no caso do Felipe Labaxuria que tem estabilidade e não pode ser mandado embora, como que o devorador vai pegar ele? Tenho algumas idéias: ele poderia ser acometido por alguma enfermidade fazendo com que ele gastasse seu salário com remédios, consultas etc, e/ou o devorador podia fazer alguém bater no carro do Felipe e fugir assim Felipe iria assumir os prejuízos, e isso poderia ser feito várias vezes até Felipe desistir de ter carro (ou não ter mais condições de ter um), e quando ele não tivesse mais carro o devorador arrumaria outra forma criativa de castigar Felipe. Duas formas simples de atingir as finanças de Felipe. Mas que Deus é esse que busca formas de punir seus filhos de uma forma tão brutal?

E enquanto as promessas? Eu sou novo convertido (me converti em mar/2018) mas já ouvi cada coisa. Em uma ocasião o pastor falou que passou um bom tempo como cooperador pois ele não era um dizimista fiel, foi somente a partir do momento em que ele começou a ser fiel nos dízimos que seu "ministério decolou" além do mais, ele foi promovido várias vezes.

Não são rara as vezes em que ouço de que o segredo da prosperidade está no dízimo, e citando o texto de Malaquias o pastor até mencionam "[...] e vejam se não vou abrir as comportas dos céus e derramar sobre vocês tantas bênçãos que nem terão onde guardá-las." (Ml 3:10 NVI) e os irmãos dão aquele glória a Deus. Hoje sabemos que naquela época a economia era baseada na agricultura e pastoreio, então o texto faz muito sentido quando diz que não haverá local grande o suficiente para guardar a produção (trigo, cevada, etc) mas hoje em dia, há bastante lugar sim, na minha conta bancária cabe o quanto quiserem colocar lá, pode por R$ 1 milhão, R$ 100 milhões que cabe tranquilamente, e até hoje espero essa abundância, meu celeiro ainda não encheu!

Eu queria entender como seria o processo de castigo e benção nos dias atuais. Na época de Israel, era simples, eu fui criado na roça sei como funciona, na época de chuva, planta-se espera-se o tempo determinado e colhe-se o que plantou, então se eu não dizimasse esse ano, poderia esperar uma colheita bem rala no próximo ano. Mas e nos dias atuais, se eu não dizimar, quando que o devorador vem me pegar? No próximo ano? E como está escrito no texto, basta dizimar que na próxima colheita as comportas dos céus se abrirão, então logicamente o dízimo seria maior e talvez no próximo ano poderíamos nós esperar uma colheita ainda maior? A cada ano uma colheita maior do que a outra, que benção, esse tipo de retorno é bem melhor do que qualquer Fundo de investimento. Aplicando o texto nos dias atuais poderia eu esperar um aumento salarial no próximo ano? Se o aumento fosse na casa dos 10% a.a, e eu começasse a carreira ganhando um salário de R$ 2.000 por mês, em 30 anos eu estaria ganhando R$ 34.898. Que benção meus irmãos, vamos todos dizimar!

Quantas pessoas você conhece que ganham esse valor? Eu já conheci um diretor que ganhava próximo a esse montante, ele nem evangélico era, era espírita, mas ele estudou muito e era extremamente inteligente, fruto de muito estudo. Se essa lógica se aplicasse aos dias de hoje, mesmo que fosse verdade, e todos os crentes ganhassem aumentos reais todos os anos, iria acontecer duas coisas: 1. muitas pessoas vendo seus irmãos crentes viriam pra igreja em busca de bençãos materiais e não salvação e 2. como o mercado não funciona dessa maneira, a inflação comeria o poder de compra do dinheiro, fazendo com que, apesar do aumento nominal, o valor real ficasse estável ou até menor (inflação).

