quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Resenha: Igreja: agente de transformação.

CAPÍTULO 1. UMA ECLESIOLOGIA PARA A MISSÃO INTEGRAL.

Para Padilha, para a igreja fazer realmente missão integral ela deve reunir certos requisitos ou “...condições que a capacitem para a prática da missão integral” (p. 44). Não que haja uma igreja perfeita, pois ele mesmo admite que seriam inviáveis, nem existe uma fórmula ou estratégia que transforme a igreja da noite pro dia num agente de transformação, mas que essas igrejas que causam impacto têm em seu DNA algumas características. E aqui vai um comentário, pelo fato de o autor fazer menção dessas características, isso quer dizer que há igrejas que, segundo ele, não estão cumprindo com o papel de ser “sal da terá” e “luz do mundo”, ou seja, estão fazendo o trabalho pela metade. Mas segundo Padilha, as características dessa igreja que pratica a missão integral são as seguintes: (1) o compromisso com Jesus Cristo como Senhor de tudo e de todos; (2) o discipulado cristão como um estilo de vida missionário; (3) a visão da Igreja como a comunidade que confessa a Jesus Cristo como Senhor e (4) os dons e ministérios como meios que o Espírito utiliza para capacitar a igreja e todos os membros para o cumprimento de sua vocação.

Jesus histórico x Jesus ressurreto

“A missão da igreja, portanto, não pode se limitar a proclamar uma mensagem de ‘salvação da alma’: sua missão é ‘fazer discípulos’ que aprendam a obedecer ao Senhor em todas as circunstâncias da vida diária, tanto privadamente como em público, tanto no pessoal como no social, tanto no espiritual como no material.” (p. 52). Padilha faz uma crítica ao evangelho pregado atualmente, segundo ele, prega-se exclusivamente o Cristo ressurreto e esquecem do Jesus histórico. A diferença pode não parecer muito clara, falando nesses termos simplificados, mas basicamente a diferença é esta: o Jesus histórico (antes de sua morte e ressurreição) alimentava os famintos, curava os enfermos e libertava os cativos e o Jesus ressurreto pregava o reino de Deus. Então quando ele fala que pregam o Jesus ressurreto, só falam da salvação – e ele deixa claro que ele não quer dizer com isso que a salvação fica em segundo plano – sem se preocupar com o lado social; a situação em que a pessoa a quem o evangelho está sendo pregado está (talvez esteja em condições sub-humanas).

Ao fazer um breve comentário sobre a Teologia da Libertação ele descreve que “uma das características mais dignas de louvor da teologia da latino-americana da libertação foi a sua ênfase no Jesus histórico como paradigma da missão da igreja.” (p. 57), mas faz as ressalvas necessárias em relação à opção pelo comunismo marxista pelos teólogos da libertação – alguns teólogos protestantes mais conservadores também tentam enquadrar os teólogos da TMI como marxistas.

Tenho uma dificuldade em entender a parte na qual ele fala da “igreja e a cruz de Jesus”, onde ele fala muito sobre sofrimento. Ele escreve que “o sofrimento seria parte constitutiva da missão dos discípulos, como o foi na missão de seu Senhor.” (p. 58). Não ficou claro para mim o que vem a ser esse sofrimento. Ao comentar sobre 2 Co 5:18-19 ele diz que “o exercício do ‘ministério da reconciliação’, sem dúvida, tem um custo tanto em termos de entrega sacrificial pelos demais [...] como em termos de sofrimento por causa do evangelho.” (p. 58). Novamente aqui não vejo clareza por parte do autor. Dá margem para diversas interpretações.

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sábado, 16 de novembro de 2019

Resenha: Idade Mídia Evangélica no Brasil

MORAES, Gerson Leite. Idade mídia evangélica no Brasil. São Paulo, Fonte Editorial, 2010.

O livro ora resenhado foi escrito com o intuito de analisar o poder midiático da igreja evangélica Igreja Internacional da Graça de Deus liderada pelo Missionário R.R Soares e a relação da igreja, na figura do missionário, com a política. O autor faz um apanhado histórico da mídia e seu desenvolvimento e como isso influenciou a sociedade ao longo dos anos e como ela continua a exercer forte influência na sociedade hodierna. Hoje não se pode falar em modernidade sem falar em mídia e muito menos se pode falar em modernidade sem falar em religiosidade e autor nos mostra como a mídia esteve vinculada aos interesses religiosos. Fato é que a mídia, em sua forma impressa, que “Em 1501 o Papa Alexandre VI tentou estabelecer um sistema de censura mais rigoroso e abrangente, proibindo a publicação de qualquer livro sem a autorização do poder eclesiástico [...]” (p. 27) e a preocupação aqui era a disseminação de conhecimento que seria contra os interesses da ICAR, mas o que fica evidente aqui é o poder de atuação da mídia que pode ser usada para diversos fins – tanto para o bem quanto para o mal, como manipulação de informação, ou o que conhecemos hodiernamente como fake news – evidenciado pela tentativa de exercer um controle sobre ela. Toda essa introdução sobre a importância da mídia e o seu poder nos serve de subsídio para poder entender a tese principal do autor que é a de analisar o porquê do interesse na mídia e seus meios, o que a IIGD fez para chegar onde chegou e o que está fazendo para se manter e aumentar o seu poderio midiático.

