sábado, 11 de maio de 2019

Como me tonar um pastor?

Enquanto escrevia uma análise sobre certos pregadores pentecostais, veio a necessidade de falar sobre o ministério pastoral, e para que meu artigo anterior não ficasse tão grande, decidi escrever sobre o chamado pastoral de forma separada.

O processo para se tornar um pastor varia de denominação para denominação e dentro da denominação pode também haver diferenças. Das que tenho conhecimento, o processo mais rígido e longo é o da IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil).

Vale salientar que em algumas denominações e igrejas o pastor não é obrigado a ter um diploma de nível superior em teologia, como é o exemplo das Assembléias de Deus, aliás, nas ADs [forma abreviada] você nem precisa ser pastor para dirigir uma igreja; explico.

Na Assembléia de Deus, o aspirante ao pastorado tem que começar "de baixo"; como cooperador. O cooperador, como o próprio nome diz, coopera nas atividades da igreja, desde levar água até o púlpito, a ficar na portaria entre outras atividades, e este não precisa ser casado. Já o Diácono, tem que ser casado (1 Tm 3:12), além dos outros requisitos citados em 1 Timóteo 3. É como se fosse uma escada hierárquica, onde começa pela cooperação, depois vai pra o diaconato, presbitério, vira evangelista e depois pastor. O pastor depois pode depois vir a ser um pastor setorial, responsável por uma região composta por uma igreja sub-sede e congregações. Devido à carga de trabalho e tamanho da igreja (geralmente maior do que as congregações) o pastor setorial pode trabalhar em regime de dedicação integral ou não. Algumas congregações também devido ao seu tamanho podem ter um pastor em tempo integral e assalariado. Já no tocante ao pastoreio, o Evangelista já está apto para dirigir uma congregação, ou seja, pastorear uma igreja. 

Para ser um pastor na AD tem que [até onde sei] por obrigatoriedade passar por todos os cargos, mas nem todos os cooperadores, diáconos, presbíteros e evangelistas um dia se tornarão pastores. Alguém pode chegar ao diaconato e ser diácono até a morte. Mas alguns jovens aspirantes são ávidos por "promoções" e muitos sonham em dirigir uma congregação, mesmo sem saber se este é o chamado que Deus tem pra vida deles. É aí, na minha opinião, que mora o problema. Eu vou pular para o funcionamento da vocação pastoral na IPB e depois volto para a AD.

Na IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) não há ascensão e o pastor tem por obrigatoriedade ir para um seminário e o processo não é tão simples, pois não basta ele achar que tem vocação [eles não chamam de chamado], sua vocação tem que ser "comprovada" pelo presbitério que vai analisar o aspirante e decide se ele via ou não para o seminário. Ao entrar no site do Seminário JMC na parte onde fala do vestibular você vai notar que há uma série de pre-requisitos para entrar no seminário. Não é qualquer membro de uma Igreja Presbiteriana que pode entrar num Seminário Presbiteriano, você pode até fazer uma faculdade de teologia no Mackenzie, mas se quiser ser ministro da IPB, terá que fazer do jeito deles.

Tem que ter no mínimo 3 anos de membro de uma igreja e é o presbitério quem envia o candidato para o seminário, este terá que passar no vestibular do seminário e um pastor o acompanhará durante sua formação. Após formado pelo seminário, que dura entre 4 e 5 anos e depois de ter passado por vários processos e provas, se aprovado ele passa a ser um pastor licenciado e ficará sob a tutela de um pastor ordenado [experiente] por um período que varia de 1 a 3 anos. Mais detalhes você encontra neste link. Como vemos, eles tão muita ênfase na formação teórica do aspirante ao pastoreio. Em uma troca de mensagens com um membro da IPB ele me falou que durante o tempo em que você se apresenta ao presbitério como um aspirante, eles passam a te avaliar, te indicando livros para sua leitura e estudo e acompanhando-o de perto. Não é tão simples como em algumas outras igrejas.

E diferentemente das ADs, o futuro pastor não precisa passar pelos outros "cargos" [cooperador, diácono, presbítero, evangelista], pois entende-se que cada um desses é um chamado distinto e não pre-requisito para o pastoreio. De fato, na bíblia não encontramos nada similar à dita ascensão hierárquica.

Voltando à questão da escada hierárquica na AD. Como eu falei, essa escada hierárquica pode gerar certa desilusão por parte de alguns, principalmente, como falei antes, pelo fato da romantização do ministério dentro das ADs e das famosas profetadas, onde jovens recém convertidos ou até evangélicos de berço recebem "profecias" de que Deus os separaram desde o ventre para "uma grande" obra, e todos quase que sempre assimilam essa "grande obra" à direção de uma congregação algum dia ou ao ministério itinerante. Primeiro que muitas das vezes essas chamadas profecias não passam de profetadas, e segundo que esses jovens passam a almejar essa possibilidade com unhas e dentes, mas não querem passar pelo caminho que seria o mais certo; cursar uma faculdade teológica. Seja por medo, seja por não achar necessário.