Sobre oferta. Em certa ocasião eu ouvi dizer que o dízimo era pra repreender o devorador e a oferta para receber a benção. Então você dizimando estaria repreendendo o devorador e ofertando Deus lhe abençoaria com mais dinheiro. Vejo várias igrejinhas com irmãos em condições normais, então se é verdade a afirmação acima não me resta outra alternativa a pensar, ou os irmãos não estão dizimando ou não estão ofertando, pois eu sempre passo aqui e ainda não vi nenhum Audi, Sportage estacionado em frente da igreja, pois se for verdade que as ofertas trazem bençãos e a lógica que descrevi em parágrafos acima estiver certa, todo ano os irmãos estariam melhores financeiramente e teriam condições de comprar belos carros, mas se não é assim na prática. Onde está o problema? Será se é na fé? Agora vamos analisar essa outra questão; desculpa de fé.

Sabe-se que há diversos textos em que a bíblia diz que se pedirmos com Deus irá atender (Jo 14:13; Mc 11:24) e eu já escrevi isso aqui. Mas se é só pedir com fé então Deus atende? É muito dizer isso, pois se o irmão chegar no pastor e reclamar que até agora nada de Deus aparecer com a benção o pastor pode simplesmente dizer que o irmão não pediu com fé o bastante. Aí eu te pergunto, faltou fé da parte de Paulo para que ele não curasse Timóteo? Ou quando Paulo pediu a Deus para que tirasse o espinho de sua carne e Deus falou "não", faltou fé da parte de Paulo?

Eu poderia descrever alguns outros cenários que colocaria em total descrédito essa triste prática de ameaças e falsas bençãos acerca do dízimo, mas vou parar por aqui. Antes que me venham com o relato de Abraão e Melck de Gênesis 14, leiam aqui o que escrevi sobre isso.

No Novo Testamento não temos nenhum relato sobre a quantia exata a ser dada como "dízimo". Temos sim relatos de Paulo fazendo coleta de ofertas (2 Co 8,9), Paulo agradecendo aos Filipenses por terem enviado ofertas para ele (Fl. 4), vemos em Atos os irmãos dando dinheiro aos apóstolos para ajudar na obra (At 5), Paulo fala que o obreiro é digno do seu salário (1 Tm 5), e assim como o dinheiro do aluguel da igreja onde nos reunimos para adorar a Deus não cai do céu, também não vai cair o dinheiro para pagar o pastor. Alguns podem até falar que pastor não é profissão e que deveria ser um trabalho voluntário, mas se formar não custa barato e dependendo do tamanho da igreja o pastor não consegue trabalhar fora.

Alguns até mencionam o relato do Senhor Jesus confrontando os Fariseus acerca do dízimo da hortelã (Mt 23), mas vamos separar o objetivo de cada narrativa, pois se formos levar ao pé da letra tudo o que Jesus falou, era pra eu estar sem meus dois olhos pois Jesus disse que se meu olho me fizesse pecar eu deveria arrancá-lo (Mt 18).

Meu relato pessoal. Eu dou os 10% do que ganho e sempre que posso, oferto, não por conta do que está escrito em Malaquias pois eu sei ler interpretar a bíblia e sei que é para Israel e o que é para a Igreja e não me deixo iludir pelo discurso dos pastores despreparados ou mal intencionados pois eu prefiro ficar com 2 Co 9:7 onde diz que "Deus ama quem dá com alegria." Se eu dizimar esperando uma benção, isso não é por alegria e sim por interesse. Se Deus quiser me abençoar; ele é Deus, senão quiser, ele continua sendo Deus.

Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1).

terça-feira, 7 de maio de 2019

Tudo o que eu pedir Deus fará. Será que a Bíblia ensina isso mesmo?

Paulo falou pra Timóteo que haveria um tempo em que as pessoas não aguentando a sã doutrina iriam atrás de mestres que pregam o que eles querem ouvir. (2 Tm 4:3). Vemos muito isso hoje em dia, e afirmo que não é só nas igrejas neopentecostais onde reina a teologia da prosperidade. Em igrejas pentecostais tradicionais também há um certo exagero, principalmente por parte dos conhecidos pregadores itinerantes. Não falo só na parte da prosperidade, mas em outro evangelho que está em moda; o evangelho do triunfalismo.