Sendo a mídia uma peça fundamental para a ampliação e manutenção do poder no campo político, o autor defende que após a quebra do monopólio de concessões de rádio e TV em 1988, houve um significativo aumento no interesse dos evangélicos pela política, e o autor buscou também traçar um breve histórico da utilização das mídias de rádio e TV pelos evangélicos. Começando na década de quarenta, a Igreja Adventista foi a pioneira no uso o rádio, mas quem realmente ganhou tração e melhor aproveitou essa mídia foi o grupo pentecostal. Em 1951 desembarca no Brasil a Igreja do Evangelho Quadrangular que traz toda uma experiência que já é comum nos Estados Unidos, o uso do rádio, e a partir daí outras igrejas crescem usando esse meio e aproveitando bem a situação socioeconômica que estava transformando o Brasil na década de cinquenta. É também mérito da Igreja Adventista o uso da TV no meio evangélico, e outras igrejas pegaram carona nessa onda. Mas foi no final da década de setenta e início dos anos oitenta que os televangelistas passaram a investir em candidaturas políticas e um dos motivos desse interesse na política e principalmente pelo poder Legislativo, o autor escreve, “pode ser explicado porque a Constituição de 1988, no seu parágrafo 1º do Artigo 223, estendeu ao Congresso Nacional o poder de outorgar e também renovar concessões de rádio e televisão.” Fica claro aqui a real intenção do envolvimento dos evangélicos na política, isso é evidenciado, segundo o autor, pelo envolvimento desses parlamentares em comissões estratégicas como a CCTCI que é a comissão responsável pelas questões de outorga e renovação. Esse fato pode ser comprovado por dados; em 2004 o número de deputados da chamada Bancada Evangélica que eram titulares na CCTCI era de cinco deputados, no ano de 2004 esse número saltou para dez, o que nos mostra claramente qual é a verdadeira agenda evangélica na política, o autor deixa isso muito claro quando escreve: “lutar por concessões de rádio ou de televisão é uma questão tão estratégica quanto tentar converter novos fiéis para aumentar seus rebanhos.” (p. 57) É um ciclo, conseguir as concessões para aumentar seu poder midiático para ter mais penetração, atingir maior número de fiéis o que consequentemente aumentará o rebanho e esse rebanho servirá para perpetuar o poder da Igreja pois eles são facilmente convencidos a votar nos candidatos indicados pelos líderes religiosos pelo discurso maniqueísta comumente empregado na hora de pedir votos para os candidatos dos líderes evangélicos, e no caso do livro em específico o líder da IIGD.

Para analisar o tema proposto no livro, o autor além de fazer um apanhado histórico sobre o uso da mídia e sua influência em diversas áreas ao longo do tempo, como por exemplo sendo de suma importância para a Reforma Protestante, o autor também buscou analisar o passado do Missionário R.R Soares e também fez uso de diversos conceitos teóricos do campo da Sociologia como os conceitos de habitus, campo, agentes religiosos (sacerdote, profeta, mago), teoria da escolha racional etc. 

No capítulo um, após fazer uma breve introdução sobre o surgimento da mídia impressa, iniciando com a fabricação do papel na China no séc. II, a chegada dessa tecnologia na Europa, até o desenvolvimento da impressão por tipagem por volta do século VIII e as consequentes melhorias nos séculos seguintes, o autor prepara o terreno para o melhor entendimento do leitor sobre a influência dessa tecnologia na sociedade ao longo dos anos e como isso nos ajuda a entender essa relação da mídia com os evangélicos e a política. No princípio, os evangélicos não se preocupavam com assuntos de política mas percebendo a força que a mídia tem para alcançar um número maior de pessoas e a forma como conseguir acesso às mídias, os evangélicos começaram a entrar na política. Em 1988 a constituição estendeu ao Congresso Nacional o poder de outorgar e renovar concessões de rádio e TV e foi então aí que as igrejas evangélicas tomaram gosto pela política, tendo representantes no Congresso Nacional para lutar por concessões de rádio e de TV e levando em consideração o número crescente de evangélicos no Brasil, voto não faltaria e a estratégia usada pelos políticos evangélicos ou os apoiados pelas grandes igrejas é o discurso maniqueísta, que fica evidente na fala do missionário R.R Soares como relatado pelo autor na página 63, onde ele descreve uma fala do missionário em um evento da igreja IIGD em Campinas. Na ocasião o missionário diz que “contava com as orações dos irmãos para enfrentar uma série de provações que estavam levantando-se contra a RIT. Para enfrentar essas provações precisava que os fiéis apoiassem os candidatos [...]” (p. 63). Aqui fica claro o uso da tática do religioso que é fazer com que os fiéis – que conhecem bem os jargões evangélicos – acreditem que há uma batalha a ser travada e que é necessário ter representantes evangélicos no Congresso para frear essas investidas do “inimigo”. E em outra ocasião, registrada no livro, o autor nos apresenta um trecho de uma fala do R.R Soares, quando ele está negociando com um de seus representantes na política e ele fala como vai fazer para convencer os fiéis a votarem no político, ele diz “[...] Eu digo é de Jesus, é de Jesus...”. (p. 62). Novamente o velho discurso maniqueísta. E como sabemos qual a real intenção dos evangélicos na política? O autor fez um minucioso estudo sobre a atuação dos deputados evangélicos na Câmara dos Deputados e encontrou um padrão. Como já descrevi, a partir da Constituição de 1988, o Congresso passou a outorgar concessões de rádio e TV e a comissão responsável por essas concessões é a CCTCI. Interessante notar o aumento no interesse dos políticos evangélicos nessa comissão em particular. Em 2003, o número de titulares dessa comissão era de 51, destes 5 eram da chamada Bancada Evangélica. Em 2006, o número de deputados da Bancada Evangélica saltou para 10 membros titulares. E para corroborar com essa tese, temos algo bastante interessante em um registro da secretária do deputado Jorge Tadeu, quando ela diz “Ele [R.R. Soares] tem muito interesse em questões ligadas à sua TV e suas rádios”. (p. 66) O trecho foi retirado de uma entrevista com a secretária. Ao analisar as atividades do deputado Jorge Tadeu, o autor à princípio não encontrou indícios de participação deste na CCTCI, que é o órgão que trata destas questões, mas na entrevista com a secretária ficou evidente que o R.R Soares utilizava a influência do deputado com ministros afim de “desemperrar alguns processos sobre rádios pertencentes ao Missionário [...]” (p. 65) e em troca, o deputado ganhava exposição ao ser levado pelo missionário a grandes eventos da igreja e até aparições no Programa Show da Fé, exibido em horário nobre. 

