sábado, 30 de março de 2019

Gênesis 23

No capítulo anterior nós lemos sobre à prova de Abraão, e que prova! E nesse capítulo vamos aprender sobre a morte de sua esposa, Sara.

Sara morre e Abraão vai em busca e um lugar para sepultar sua falecida esposa. Embora Deus tenha prometido dar toda essa terra a descendência de Abraão, ainda não é chegado o tempo da posse da terra e como Abraão nos conta no verso 4, ele é um estrangeiro o que significa que ele não tem posse alguma. Abraão então vai em busca de um local para sepultá-la e os habitantes da cidade rogam-lhe para que escolha a melhor sepultura que lhe seria concedida, Abraão porém está de olho em um local específico e pede para os homens intercederem junto ao dono, Efrom filho de Zoar. Efrom que ouviu toda a conversa ofereceu a terra como um presente para Abraão, este então pede para que seja cobrado o valor de mercado, ele está disposto a pagar, então os dois entram em acordo, Abraão consegue os direitos a terra e sepulta a sua falecida esposa.

Comentários e curiosidades do texto

Verso 2 lemos "[...] veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela." Pelo fato de ele ter "vindo" e o verso anterior mencionado o nome de uma cidade/localidade dá a entender que Abraão não estava em Quiriate-Arba, ver Ellicott e Aben Ezra. Para mim faz todo sentido, mas não é consenso entre os comentaristas [Jamieson-Fausset-Brown por exemplo diz que Abraão estava em sua tenda], mas eu creio que de fato Abraão não estava no local [cidade], caso contrário não havia necessidade de o autor ter mencionado os pontos que mencionei no início do parágrafo.

Por que Abraão não aceitou o presente de Efrom e quis pagar pela terra?

Antes de tentar entender todo o texto eu dei uma pesquisada e encontrei várias respostas, fiquei insatisfeito e decidi reler o texto com carinho e o que eu percebi foi algo muito estranho, pois no meu entendimento do texto Efrom não tinha intenção alguma de dar a terra para Abraão [como alguns comentaristas afirmam e em alguns artigos também], e se tivesse, de fato ele esperaria algo em retorno uma vez que no verso 11 Efrom diz "[...] dou-te o campo e também a caverna [...]" mas quando Abraão se oferece para pagar o valor de mercado Efrom diz "Meu senhor, ouve-me: um terreno que vale quatrocentos siclos de prata, que é isso entre mim e ti? Sepulta ali a tua morta." (V. 15 ARA). Se ele queria dar a terra, por que mencionou o valor? E quando Abraão se dispôs a entregar-lhe o dinheiro, não vemos relato algum de uma discussão do tipo "que é isso, somos amigos, não quero seu dinheiro."

O que os comentaristas dizem? Não há um consenso, todas as interpretações aqui, na minha opinião, são todas especulativas [inclusive a minha!]. Cabridge Bigle for [...] diz que Efrom era pobre, não temos como saber isso, pobre com terra? Matthew Poole diz que Efrom era rico [acho mais provável], Benson escreve que era um costume oferecer um presente e já esperar algum tipo de recompensa. Gill's Exposition escreve assim, numa tradução livre, "o terreno vale 400 siclos se é o que você quer saber, mas o que é isso para dois amigos, ambos somos ricos e se quiser pode ficar com o terreno para você." Já Matthew Henry escreve que a compra era significativa para Abraão, pois aquela terra iria um dia ser de sua descendência e a compra desse pedaço de terra era significativa para ele. Mas como falei anteriormente, aqui são teorias meramente especulativas, levando em consideração todas essas análises de consagrados exegetas e comentaristas, eu prefiro minha teoria de que Efrom não queria dar o terreno, ele estava mesmo disposto a vendê-la e Abraão a comprá-la pois este era rico e não precisava de presentes. Lembremos que ele não aceitou os despojos do rei de Sodoma (Gn 14:22-23).

Enterro em cavernas

Parece-me, através da leitura de várias passagens, que a prática de enterrar um corpo em uma caverna era uma prática bastante comum dos dias de Abraão até os dias de Jesus. Por que dos dias de Abraão? Porque curiosamente o capítulo 23 é onde temos o primeiro relato de um enterro. Em gênesis 15 Deus fala para Abraão que ele iria descansar em paz [primeiro uso da palavra קָבַר (qabar) enterrar], e aqui damos de encontro com o enterro de sara. Vários outros personagens bíblicos morreram antes de Abraão [que afirmação mais óbvia!] porém não temos relato de como se deu o enterro e aqui aprendemos que Abraão queria uma caverna. Essa caverna também serviu de local de enterro para o próprio Abraão (Gn 25:9), Jacó (Gn 50:13) e até o nosso Senhor Jesus também fora enterrado em uma caverna (Mt 27:60).