Carregado de mensagens que massageiam o ego e sermões carregados de chavões como "a vitória vai entrar na sua casa", "tem livramento pra sua casa hoje", "está vindo uma chuva de bençãos" entre outros. Não que não devamos buscar ter uma vida confortável, ter paz, saúde e tranquilidade. Isso todos buscam independentemente de estarem ou não na igreja. O problema está no exagero, pois tem pregador que só sabe pregar isso e usa versículos separados para dizer que Deus quer que você seja "abençoado", faz parecer Deus o gênio da lampada mágica e que está sempre esperando para atender às suas orações e quando vem a prova, é sempre culpa do diabo.

Esse tipo de sermão se utiliza de um recurso que eu chamo de exposição seletiva, uma exposição apenas daqueles versículos que dão suporte à ideia do sermão, mas que quando lido no contexto geral da bíblia temos um outro entendimento, uma vez que a bíblia não se contradiz. E as pessoas adoram esse tipo de mensagem, ninguém quer ouvir a verdade ou um sermão mais expositivo.

Sem contar os "atos proféticos" ou "liberação de palavras" em que o pregador pede para você levantar a mão para receber o ato ou a palavra, dando a entender que se o crente não levantar a mão, Deus vai negar a "benção". Fico imaginando depois encontrar o dito pregador tempos depois e falar pra ele que a benção não veio, imagine a cena na qual o questiona e ele pergunta: - irmão você levantou a mão? Porque pra receber a benção tinha que levantar a mão, caso contrário eu não me responsabilizo. Chega a ser hilário, e pior talvez é escutar um "você não teve fé", afinal a bíblia diz que tudo o que pedir crendo receberemos. (Mc 11:24). Não é mesmo? Não é bem assim!

Agora que desabafei vamos para os versos. Como falei e deveria ser de conhecimento de todo mundo, a bíblia ela não se contradiz. Tem uma frase muito conhecida que é mais ou menos assim: "texto fora de contexto vira pretexto". Eu vou mais além, pois não deve ser levado em consideração somente o contexto do verso, como parágrafos anteriores e posteriores ou só o livro, mas sim toda a bíblia, pois pode ser que em outro livro há um verso complementar e eu vou mostrar isso agora.

Eu mencionei Mc 11:24 que está escrito assim "Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco." Há o mais famoso de todos que diz assim "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á." (Mt 7:7-8). Jesus vai além e diz "Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito." (Jo 15:7). "E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei." (Jo 14:13-14). Enfim, há vários textos que dão a ideia de que basta eu pedir, se tiver fé, Deus fará o que leva o crente a pensar em duas coisas: (1) se eu não recebi é porque não tive fé ou (2) ainda não é o tempo certo de receber a benção. Não foi assim que o pastor ou algum líder te falou?

O verso-chave para entender todos esses não está nos evangelhos, mas sim na primeira epístola de João onde ele diz "E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve." (1 Jo 5:14). Matou a charada. Se você não recebeu o que há tempos vem pedindo, não é falta de fé irmão, talvez isso signifique que não é da vontade de Deus que você receba o que vem pedindo. Por exemplo que ele faça aquela vizinha que vive em baile funk se apaixone por você, na oração você diz que vai levar ela pra igreja pra ela se converter. Muda o foco da oração irmão.

Amados, há uma diferença no objetivo dos evangelhos e das epístolas. Como João falou no final do evangelho escrito por ele que se fosse pra relatar tudo o que Jesus fez "nem no mundo inteiro caberiam os livros que seriam escritos." (Jo 20:25). Isso vale para o que Jesus falou e ensinou também, pois os evangelhos não são um tratado exaustivo, em outras palavras nem tudo o que Jesus fez ou disse está contido nos evangelhos. Podemos dizer que o que Pedro, Tiago, João escreveram em suas epístolas é fruto dos ensinamentos do Senhor Jesus [do tempo que passaram com ele], aqui inclui Paulo também que recebeu o evangelho mediante revelação de Jesus (Gl. 1:11-12). 