No capítulo dois, após um breve relato da infância pobre de Romildo na pequena cidade Muniz Freire no Espírito Santo, sua conversão e mudança para o Rio em 1964, chegamos na parte onde é relatado um novo encontro religioso – o autor descreve que R.R Soares encontrava-se frio na fé nessa época -  que Romildo teve numa igreja que influenciará suas práticas religiosas futuras. A igreja em questão é uma igreja pentecostal liderada por um bispo canadense e onde há práticas de exorcismos, o que é algo novo para Romildo, já que ele vem de uma tradição reformada. É nesse ano também que Romildo tem contato com a literatura que marcará seu ministério, a teologia da prosperidade. Após seis anos na Igreja Nova Vida do bispo canadense McAslister, Romildo, já casado, sai desta igreja juntamente com seu cunhado Edir Macedo e vai para outra igreja, desta outra igreja ele novamente junto com seu cunhado saem e abrem aquela que ficou conhecida como Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Após conflitos internos, Romildo se desliga da IURD e funda a Igreja Internacional da Graça de Deus, e aproveitando esse contexto é interessante já introduzirmos alguns conceitos teóricos usados pelo autor para analisar essa problemática. O autor introduz o conceito de agentes religiosos – uma tipologia weberiana que foi usada por Bordieu -, que são: sacerdote, profeta e mago. “O sacerdote é o agente da continuidade da burocracia religiosa [...]”, o profeta é “[...] agente da descontinuidade, que, em momentos de crise, portanto, em situações extraordinárias, produzirá [..] uma nova concepção religiosa.” E aqui eu gostaria já de ligar esse conceito às ações de Romildo que juntamente com Edir Macedo saíram da Vida Nova para uma outra Igreja e depois desta para formar a igreja deles para em seguida romper com Macedo e abrir a sua própria igreja, uma ação tipicamente de profeta, ou seja, essa característica de rompimento para a criação de um novo movimento. Após a criação deste novo movimento, a figura do profeta dá lugar à do Sacerdote, o agente da continuidade e nesta nova fase R.R Soares busca estabelecer a ordem e “[...] perenizar um sistema de crenças e ritos sagrados.” (p. 102). E somente para efeito de elucidação, já que também mencionei esse agente, o Mago é definido como “o agente religioso prestador de serviços sagrados que atua de forma autônoma [...]” e este é geralmente combatido tanto pelo Profeta quanto pelo Sacerdote. E agora eu quero mencionar o importante conceito tratado no livro que é o conceito de campo, que é definido como “[...] um espaço de relações entre grupos com distintos posicionamentos sociais, espaço de disputa e jogo de poder.” (p. 64) e a importância desse conceito para a análise da problemática é o fato de que o campo religioso é marcado por contendas e disputas entre os atores que compõem o campo religioso, ou seja, há uma rivalidade entre as igrejas na disputa pelos leigos, aqueles interessados nos bens de salvação administrados pelas igrejas. E nessa corrida, ganha quem tem mais capital religioso e para conseguir mais capital religioso é necessário usar meios para atingir esses leigos de forma mais eficaz. É aí que entra os meios de comunicação, principalmente o rádio e TV.