Porque mencionei medo. Medo pois a decisão de cursar uma faculdade é uma decisão séria, pois um curso superior tem uma duração de quatro anos e um custo que para muitos é ainda elevado e abocanha boa parte de seu orçamento. Se você é solteiro, vão tentar te convencer a fazer um curso que lhe "pague" um bom salário, que tenha boas oportunidades de emprego futuramente e que de maneira alguma você deve cursar teologia. Há pros e contras a respeito desse raciocínio, e a opinião que deixo aqui é puramente pessoal. Eu creio que se você está em dúvida se deva ou não cursar uma faculdade de teologia com medo de depois se arrepender, você ainda não sabe qual é o seu chamado. Você quer cursar uma faculdade com alta empregabilidade e depois "ver no que vai dar", você não tem certeza do seu chamado. Eu acredito que ser pastor é algo sério, e também não é algo que acontecerá da noite para o dia, requer maturidade e preparo. Eu não relegaria a parte do preparo intelectual, pois não basta "pregar" como muitos por aí pregam e depois ficar procurando na internet as respostas para as perguntas que as ovelhas vão te fazer, você tem uma responsabilidade com Deus, de alimentar o rebanho e para isso você tem que se preparar, e não vai ser fazendo um cursinho online que atingirá esse objetivo.

E por incrível que pareca ainda há quem ache que não é necessário um preparo mais rígido como só o que uma faculdade pode proporcionar. Você pode ser o mais estudioso possível, mas você nunca terá o rigor que uma faculdade exige de seus alunos. Você pode fazer um curso básico, médio ou bacharel livre online, que seja, mas esses nunca vão te dar o preparo que uma faculdade de quatro anos te daria. Paulo fala que aquele que ensina, que faça-o com zelo e capricho (Rm 12:7).

Eu gostaria de falar sobre o processo nas igrejas batistas, mas isso vai variar de acordo com cada igreja, pois como a batista é uma igreja de governo congregacional, este pode variar de igreja para igreja, mas as mais tradicionais seguem um padrão no quesito formação teológica. Eu vou deixar aqui um link para uma cerimônia de ordenação de um novo pastor da Igreja Batista Redenção, pastoreada pelo Pr. Marcos Granconato, conhecido debatedor do Vejam Só! na qual ele [Pr. Granconato] fala acerca do processo pelo qual o Pr. Isaac passou até esse dia [sua ordenação]. Basta clicar aqui para assistir o vídeo. E neste outro link você tem acesso a um artigo escrito pelo Pr. Granconato para quem almeja o pastorado.

Eu citei aqui dois exemplos de duas grandes instituições eclesiásticas brasileiras, a Igreja Presbiteriana do Brasil, que como o próprio nome diz é uma igreja presbiteriana e a Assembléia de Deus que é uma igreja pentecostal que é dividida em três grandes vertentes chamadas de ministérios, são eles: AD Ministério Madureira, AD Ministério Belém e AD Ministério Ipiranga. Vale salientar aqui que há outras igrejas que se intitulam Assembléia de Deus que seguem basicamente as mesmas linhas doutrinárias mas não são parte de nenhum dos três ministérios que citei. Estas três são históricas e outras são mais recentes, mas como geralmente têm origem em alguma das outras Assembleias, o modus operandi é basicamente o mesmo.

E claro, tem também as igrejas independentes que não estão ligadas à nenhuma denominação e que não seguem um modelo padrão. Eu sei de uma igreja em que o pastor principal se auto-consagrou pastor, começou com um pequeno grupo se reunindo em casa e hoje é uma grande igreja. Os pastores auxiliares foram todos treinados e consagrados por ele, bem como assim são os futuros obreiros.

Formação

Como escrito acima, a IPB dá muita ênfase à formação teológica do aspirante ao santo ministério. A própria estrutura da IPB é composta por 9 seminários para a formação de seus pastores e também é a mantedora da Universidade Presbiteriana Mackenzie que oferece um curso de Bacharelado em Teologia, porém esse curso não é para a formação dos pastores presbiterianos, sendo que esta é a função dos Seminários. O motivo da diferença entre o curso do Mackenzie e dos Seminários está na questão do reconhecimento do curso por parte do MEC e os requisitos para isso. É um assunto totalmente à parte do objetivo dessa análise.

A IPB também é a fundadora e mantedora do Centro Presbiteriano de Pós-graduação Andrew Jumper que visa à continuidade da formação dos seus pastores e de outras denominações, oferecendo cursos de pós-graduação tanto de mestrado quanto de doutorado. Vale salientar que também esses cursos não têm chancela do MEC e não é o objetivo do CPAJ em obtê-los. 

Enquanto que os pastores presbiterianos têm uma formação sólida, passando por um seminário de quatro anos em tempo integral ou cinco anos caso cursado à noite, no caso das ADs não há tanta rigidez. É comum encontrar três níveis de cursos de teologia comumente cursado por obreiros assembleianos, sendo eles o nível básico, médio e bacharel livre. 

Não há uma padronização na oferta dos cursos e geralmente ou são oferecidos na forma EaD ou presencial com aulas uma vez por semana ou até três vezes por semana, como é o caso do curso de Bacharelado livre em Teologia do IETEB que tem duração de três anos e a frequência das aulas é de três vezes por semana. É comum encontrar pastores que fizeram apenas cursos básicos, médios e os bacharéis livres, e até pastores que não fizeram nenhum dos três. 

Claro que há sim outros seminários e faculdades com cursos presenciais de quatro anos. Como por exemplo a Faculdade Batista de São Paulo cujo bacharelado tem duração de quatro anos e também é reconhecido pelo MEC. Seguem também na mesma esteira a Universidade Mackenzie e a Metodista de São Paulo.

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