Ao ler Mt 7:7, Jo 15:7, 14:13-14 temos que ter em mente 1 Jo 5:14! Nossas pedidos em oração serão atendidos se estiverem de acordo com a vontade de Deus. Fale a verdade, quem nunca pediu pra ganhar um prêmio seja na mega-sena, sorteio ou algo parecido e até prometeu pra Deus que se ganhasse doaria parte pra caridade, igreja, ou pobres? Já imaginou se Deus concedesse tudo o quanto pedimos? Iriamos morrer de fome, pois todo mundo iria querer ser rico e não teria ninguém pra fazer os trabalhos que ninguém faria em condições normais [economicamente falando isso seria impossível, mas não entrarei no detalhe aqui pois teria que descrever alguns conceitos das ciências econômicas].

Por que não creio "no Batismo com o Espírito Santo" como é pregado hoje.

Não vou aqui fazer uma introdução bonita nos moldes do que chamo "estilo americano" [1] ou como os jornalistas gostam de fazer em suas matérias. Se você veio até aqui você já sabe a história do pentecostalismo e está familiarizado com o debate acerca do batismo com o Espírito Santo. Vamos direto ao assunto.

Então o termo "batismo com Espírito Santo" é muito utilizado para descrever o que chamam de "segunda benção" ou um "enchimento do Espírito Santo". Quando confessamos que Jesus é o Senhor, ele nos sela com o Espírito Santo (Ef. 1:13-14), e o Espírito Santo passa a habitar em nós (1 Co 6:19), mas para os pentecostais há ainda uma segunda vinda do Espírito Santo que te encherá de uma maneira sobrenatural e a única forma de saber que você recebeu esse segundo enchimento do Espírito é falar em línguas [estranhas]. Eles tomam como base o livro de Atos, onde de fato, vemos em três ocasiões pessoas falando em línguas e profetizando após o recebimento do Espírito. Porém, vale ressaltar que o livro de Atos é um livro cujo estilo literário é conhecido como descritivo, pois ele narra uma história, ou seja, sequência de eventos e não tem como objetivo ser uma norma, como é o caso das epístolas, mas os irmãos passaram a dizer que Atos é sim uma narrativa. Em outra parte eu vou descrever as dificuldades que tenho com esse pensamento.
Fora o livro de Atos, nós vemos esse assunto sendo tratado na primeira carta de Paulo à igreja de Corinto, que de fato é um livro normativo. Mas antes de entrar na carta aos coríntios eu quero descrever aqui rapidamente sobre as ocorrências do livro de Atos.

Em Atos 2:4 lemos pela primeira vez do fenômeno falar em línguas, já aqui temos muitos argumentos acerca da natureza dessas línguas; uns dizem que são línguas estranhas e outros que são línguas humanas. Não vou entrar nessa disputa, apenas vou falar dos objetivos de cada relato. Aqui temos o dia de Pentecostes, muitos peregrinos vindo para Jerusalém, uma boa oportunidade para de forma eficiente falar de Jesus Cristo. Foi por isso que o Senhor antes de subir aos céus falou para que ficassem em Jerusalém (At 1:4) para que no dia certo eles fossem usados para proclamar às boas novas de uma forma sobrenatural.

Chegado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar (v. 1) e eles foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas (v. 3-4) de forma que os peregrinos que vinham para Jerusalém ouviam em suas próprias línguas (v. 8). Pedro depois de explicar tudo o que aconteceu, muitos foram convertidos (v. 41). Como vemos aqui as línguas tinham um objetivo de proclamar as boas novas, como que um judeu iria falar de Jesus para um medo sem saber falar a sua língua? E também serviu de um sinal externo, um poder sobrenatural, que só podia ser de Deus. O fato é que Jesus antes de partir falou-lhes que eles receberiam poder do Espírito [tão somente] para servirem de testemunhas de Cristo. (v. 8).