Deus mandou Abraão matar Isaque?

Conforme eu falei no meu esboço de estudo de gênesis 22, minha dificuldade inicial foi tentar entender o comando de Deus para que Abraão oferecesse seu único filho como holocausto. Como eu falei, essa era uma dificuldade inicial, mas após uma extensa pesquisa e releitura de um livro apologético muito rico no que tange às difíceis questões morais acerca de certos "atos" de Deus no antigo testamento¹, e após uma simples releitura do primeiro verso do capítulo 22, a ficha caiu. Lemos: "Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova [...]". Não preciso mais de explicações para responder à questões do tipo "Como Deus ordenou o sacrifício de uma criança sendo que ele mesmo condena esse tipo de sacrifício como está escrito em Levítico 22:2-5?", a resposta, pelo menos para mim, é muito simples: Deus não ordenou o sacrifício, pois no próprio texto diz que Deus pôs Abraão à prova. Deus nunca teve a intenção de consentir que Abraão levasse a cabo à ordem. No verso 11 lemos "[...] Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças [...]", para mim está claríssimo que a intenção de Deus era somente por a prova a lealdade de Abraão. Esse é o primeiro ponto. 

O segundo ponto é em relação ao fato de Abraão ter obedecido à voz de Deus. Uma vez um amigo meu, que sabia que eu era agiota, mesmo sabendo que eu tinha me convertido me confessou que tinha medo que algum dia eu matasse ele [pela dívida ainda não paga] e alegasse que foi Deus quem mandou. Eu falei para ele que Deus nunca faria nada parecido, mas você pode argumentar que Deus já fez coisa parecida, mas como eu falei no estudo sobre gênesis 22 e de gênesis 15, em todo relato bíblico devemos considerar o contexto histórico-cultural, ou seja, se naquela época sacrificar animais, vingar a morte de alguém com morte (Gn 9:6), ou famoso olho por olho, era normal para o padrão da época, devemos levar isso em consideração. Hoje não é simples assim, você não pode matar o assassino do seu irmão, tio, ou amigo, isso fica a cargo da justiça, se você fizer justiça com as próprias mãos, você tanto será reprovado perante a sociedade como também enfrentará a justiça pelo seu ato.
Para Abraão obedecer a voz de Deus, com certeza ele já deve ter ouvido estórias de algum sacrifício assim, esse é o ponto histórico-cultural. Agora o ponto central aqui é de que Abraão tinha a certeza de que mesmo se ele viesse a levar a cabo o comando de Deus, o SENHOR era poderoso o bastante para trazer seu amado filho à vida (Hb 11:19), essa era a fé de Abraão. Quando Abraão chega próximo ao lugar onde eles deveriam adorar a Deus, ele fala para os rapazes ficarem onde estão que ele e Isaac iriam até o monte adorar e voltariam para junto deles (v. 5). Não podemos inferir aqui nenhuma outra interpretação a não ser a de que Abraão tinha a plena certeza, sem titubear, de que ele voltaria com seu filho. Lembremos que toda escritura é inspirada por Deus (2 Tm 3:16), então quando o autor de Hebreus escreve que Abraão tinha essa certeza, não há margem para dúvidas aqui.

Essa é, em minha análise, uma interpretação indutiva do texto. Está claro no texto que Deus tinha somente a intenção de testar Abraão. Agora vem uma questão teológica, de que essa cena é uma sombra do sacrifício de Cristo, o único filho de Deus (Jo. 3:16).
Vejamos as semelhanças: Deus fala "[...] toma teu filho, teu único filho Isaque, a quem amas [...] e oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes [...]" e comparemos com João 3:16 " [...] deu o seu Filho, unigênito [único]", aqui vemos que ele é o unigênito "[...] meu Filho amado [...]" (Lc 3:21) que morreu no "[...] Calvário [...]" (Jo 19:17). As semelhanças, filho único, amado e que que era pra ser oferecido em sacrifício em um monte, Moriá no caso de Isaque e Calvário no caso de Jesus, Deus não permitiu que Abraão fosse até o fim, mas ele Deus foi até o fim oferecendo seu único filho por amor a nós.

¹Is God a moral Monster?, Copan, 2011.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Mateus 4, Lucas 4, Marcos 1

Cronologia.
Juntando os três evangelhos sinóticos com o relato de João após a tentação no deserto.