No capítulo três é analisado as mídias da IIGD, sua expansão para um conglomerado que abrange diversas mídias (rádio, tv e revistas e jornais impressos) e o projeto do missionário em construir uma rede de televisão que propague os valores evangélicos para “[...] livrar os evangélicos e futuros evangélicos das garras do mal.” (p. 139). Com esse discurso maniqueísta, R.R Soares busca ser uma opção ao conteúdo secular que é oferecido por outras emissoras e dentro de seu grupo midiático e aqui mais especificamente nos programas da RIT, há uma gama de programas que visam atender às expectativas de diferentes grupos. No programa Curso da Fé, o objetivo é “[...] ajudar as pessoas a compreender este assunto que para muitos é mistério – o ministério da fé.” (p. 146) e nesse programa o próprio missionário é o apresentador, ele faz exposições bíblicas mas usa uma linguagem muito simplista e tende a espiritualizar tudo, mas isso é devido ao seu público, composto em sua maioria (80%) por pessoas das classes C,D,E com baixo capital cultural. O autor faz uma comparação com as igrejas históricas que procuram promover estudos mais aprofundados, o missionário traz mensagens simplistas para atingir seu público, que de outra forma não compreenderia. Outro programa analisado foi o CLIPT RIT, “Um programa para quem curte música e vídeo clipes de qualidade.” (p. 150). Foi identificado um conteúdo apelativo que “[...] busca dramatizar situações do cotidiano, como alguém passando dificuldade no trabalho, [...] na vida familiar [...] bem como a mudança imediata após ler a Bíblia ou ir a uma igreja [...]” (p. 150) e, de acordo com o autor, “Essa dramatização de situações, aproximam os receptores da mensagem e os conduzem aos bens de salvação distribuídos pela agência de salvação, no caso a IIGD [...]” (p. 151). Na análise do programa Show da Fé – o que tornou a IIGD muito conhecida pela população brasileira – nota-se uma ênfase na supervalorização do testemunho e em decorrência disso o autor buscou entender como o testemunho dá credibilidade à oferta religiosa. Para responder essa questão, o autor aplicou a teoria da escolha relacional usando o axioma 2 da teoria da religião de Stark e Bainbridge, ele escreve “[a] teoria da escolha racional diz que os seres humanos buscam o que percebem ser recompensas e evitam o que percebem ser custos.” (p. 173), ou seja, tentando resumir o argumento da análise do autor de todos os axiomas citados no livro, o ser humano este em uma constante busca pela resolução de seus problemas mas ao mesmo tempo ele não quer perder tempo com tentativas, então aquilo que para ele parece ser um método testado – e isso é atestado através do testemunho – faz com que ele se convença da eficácia daquele método, e como aqui estamos falando dos bens de salvação administrados pela IIGD, ele acaba virando um “cliente”, e é esse o objetivo da IIGD, com todo seu discurso maniqueísta, atrair expectadores para suas programações, prendê-los nessas programações e expô-los aos produtos ali oferecidos, como ficou evidente no caso do CLIP RIT. Fica evidente aqui uma segunda agenda por trás do discurso de “defesa da família” ou de ser uma alternativa ao conteúdo destrutivo das emissores seculares, que é o objetivo de aumentar ainda mais seu poderio midiático, cativar essas pessoas e torna-la clientes.

No capítulo quarto e último do livro, o autor buscou analisar a influência do poder midiático da IIGD sobre outros grupos religiosos e em especial sobre os presbiterianos. Para isso o autor fez uma pesquisa de campo com um número pequeno de presbiterianos do interior do estado de São Paulo, por ser um número de amostragem pequeno, o autor deixa claro que não tem pretensões de estabelecer um padrão estatístico, tão somente quis analisar algumas marcas da força de penetração midiática da IIGD. Analisando os dados dos entrevistados, o autor percebeu que a estratégia do missionário tem surtido efeito pois ele conseguiu penetrar e atingir até o público das igrejas históricas, quando perguntado, cerca de 40% dos entrevistados disseram que assistiam o programa Show da Fé pelo menos uma vez por semana e do total dos entrevistados (entre os que assistiam apenas uma vez até os que assistiam mais vezes) 17,5% dos entrevistados disseram que já chegaram a assistir a alguma programação da RIT TV, que não é conhecida como a Band TV, canal que veicula o programa Show da Fé. Entre outros dados, fica claro de que a estratégia do missionário e o seu estilo mais palatável – muito diferente do estilo polêmico do Edir Macedo - atinge a um público que parece não perceber as diferenças teológicas entre sua denominação e aquela do missionário. Vale ressaltar também que 10% dos entrevistados já compraram produtos oferecidos durante a programação e 72,5% disseram que comprariam algum produto anunciado, mostrando que não há um preconceito denominacional, ponto para a estratégia do R.R Soares. Caminhando já para o final do livro duas coisas que chama a atenção é o conceito de dupla pertença e a questão da criação de uma identidade “evangélica”. A dupla pertença é a ideia de um indivíduo que está ligado formalmente à uma instituição através de batismo, profissão pública da fé e devoção de seu tempo às atividades da igreja, mas que busca complementar isso assistindo, por exemplo, a cultos na TV ou no rádio mesmo que seja de outras denominações ou igrejas. Falando em denominações, o autor pôde perceber que 82,5% dos entrevistados são alheios às reduções denominacionais e 80% podiam perceber diferenças em questões doutrinárias do R.R Soares mas não sabiam dizer quais. E isso nos leva ao segundo ponto que é a identidade evangélica. Entre os pastores e teólogos há claras distinções teológicas entre as diversas denominações, mas entre os fiéis isso não fica muito claro. Há certamente uma diferença entre o católico e o não católico e para preencher esse vácuo, em nome de uma identidade nacional, adotou-se o termo “evangélico” que abarca todos esses grupos, que apesar das diferenças teológicas, que de alguma forma têm um pouco da herança da reforma protestante. Interessante notar é que essa identidade evangélica é o que possibilita a sobrevivência tanto do R.R Soares quanto de outros players no mercado religioso evangélico no Brasil. E por último, o missionário R.R Soares como todo seu carisma, prédica monótona e “clean” tornou-se palatável para o público evangélico, seja ele histórico ou não e seu sucesso acabou influenciando outros televangelistas que copiaram seu modelo e um bom exemplo é o Valdomiro Santiago, que, apesar de ter vindo da IURD, adoto o estilo “Soares” de fazer televisão.