Agora vamos para outra parte muito usada: a oração de Pedro e João e o recebimento do Espírito pelos Samaritanos. Sabemos que após o dia de pentecostes a coisa ficou estreita para o lado dos apóstolos devido as perseguições. Enquanto os Apóstolos ficaram em Jerusalém (v. 8:1) e os outros discípulos saíram anunciando o evangelho. Através da pregação e realização de sinais e prodígios de Felipe em Samaria, muitos creram e isso chegou até os ouvidos dos apóstolos que foram até lá conferir, aí chegamos na parte onde Pedro e João impondo as mãos nos novos convertidos, eles recebiam o Espírito Santo. Aqui não vemos manifestação sobrenatural, porém pelo fato de Simão o mágico ter mostrado interesse em "adquirir" esse dom de fazer com que recebessem o Espírito Santo, dá a entender que houve uma manifestação sobrenatural, eu até concordo com isso, mas vamos entender o motivo pelo qual João e Pedro foram enviados e porque eles não haviam ainda recebido o Espírito Santo. Note também aqui que não é usado o termo "batizado com o Espírito Santo".
Quem conhece de bíblia sabe da rixa dos judeus com os samaritanos que remonta a época dos Reis, e isso fica evidente em Lucas 9:51 quando João perguntou pra Jesus se este queria que eles [João e Tiago] mandasse descer fogo do céu para consumir os samaritanos, remontando ao episódio de Elias e os israelitas quando Elias mandava descer fogo e os consumia. Então era preciso que João visse que o evangelho era também para os samaritanos e não somente para os judeus, e qual outra forma de provar para ele que os samaritanos também estavam no plano de Deus senão uma experiência in loco? Por isso João foi com Pedro. 

Olha que interessante agora, logo mais Felipe prega para o eunuco e não vemos nenhum relato do eunuco falando em línguas ou profetizando!

Agora vamos para Pedro na casa de Cornélio e a inclusão dos gentios no capítulo 10. Os judeus não podiam nem ficar perto de um gentio (At 10.28) que dirá imaginar que eles estavam inclusos no projeto de Deus, embora Jesus já tivesse lhes falado que eles [os apóstolos] seriam testemunhas até os confins da terra (At 1.8). Então Pedro está lá, falando das coisas de Deus e de repente o Espírito Santo cai sobre todos os que estavam ouvindo as palavras de Pedro e estes começam a falar em línguas e a profetizarem (v. 44-46), o que foi isso senão Deus falando para Pedro que os gentios também estavam no projeto de Deus? Agora vamos nos atentar as palavras do próprio Pedro quando ele diz "pode alguém recusar a água [batismo com água], para que não sejam batizados estes que, assim como nós, receberam o Espírito Santo?" (v. 47). Está nítido aqui o objetivo dessa manifestação sobrenatural.

Até agora podemos notar um padrão: onde houve manifestação de línguas, o número de fieis presente era superior a um e vou explicar o porquê da relevância dessa informação. Lembra que após a pregação de Felipe em Samaria ele pregou para o eunuco? Pois é, ele não precisou de uma experiência sobrenatural para crer no Senhor Jesus. Outra prova de que os sinais e prodígios serviam para testemunhar que Cristo era o Caminho está na cura de Enéias. Pedro vendo Enéias que há anos era paralítico, falou "Enéias, Jesus Cristo te cura! Levanta-te e arruma o teu leito." (At 9:34) e qual foi o resultado desse prodígio realizado por Pedro? Lemos em seguida "Viram-no todos os habitantes de Lida e Sarona, os quais se converteram ao Senhor." (v. 35). Não precisou de ninguém falar em línguas para que eles se convencessem de que Jesus é o Senhor e se converteram. 