Confesso que não foi nada simples compilar esses relatos em ordem cronológica e ainda me restam algumas dúvidas, mas sigamos assim por enquanto.
Há algumas similaridades entre os evangelhos de Mateus e Lucas quando falamos do capítulo quatro, pois o evangelho segundo Marcos é bem resumido enquanto essas coisas se passam no capítulo quatro de Mateus e Lucas, Marcos faz breve menção ainda no capítulo um. Mas o que temos aqui então em Mateus quatro que é comum em Lucas quatro é:

Tentação de Jesus [no deserto] (Mt 4:1-11, Lc 4:1-13); Jesus volta para a Galileia (Mt 4:12-17, Lc 4:14-15). A vocação dos discípulos é tratada em Lucas 5:1-11. 

No livro de João o apóstolo relata alguns acontecimentos após a tentação de Jesus no deserto que é o encontro do Senhor Jesus com os alguns dos discípulos, a saber: André e Pedro (Jo 1:35-42) e Felipe e Natanael (Jo 1:43-51). O que significa dizer que antes da pesca maravilhosa relatada em Lucas 5, Pedro já tinha visto Jesus realizar milagres [transformando água em vinho], como descrito em João 2:1-11. Então para ficar mais fácil vou resumir assim:

1. Jesus é batizado por João (Mt 3:13-17, Lc 3:21-22, Mc 1:9-11)
2. Jesus é levado para o deserto onde ele é tentado pelo satanás (Mt 4:1-11, Lc 4:1-13, Mc 1:12)
3. Jesus então volta do deserto e conhece André, Pedro, Filipe e Natanael (Jo 1.:35-51)
4 Jesus é convidado pro casamento em Caná da Galileia, onde opera seu primeiro milagre (Jo 2:1-11)
5. Jesus vai para Cafarnaum (Jo 2:12)
6. Jesus chama os primeiros discípulos (Mt 4:18-22, Mc 1:16-20, Lc 5:1-11)


quinta-feira, 28 de março de 2019

Gênesis 22


Não vejo muitas dificuldades interpretativas no texto em si, para mim, exceto uma ou duas que veremos mais adiante e os versos do 20-24 que, na minha opinião, usando apenas o método indutivo de interpretação, não nos dá uma grande ideia do que esse texto realmente quer dizer, além do que ele realmente diz.

Minha maior dificuldade foi com o comando de Deus para que Abraão oferecesse seu filho em sacrifício. Conforme já vimos aqui, como por exemplo na questão do dízimo a Melquisedeque no estudo sobre o capítulo quatorze do livro de gênesis, toda narrativa bíblica está inserida num contexto histórico, ou seja, há um porquê dos contos [palavras minhas]. Achei uma definição bem interessante sobre essa questão histórico-cultural, segue: A narrativa bíblica não foi criada num vácuo. As estórias bíblicas frequentemente extraem suas ideias, crenças e motivos da variedade de tradições do contexto na qual estão inseridas - o antigo Oriente Próximo. Portanto, ao estudar o conteúdo histórico-ideológico de uma estória, devemos levar em consideração o relacionamento da estória com todo o contexto cultural. Em outras palavras, nós devemos perguntar se uma estória bíblica tem alguma relação com alguma tradição similar no Oriente Próximo. (traduzido livremente de Boehm, 2004, pp. 145).

O que eu quero dizer com tudo isso, o fato de Deus ter pedido a Abraão que sacrificasse Isaac, me diz que essa era uma prática naquela época [sacrifícios de crianças], tanto é que na Lei de Moisés Deus proíbe o sacrifício de crianças (Lv 20:2-5). Você não pode proibir algo que não é feito ou não existe. Seria ridículo se algum deputado criasse uma lei proibindo alguém de voar sem antes fazer revisão de suas asas.

Essa é até uma questão que os ativistas ateus usam para condenar Deus. Tem um livro cujo título, em uma tradução livre, seria Deus é um monstro moral? (Is God a moral monster, 2011), que, além de outros temas trata dessa questão. O autor tenta argumentar, assim como está escrito no livro de Hebreus 11:19, que Abraão tinha certeza de que Deus era poderoso para ressuscitar Isaac, caso ele viesse mesmo a sacrificá-lo. (Copan, 2011, pp. 48). Na página 49 do dito livro, o autor faz uma reflexão filosófica acerca da natureza desse comando de Deus. Ele até cita dois exemplos em que o homicídio seria moralmente legal: no caso de uma gravidez ectópica, ele argumenta que, profissionais éticos geralmente concordam que nesse caso é recomendável fazer o aborto, caso contrário morreriam tanto a mãe quanto o feto e em um outro caso ele cita o ataque de 11 de Setembro que seria moralmente aceitável abater os aviões antes de atingir as torres e acabar matando mais pessoas.