Como vimos ao longo dos quatro capítulos deste livro, o autor tratou de traçar as origens da mídia e as influências que a mídia exerceu ao longo dos séculos e como esta vêm sendo usada hoje no meio evangélico como uma ferramenta de expansão e perpetuação de poder. É inegável hoje que grupos evangélicos exercem grande influência na política nacional e isso se deve ao poder midiático que esses grupos conseguiram ao longo dos anos através do envolvimento na política com base na barganha. O autor desmitificou o discurso comumente utilizado pelos líderes religiosos para angariar votos, como o discurso maniqueísta de uma batalha travada pelas hostes do mau contra os valores da família e contra o povo de Deus, quando na realidade, uma vez no poder, a atuação dos políticos que têm ligação com estas igrejas é totalmente voltada para os interesses desses líderes religiosos.

domingo, 20 de outubro de 2019

Amar também é servir


O tema de mensagens desse mês na igreja que congrego é: Bacia e Toalha, e se propõe a falar sobre servir o próximo. Bacia e toalha nos remete ao relato escrito no livro de João no capítulo 13 onde o nosso Senhor Jesus lava os pés dos discípulos num ato de humildade, pois ele como Senhor estava se submetendo àquele trabalho. Naquela época era algo comum lavar os pés daqueles que estavam em sua casa, o senhor da casa designava um servo para lavar os pés dos convidados. É bom lembrar que naquela época não tinham estradas nem muito menos veículos como temos hoje e as pessoas caminhavam muito e como usavam sandálias, os pés ficavam sujos e o ato de lavar os pés dos convidados era um ato de quem diz “seja bem-vindo”. Em Lucas 7:44, no relato da mulher que lavou os pés de Jesus com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos, Jesus fala ao fariseu que o recebeu que este não trouxera água para seus pés. Fica aqui mais uma evidência dessa prática nos tempos de Jesus.

Pois bem, todos conhecem o mandamento “amar o seu próximo como a si mesmo”, é muito fácil falar, mas como expressar isso na prática? Você lembra qual foi a última vez que você falou eu te amo para um amigo? Eu me lembro, faz muito tempo, mas não é algo tão fácil, soa estranho as vezes né, falar que você ama sua esposa, seus filhos, é fácil, mas falar para um amigo não é tão fácil assim, não é mesmo? Mas é um dever nosso amar nossos irmãos em Cristo e amigos, as vezes isso significa dizer “eu te amo”, afinal a gente nunca sabe se ele ou ela estará com a gente amanhã. Mas o que eu quero falar é sobre servir, que é também uma forma de amar. Afinal, dizer eu te amo e não expressar isso de forma prática, parece mais algo falso como alguns relacionamentos que vemos hoje, onde a pessoa fala eu te amo hoje e está traindo seu ou sua companheira amanhã. Então nós temos que demonstrar esse amor servindo nossos irmãos, temos que estar não somente atentos, mas também disponíveis para conversar e ajudar no que for preciso, claro que dentro de nossas possibilidades. Não é a toa que os evangélicos hoje são tachados de hipócritas por pregarem algo que eles não vivem, claro que estou aqui generalizando, mas sempre há esses casos.

Mas o que é servir e como servir? Eu gosto de pensar que enquanto estamos aqui na terra, estamos em missão, e nossa missão é proclamar as virtudes de Deus, como nos escreve o apóstolos Pedro, ele diz: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2:9), e como fazemos isso? Apenas pregando? Falando que Jesus é bom que Deus é aquilo que vai resolver todos os seus problemas? Não, nós temos que demonstrar essa mudança na prática, senão vamos cair naquilo “faça o que eu digo mas não faça o que eu faço”, ou seja, temos que estar atento às oportunidades para ajudar nossos irmãos, amigos, parentes, mesmo que eles ainda não conheçam a verdade que é Jesus Cristo, e quem sabe através desse nosso comportamento, de nossos atos, essas pessoas possam ver Jesus atuando através de nós e assim venham a conhecer a verdade. Infelizmente, há grupos religiosos que criaram essa ideia que a única maneira de fazer a obra de Deus é sendo um pastor, pregador, diácono na igreja, missionário, não, não é isso, todos nós somos sacerdotes como está escrito no texto que mencionei do apóstolo Pedro, basta a gente ter essa noção de que estamos pregando Jesus em nossas ações. Me lembro de um caso que ouvi de um médico que era um pouco frustrado por não conseguir fazer missões, pois na cabeça dele fazer missão é ir para outro lugar e pregar o evangelho, mas após participar de um seminário sobre esse assunto, ele descobriu que ele pode fazer missões no seu trabalho. A partir daquele dia, ele entendeu, e sempre que acabava o seu plantão ou expediente normal, ele dedicava um tempo a mais para atender a mais pessoas de forma voluntária, ele estava fazendo missões. Tiago escreve em sua carta que “se um irmão ou uma irmã estiverem necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentro vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso?” (Tg. 2:15-16), o que Tiago está dizendo aqui é que se alguém chega pra você falando que está com fome e você diz “olha irmão, vou orar pra você e Deus vai mandar alguém te abençoar”, de nada serve essa sua fé que você diz que professa, talvez você era a providência para essa pessoa, nós é que muitas das vezes somos insensíveis e até pão duro também, sem fé, achando que se a gente der algo vai faltar para nós, isso é atitude de quem não conhece a palavra e nem o poder de Deus.