Agora vamos para o último relato do livro de Atos sobre manifestação de línguas, no capítulo 19. Paulo vendo uns discípulos pergunta se eles haviam recebido o Espírito Santo e estes lhe responderam dizendo que nem sabiam o que era esse tal Espírito Santo, dando a entender que eles eram discípulos de João e não ouviram o sermão de João Batista acerca do Batismo de Jesus (Mt 3:11-12). Então Paulo impondo-lhes as mãos estes recebem o Espírito Santo e começam a falar em línguas e a profetizar, servindo de sinal de uns para os outros.

Outro caso de muita confusão é acerca da menção do "batismo com o Espírito Santo" mencionado por João e que muitos inferem o segundo batismo a esse termo. Mas isso não pode ser entendido dessa forma, pois ao fazer isso, estaremos ignorando a regra de ouro da interpretação bíblica: o contexto. Pois em Mateus 3:11 quando João compara o seu batismo [do arrependimento] com o batismo do Senhor Jesus dizendo que o batismo de Jesus é com o Espírito Santo, ele está apenas dizendo que ao confessarmos Jesus como nosso Senhor recebermos o Espírito Santo que é o penhor de nossa herança (Ef. 1:13-14), tanto é que João não apenas menciona o batismo com o Espírito Santo mas fala do batismo com fogo e que muitos irmãos ignorando o verso doze afirmam que o fogo é um fogo bom, ora, se João menciona dois batismo no verso onze e no verso doze ele usa dois objetos para descrever a consequência: o trigo (b. Espírito Santo) é recolhido no celeiro e a palha (b. fogo) jogada no fogo, não podemos dar outro significado aqui ao fogo senão ao fogo do juízo. Dizer que o fogo é um fogo bom, purificador é um erro grotesco. Eu nunca vi palha ser purificada por fogo. Se jogarmos palha no fogo ela simplesmente desaparecerá.

Agora que desmistificamos os relatos do livro de Atos acerca das experiências com línguas, vamos para a norma, que é onde esse tema deveria ser tratado.

Em 1 Co 12,14 Paulo trata acerca dos dons espirituais. Pelo teor da carta, subentende-se que os irmãos de Corinto estavam dando um valor muito grande ao dom de línguas, pois há muitas menções ao dom de línguas entre os capítulos doze até o quatorze.
Eu quero chamar a atenção para a seguinte questão: ao dizer que (1) há dois batismos distintos e (2) que a única evidência de que o crente foi "batizado com o Espírito Santo", os irmãos estão inconscientemente afirmando que para eu receber qualquer outro dom (palavra de sabedoria, palavra do conhecimento, profecia) eu teria que obrigatoriamente falar em línguas, caso contrário eu não tenho como provar que fui "batizado". E isso é um absurdo, uma vez que os dons são para a edificação da igreja (1 co 14:4) e também serve para testemunhar a presença de Deus (1 co 14:25). Ou seja, só quem pode contribuir com a obra é quem tiver sido "batizado com o Espírito Santo"? 

Vamos para o versículo mais óbvio que faz cair por terra essa tese de que a única evidência de que o Espírito Santo habita em nós é o falar em línguas, uma vez que não creio que haja dois batismos. Paulo diz "em um só Espírito, todos nós fomos batizados [...] E a todos nós foi dado beber de um só Espírito." Como que eu posso afirmar que só foi batizado quem fala em línguas se Paulo afirma que nem todos falam em línguas "São todos mestres? Ou, operadores de milagres? Tê todos os dons de curar? Falam todos em outras línguas?" (v. 30). Paulo aqui está usando de um recurso literário, uma pergunta retórica, a qual ele já tem a resposta. Se para você não está claro o suficiente, Paulo ainda diz "Eu quisera que vós todos falásseis em outras línguas" (1 co 14:5). Qualquer um que entenda um pouco de semântica vai concordar de que o "quisera" indica um desejo não realizado. Eu queria [quisera] ser rico. Ora se eu gostaria de ser rico, é sinal de que eu não o sou.