Para não alongar muito mais essa parte, eu vou deixar aqui o link para um estudo mais detalhado sobre esse tema, uma vez que tento sumarizar o máximo possível meus rascunhos de cada capítulo.

Descendentes de Naor

A princípio, esse texto não tem nada a nos dizer, de fato, se a gente aplicar o método indutivo de interpretação nesse texto, ele não nos dirá muita coisa. Há apenas nomes dos filhos do irmão de Abraão, Naor. Mas o texto não está aqui por acaso, porém é só no seguinte capítulo que entenderemos o porquê, mas vou adiantar o motivo. Alguém veio avisar a Abraão sobre seu irmão e de que ele tinha tido filhos, um deles, Betuel (v. 23) gerou uma moça chamada Rebeca, essa veio a ser a esposa de Isaque. Pronto, é isso.

quinta-feira, 21 de março de 2019

Lucas 3, Mateus 3, Marcos 1

Já analisamos os acontecimentos do nascimento tanto de Jesus quanto de João Batista em Mateus 1,2 e Lucas 1,2 e agora vamos para João Batista e o início do ministério de Jesus Cristo. 

Nos três evangelhos a história é contada basicamente em quatro partes: Pregação de João, Testemunho de Jesus, Tentação de Jesus no deserto e a volta para a Galiléia.

Então vamos estudar cada parte separadamente analisando cada evangelho simultaneamente.

Pregação de João Batista: Mc 1:2-6; Mt 3:1-6; Lc 3:1-6

No evangelho de Marcos podemos dividir a narrativa em três partes: (1) acerca das profecias sobre João Batista, (2) dos que estavam buscando o arrependimento e se batizavam e (3) acerca dos trajes de João e sua base alimentar. Suas vestes remontam ao profeta Elias que também vestia peles de camelo e ninguém pode dizer que João era rico, pois comia gafanhotos e mel silvestre.

Já o evangelho segundo¹ Mateus há um detalhe a mais. Mateus também menciona uma profecia messiânica, fala acerca dos que buscavam o arrependimento assim como registrado no evangelho de Marcos, bem como das vestes de João Batista e seus hábitos alimentares simples. Um detalhe a mais que temos é acerca dos fariseus e saduceus que vinham observar o batismo. Não vou falar aqui acerca do que é Saduceu e Fariseu para não ficar muito grande, há muitos bons estudos sobre esses grupos do judaísmo, estudos melhores até do que eu porventura poderia produzir. Mas vou comentar brevemente o que JB quis dizer nos versos 7-10. Quando comparamos os relatos de Mt 3:7 com Lc 3:7, à princípio dá a entender que os fariseus e os saduceus vieram se batizar pois em Lucas o texto diz que JB se dirigiu às multidões e não somente aos fariseus e Lucas sempre se refere às multidões (V. 3:7;10). Mas os comentaristas estão em acordo de que JB estava nesse caso falando com os fariseus e os saduceus². Os fariseus e saduceus achavam que só pelo fato de serem filhos de Abraão já estavam com sua salvação garantida e não precisavam desse arrependimento que João pregava. Arrependimento esse que tinha que ser verdadeiro, não somente dizer que se estavam arrependidos. Em Mateus João diz no verso 7 "produzi, pois, frutos dignos de arrependimento" o mesmo relato está escrito em Lc 3:8 mas Lucas trás detalhes que não encontramos em Mateus como vemos no verso 3:10 de Lucas o povo perguntando o que seria esse fruto do arrependimento quando eles falam "[...] que havemos, pois, de fazer?" e João lhes ensina dos versos 11-14 o que alguém com um coração contrito e arrependido deve fazer, como, repartir com os mais necessitados, não enganar os outros, etc (v.13).

João dá testemunho de Jesus Mt 3:11-12; Mc 1:7-8; Lc 3:15-17 (não falarei do relato de João 1:19-27)