Quando eu olho para alguns dos personagens bíblicos, eu vejo missionários, homens com uma missão divina. Veja Abraão. Deus tirou Abraão de sua terra e o mandou para uma terra desconhecida e longe e falou para Abraão que dele seriam benditas todas as nações, e de fato, Jesus, nosso salvador veio da linhagem de Abraão. Davi por outro lado, teve outra missão, assim foi com os profetas, e alguns até morreram por isso, os reis, enfim. Cada um tinha uma missão específica. Nós também temos uma missão, que é proclamar as virtudes de Deus para aqueles que ainda não conhecem a verdade. É verdade que Deus separa alguns para serem pastores, evangelistas, diáconos, sim, mas isso não isenta nossa responsabilidade de amar e servir o próximo. Então essa é a mensagem que eu quero deixar aqui hoje. Amemos uns aos outros e ajudemos uns aos outros.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Atualização sobre o artigo "Você é crente mesmo?"

Eu pensei em deletar e reescrever o artigo em questão <Você é crente mesmo?>, pois com o tempo a gente acaba ficando mais maduro e tendo mais conhecimentos acerca de determinados temas ao ponto de ter que mudar certas concepções, mas esse é um processo contínuo, não tem fim, então se eu tivesse que deletar tudo que já escrevi algum dia, iria acabar não tendo nenhum registro. Fato é que isso aconteceu com grandes teólogos como Agostinho de Hipona e Martinho Lutero onde há uma clara evidência em seus escritos ao ponto de se referirem à eles como "o Lutero jovem e o Lutero velho" para diferenciar o período em que estes mudaram algumas pontos. Um bom exemplo disso, citando Agostinho, é o fato dele ter mudado sua interpretação de 1 Tm 2:4 depois de ter formulado a doutrina da predestinação.

Pois bem, depois dessa justificativa vamos ao que interessa. No artigo eu discorri basicamente sobre o que é ser um verdadeiro crente (e aqui não falo apenas de protestantes, católicos também são crentes em Jesus[1]) e eu enfatizei o fato de ter de pertencer à alguma denominação e talvez a impressão que eu tenha deixado é a de que somente a igreja salva, se foi essa a impressão não é a minha intenção, pois quem salva é a graça de nosso bom Deus (Ef. 2:8-9). Talvez o que eu tenha que enfatizar são os frutos do salvo[2], o verdadeiro crente e não o fato de este frequentar um templo, pois há uma grande confusão em relação a esses termos, igreja x templo. Para mim a forma mais fácil de exemplificar é este: o templo é onde a igreja (povo de Deus) se reúne. Se a gente não dissociar templo de igreja, fica um pouco perigoso pois, imagine que você vai para algum país bem pobre na África onde há poucos recursos, e através do seu trabalho missionário o Evangelho converte algumas pessoas ali, se não tiver um templo elas não serão salvas? Vale lembrar que as igrejas na era apostólica se reuniam em casas e também a igreja Assembléia de Deus também começou numa casa, já que os missionários estrangeiros foram "expulsos" da Igreja Batista que os acolheu, mas não aceitavam essa doutrina do Batismo com o Espírito Santo que eles estavam pregando.

Que fique claro que minha intenção não é a de afirmar que somente aquelas pessoas que estão frequentando um templo físico serão salvas, mas a Bíblia sagrada nos dá clara instruções - como deixei claro no artigo - para que a gente esteja em comunhão e isso é costumeiramente feito num templo onde o povo de Deus se reúne, mas tenho certeza que hoje ainda há muitas igrejas que se reúnem em casas como é o caso de uma pequena congregação pentecostal do lado de onde moro, não é porque eles não têm um templo bonito que eles estejam "fora" dos padrões, talvez estão fora dos padrões que a gente acha que deva ser o certo, mas não o padrão bíblico. Infelizmente há ainda quem ensine que há uma necessidade de um local específico com uma arquitetura característica para que seja considerado "igreja". Oremos.

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[1] apesar de os católicos mais extremos afirmarem que somente a ICAR é a Igreja verdadeira e somente lá há salvação, eu não sou obrigado a compartilhar dessa visão e em retaliação dizer que somente os protestantes serão salvos, pelo contrário, eu creio sim que os verdadeiros crentes em Jesus da ICAR serão salvos e como também há joio entre os evangélicos, também há por lá também.
[2] falo aqui salvo para não repetir o termo crente, sei que há todo um debate sobre se o salvo perde a salvação ou não, mas não é a intenção deste autor entrar nessa discussão.

Apenas uma pequena observação, aqui e em outros artigos meus eu falo algumas coisas que de acordo com a norma acadêmica eu deveria citar as fontes, e eu faço em certos casos, mas aqui eu não tenho a intenção alguma de estar dentro dessa norma sem contar que dá um trabalho danado ficar procurando as fontes e fazer as citações dentro do padrão.

sábado, 12 de outubro de 2019

Leituras obrigatórias do curso de Teologia no Mackenzie

Acabou a primeira etapa de provas e vamos para o segundo bimestre. Nesse bimestre houve um aumento na carga de leituras. Abaixo eu deixo as leituras obrigatórias que temos e as complementares, isto é, eu leio por conta própria livros que considero relevantes para o entendimento das matérias que estou estudando na faculdade.