Eu até há pouco tempo não entendia o motivo dessa supervalorização do falar em línguas, pois acham que é um sinal de que é cheio do Espírito Santo, mas lendo as escrituras atentamente, pude notar de que isso não pode ser considerado como tal. Tanto é que Paulo diz que quem "profetiza é superior ao que fala em outras línguas" (v. 5). Então irmãos, vamos buscar os melhores dons, porque quem fala em línguas edifica a si mesmo mas o profeta edifica a igreja! (v. 3).

Para fechar esse debate sobre o livro de Atos, já que Atos é tido por alguns irmãos como uma normativa, por que então não vemos o apóstolo Paulo falando em línguas ao ser cheio do Espírito Santo? Só lemos que após ser batizado ele foi cheio do Espírito Santo. (At 9:17). A desculpa é que ele fala na carta aos coríntios que ele fala muitas línguas (1 co 14:18) apesar de achar que ele está falando e línguas humanas [Paulo era de Tarso, estudou em Jerusalém, que na época a língua era o Aramaico e ele teve que aprender Hebraico por causa da Tanak].

Vamos à questão: Atos narrativa descritiva ou normativa?
Para saber qual a diferença, dá uma pesquisada no Google, estou com preguiça de escrever sobre isso. Na internet podemos encontrar vários estudos a esse respeito, eu vou colocar algumas questões que encontramos no livro de Atos e que não vejo a aplicação das nos dias de hoje. Não estou dizendo que algumas lições do livro de Atos não sirvam para nós nos dias de hoje, não é isso, o que digo é que assim como a traição de Davi descrita num livro histórico não serve de exemplo para justificar uma traição, assim também deve ser com a abordagem ao livro de Atos.

1. Em Atos 5 lemos o triste relato de Ananias e Safira que por terem mentido ao Espírito Santo foram mortos. Primeiro acontece com Ananias (v. 3), após ser confrontado por Pedro Ananias cai morto (v. 4) e três horas mais tarde (v. 7) chega Safira, esposa do já finado Ananias e ela também mente e por este motivo cai morta (v. 10), temos dois casos de uma punição grave por um pecado que parece ser tão comum; mentira (Ef. 4:25). Você já ouviu algum testemunho de algum irmão que foi morto pelo Espírito Santo por ter mentido? Eu não.

2. Temos lido muitos relatos de irmãos sendo cruelmente assassinados por pregarem o evangelho em Países onde a perseguição ao cristianismo é ferrenha. Em Atos 5:18-19 após terem sidos presos, um anjo do Senhor abre as portas do cárcere e liberta os apóstolos. Eles estavam somente presos e foram soltos por um anjo, porque não vemos esses anjos em ação protegendo os irmãos em perigo nas condições que citei no início do parágrafo?

3. Quando vamos pra igreja, aceitamos Jesus o batismo nas águas não é imediato, em algumas igrejas os novos convertidos passam por um discipulado, fazem cursos e por aí vai, em Atos 8 Felipe batiza o eunuco logo após pregar o evangelho pra ele, e o eunuco pedir pra ser batizado, devemos fazer assim nos dias de hoje?

4. O que dizer de Atos 12:23 quando um anjo do Senhor feriu Herodes por não haver dado Glória a Deus? Será se hoje podemos esperar isso nos dias de hoje?

5. Já ia esquecendo, quando Judas morreu e decidiram substitui-lo, eles lançaram sortes para escolherem Matias, seria esse um método a ser usado para escolher obreiros para a casa do Senhor? (At 1:26)

Por último, vale ressaltar que eu creio na continuidade dos dons espirituais. Não posso negar pois o Senhor já me proporcionou experiências sobrenaturais que eu seria um tolo se não cresse. 

[1] Sempre que busco alguma informação na internet e entro no site para ler o artigo, há uma grande introdução bem organizada, cheia de detalhes, fatos e dados. Confesso que as vezes é chato.