As leituras obrigatórias são avaliadas pelo professor, temos que fazer ou uma crítica ou uma resenha para avaliação, não é uma simples leitura rasa, é preciso aprender de verdade. Alguns livros lemos por inteiro e outros partes selecionadas pelo professor. A medida que for fazendo, postarei aqui o resumo/resenha dos livros.

Leituras obrigatórias pro bimestre:

Idade mídia evangélica no Brasil. (Gerson Leite de Moraes)
O calvinismo. (Abraham Kuyper)
Ética protestante e o espírito capitalista. (Max Weber)
A vida diária nos tempos de Jesus. (Henri Daniel-Rops)
Cândida, Como analisar narrativas. (Cândida Vilares Gancho)
O sagrado. (Rudolf Otto)

Complementares:

A Bíblia e seus intérpretes. (Augustus Nicodemus)
Entendes o que lês? (Gordon Fee, Douglas Stuart)
Introdução Bíblica. (Norman Geisler, William Nix)
As ciências das religiões. (Giovanni Filoramo, Carlo Prandi)

sábado, 22 de junho de 2019

Combatendo o bom combate

Todo mês nossa igreja trabalha com um tema para o círculo de oração, o tema desse mês é "Combatendo o bom combate." e a cada mês eu preparo uma mensagem com fins educacionais, porém nunca havia publicado. Este mês resolvi publicar.

Combatendo o bom combate

Antes de mais nada é necessário definir o significado de combate e contextualizar isso em nossas vidas. Quando se fala em combate logo vem à mente uma luta, armada ou não, entre indivíduos, nações ou grupos, mas o que isso significa na vida do cristão uma vez que "a nossa luta não é contra o sangue e a carne" (Ef. 6:12)? Embora não tenhamos inimigos físicos, pois, Jesus nos ensina a amar o próximo (Jo 13:34), eu quero definir aqui o combate como nossa luta diária contra as diversas dificuldades que passamos ao longo de um dia e focar mais especificamente em afrontas; xingamentos, muitas vezes no trânsito, panelinhas em ambiente de trabalho, intrigas com parentes. São esses os cenários que eu quero abordar. Então resta a pergunta: como o cristão deve reagir diante desses cenários?

Eu gosto muito de exemplos e estórias, acredito que esses recursos ajudam a fixar um conceito em nossa mente. Refleti bastante sobre o tema tentando ver qual personagem bíblico poderia nos demonstrar através de seu procedimento como proceder em situações parecidas e me veio à mente um episódio específico da vida de Isaque.

O episódio em questão encontra-se no capítulo 26 do livro de Gênesis. Quando sobreveio uma fome à terra em que Isaque habitava, ele não teve outra escolha senão mudar-se dali e foi ter com Abimeleque em Gerar e ali ficou (v. 6). Deus foi muito generoso com Isaque e este prosperou muito naquela terra (v. 12-13) e isso acabou fazendo com que os habitantes dali tivessem inveja de Isaque chegando ao cúmulo de entulhar os poços que Abraão, seu pai, havia cavado. Abimeleque também não estava nada contente com a prosperidade de seu hóspede e pede para que ele saia da terra. Aqui temos a primeira lição; Isaque prosperou de tal maneira que ele já era maior do que o próprio rei. Isaque poderia muito bem usar seu poderio para, ao invés de sair de lá, reinar naquela terra no lugar de Abimeleque, mas ele tinha noção de que ele não pertencia àquele lugar e que ele estava ali como forasteiro. Ele simplesmente evitou contenda e foi para longe dali (v. 17). Porém, ao chegar lá Isaque reabriu os poços que seu pai Abraão havia cavado e os habitantes de lá entulhado, e isso aconteceu mais outra vez e novamente aprendemos com o temperamento de Isaque que não vale a pena a contenda. Como eu já falei, Isaque poderia ter aproveitado de todo o seu poderio e ter destronado Abimeleque e reinado em seu lugar ou nessas duas outras ocasiões ter simplesmente matado os que lhe causaram problemas com os poços, mas não, ele apenas deixou a contenda de lado e seguiu sua vida e aprendemos no verso 22 que ele encontrou seu lugar, cavou outro poço e ali não contenderam com ele, tanto é que ele batizou o lugar de Reobote (רְחֹבוֹת) que e uma tradução livre quer dizer "lugares amplos", e o mais importante é que ele reconheceu que o SENHOR que lhe havia preparado este lugar.

Em momentos de angústia e desespero é comum questionarmos o porquê das coisas. As vezes só olhamos pelo lado negativo e nunca pelo positivo. Eu gosto de pensar que se algo não deu certo é porque Deus tinha algo melhor para mim ou que aquilo ou aquela situação foi um livramento da parte de Deus, pois "sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus" (Rm 8:28) e Isaque sabia disso, ele também sabia que "os que confiam no SENHOR são como o monte sião, que não se abala" (Sl. 125:1) e aqui é a segunda lição dessa mensagem: confiar no SENHOR. A primeira lição é não entrar em contendas e a segunda é confiar no SENHOR.

Não adianta nem orar "Senhor não permita que eu passe pela tempestade", pois as provas virão. Pedro escreve "se necessário, sejais contristados por várias provações" (1 Pe 1:6) e Paulo vai além quando escreve: "mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança." (Rm 5:3-4). Olha que interessante, eu já ouvi isso uma vez, diz o ditado que a prova, ou deserto, é a faculdade do crente, pois é no deserto que aprendemos muitas coisas, e uma delas é depender de Deus. Tem gente que acha que depende de Deus só nas grandes causas, nas causas impossíveis, mas não é isso que Paulo ensina quando diz "em tudo dai graças, porque está e a vontade de Deus em Cristo" (1 Ts 5:18), em tudo nós dependemos de Deus, até para respirar. E Deus pode permitir certas situações para nos ensinar a sermos mais dependentes dele, para aprendermos que é Ele que no sustém, como escreveu o salmista no Salmo 54:4.

Para finalizar quero fazer uma reflexão de duas passagens de um dos cânticos de Davi que se encontram tanto em 2 Samuel 22 quanto no Salmo 18. Davi diz "Deus é a minha fortaleza e a minha força, ele perfeitamente desembaraça o meu caminho." (2 Sm 22:31) e mais atrás ele diz que "O caminho de Deus é perfeito" (v. 31), note que a princípio há uma desarmonia entre "o caminho de Deus" no verso 31 e o "meu caminho" no verso 33, porém a chave está na ação de Deus no verso 33, Davi diz: "ele perfeitamente desembaraça o meu caminho." Imagine que nós estamos sempre tomando importantes decisões; não falo daquelas decisões do tipo: hoje vou comer frango ou carne de boi no jantar? Falo de decisões como, mudar de trabalho, mudar de bairro ou de cidade, em que escola matricular os filhos e por aí vai. Agora imagine que acada estágio, ou quando nos vemos diante de tais situações onde tenhamos que tomar uma decisão, essa situação seja representada por uma parede com várias portas, cada porta representando uma opção, tem portas bem ornamentadas e outras com uma aparência nada chamativa e cada uma com seus prós, contras e dificuldades. Você quer entrar pela porta mais bonita, que na sua mente é a melhor opção, porém você não consegue abrir a porta e ao seu lado tem aquela porta que você nem considerou por achar que não era boa o suficiente e de repente ela se abre. Você estava lá há um tempo tentando abrir aquela porta bonita e nada, e abre-se essa outra porta. Nessa ilustração, essa porta que se abriu foi Deus mostrando o caminho para você. Você não acha que é por ali, mas Deus está mostrando o caminho como Davi fala. Ele está desembaraçando e você deve confiar nEle. Não entre em contendas e confie no Senhor.

Você é crente mesmo?

A empresa em que trabalho tem um escritório dentro do nosso fornecedor, e certo dia fui pedir ajuda a um dos funcionários de lá e notei uma pequena agenda com o símbolo da igreja adventista. Certo dia quando esse mesmo rapaz foi na minha mesa eu perguntei se ele era adventista, ele disse que não, que o chefe dele que era adventista mas me falou que também era cristão, perguntei então em qual igreja ele congregava e ele me disse que não congregava em nenhuma igreja; falei pra ele de Hebreus 10:25 que o Senhor diz para que "Não deixemos de congregar-nos [...]", mas a conversa ficou por ali.

Isso me fez pensar e resolvi escrever sobre o assunto. O fato de alguém crer na existência de Deus não é garantia de sua ida pro céu e eu quero escrever aqui o porquê. Uma passagem esclarecedora para provar essa tese é aquela passagem no evangelho de Mateus em que Jesus diz "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus." (Mt. 7:21). Nos dias de hoje é comum a frase "Deus no comando", mas parafraseando o Senhor Jesus, não é porque você fala "Deus no comando" que, quando morrer, você irá estar junto ao Pai, para que isso aconteça, é preciso nascer de novo (Jo 3:3). Mas você pode se perguntar: como nascer de novo? Primeiro é preciso confessar que Cristo é o Senhor (Rm 10:9) e se despojar do velho homem (Ef. 4:22) e se revestir "do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. " (v. 24), porque "fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que [...] assim também andemos nós em novidade de vida." Andar em novidade de vida significa deixar os velhos hábitos (1 Pe 1:14) e buscar ter uma vida de santidade (v. 16) e obediência, pois assim o nosso Senhor nos ensinou quando disse "se me amais, guardareis os meus mandamentos." (Jo 14:15).

O problema de não abrir a bíblia é não saber o que Deus quer de nossas vidas, e está tudo escrito lá. Pense num pai que fala aos seus filhos que quando ele morrer, sua herança ficará com os filhos, mas para isso cada um tem que cumprir alguns requisitos. Um dos filhos, porém, crendo que seu pai não estava falando sério e o incluiria no testamento de qualquer maneira por ser seu pai, nunca quis perguntar ao seu pai quais eram esses requisitos. Certo dia o pai morre e o advogado liga para todos os filhos afim de anunciar-lhes o que o pai havia deixado para cada um; o filho desinteressado ficou sem herança e irado com a situação perguntou ao advogado o porquê, o advogado falou que cada filho tinha que ligar para seu pai no primeiro dia do mês e falar "eu te amo", era só essa a condição, mas como o filho nunca ligara nem sequer queria saber quais eram as intenções, ficou de fora da herança. Você pode estar pensando "que pai mal!", mas eu te digo, mal não foi o filho que nunca quis saber o que agradava seu pai que tanto o amou?

"Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade. Aquele, entretanto, que guarda a sua palavra, nele, verdadeiramente, tem sido aperfeiçoado o amor de Deus. Nisto sabemos que estamos nele: aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou." (1 Jo 2:4-6).