Aqui vemos uma das passagens que mais trazem confusão, principalmente entre os pentecostais [que a propósito não são todos que concordam com essa interpretação] e reformados. Os pentecostais [não posso afirmar sem em maior número, mas de certo em grande número] interpretam a parte do fogo como um fogo bom, purificador, já os reformados, notadamente o Pr. Augustus Nicodemus ensina que esse fogo é o fogo do Juízo.
Vou explicar o porquê da confusão, na minha humilde análise a confusão se dá quando lemos o versículo fora do contexto, ou seja, ler o verso 11 de forma isolada sem levar em consideração o seguinte verso. Devemos lembrar que a bíblia não originalmente escrita com capítulos e versículos, credita-se essa organização de capítulos e versículos a Stephen Langton (1150 - 1228). Mas o que isso tem a ver com essa questão? Tem a ver com o fato de não havendo versículos para separar, diminui-se o risco do famoso "texto fora de contexto", pois não tinha nem como citar o versículo! E acredito que muitos ainda leem cada versículo como tendo um significado próprio, que não precisa do contexto geral para expressar sua ideia central. Então nesse caso temos que levar em consideração o verso 12 onde João segue sua narrativa dizendo que Jesus tem na sua mão a pá e recolherá o trigo no celeiro e queimará a palha no fogo. Se é um fogo "purificador", como ele vai purificar o que não existe? Uma vez que se você jogar palha no fogo, restará apenas um punhado de cinzas? Aqui o trigo representa os santos/crentes em Jesus e a palha são os ímpios/rebeldes (jo 3:36), ver Benson, Jamieson-Fausset-Brown, Barne's, Matthew Poole. Posso afirmar que quando os que leem o fogo como um fogo bom, têm em mente Atos 2:3 quando Lucas escreve sobre as "...línguas como de fogo", mas novamente eu acredito que essa é uma leitura muito superficial da perícope em que a palavra fogo se encontra em Mateus 3, e baseado nisso eu sou da opinião de que o fogo a que o texto se refere quer dizer a o fogo do juízo.

Dos relatos dos três evangelhos, Lucas conta que além de muitas exortações, João Batista falava sobre as maldades de Herodes [Antipas] e falava especificamente sobre Herodias, esposa do seu irmão que ele tomou como mulher. Aqui não é objetivo de Lucas dá um relato completo acerca da prisão de João, mais detalhes sobre a prisão e morte de João será contado em Mt 14:1-12.

O Batismo de Jesus Mt. 3:13-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22

Os três relatos - não falaremos sobre o relato em João - trazem basicamente a mesma sequência: veio Jesus, João o batizou, o Espírito Santo desceu em forma de pomba e ouviu-se uma voz dos céus que dizia: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo."
Algo interessante que Mateus relata com um pouco mais de detalhes os eventos antes de Jesus descer nas águas. A cena deve ter sido muito linda quando João avistou Jesus, em João 1:29 João, o batista, pronuncia a famosa frase "[...] Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" e logo após Jesus vem ter com João (Mt 3:13). Aqui João indaga Jesus dizendo "Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?" Jesus não tinha pecado algum (1 Pe 2:22), então porque deveria ele se batizar se ele não tinha do que se arrepender? Vou deixar aqui o link de uma explicação do Pr. Augustus Nicodemus sobre o tema, ele consegue explicar com grande maestria. Clique aqui e tenha acesso ao vídeo do Pastor. Mas para resumir em poucas palavras, de acordo com o Pr., esse ato de Jesus se deixar ser batizado por João vindicaria a autoridade de João, ou seja, que ele foi de fato enviado por Deus para preparar o caminho para o Messias.


¹A forma comum ou tradicional de se referir aos evangelhos é dizer "Evangelho segundo fulano", porque segundo, porque o evangelho é as boas novas de Cristo e segundo é a quem a tradição atribui o autor, então quando dizemos "...segundo Mateus" estamos dizendo que foi Mateus quem escreveu esse relato da vida de Jesus. Isso não me impede, porém, de se referir aos evangelhos como livro de Mateus, evangelho de Mateus. Semanticamente falando é incorreto, pois a preposição de dá a ideia de pertencente a, mas me perdoem acaso eu escrever assim, o importante é que agora você entende a diferença e que você sabe que eu também entendo e que escrevo de forma proposital sem prejuízo ao significado.
²Ellicott, Benson

Gênesis 21

No capítulo anterior, nosso amigo Abraão se meteu novamente em uma enrascada à lá Gn 12. Novamente ele temendo sua morte por causa da beleza de sua esposa ele omite o fato de Sara ser sua esposa ao chegar em Gerar. Mas tudo acaba bem, graças a Deus, literalmente.

Nesse capítulo vemos o nascimento de Isaac, o filho que Deus havia prometido a Abraão e a Sara. Tudo e um mar de rosas, Abraão está muito feliz com tudo isso, mas é num banquete que ele prepara em comemoração da data em que seu pequeno Isaac é desmamado que isso muda. Sara vendo que Ismael, filho de Abraão com Agar, estava zoando o pequeno Isaac, fala para Abraão que ele terá que mandar a escrava com o menino embora. 
Abraão fica triste com isso, pois ele também é seu filho e Abraão o amava muito (Gn 17:18). Mas Deus fala para Abraão não se preocupar e fazer o que Sara lhe disse, que ele Deus iria cuidar do menino Ismael e dele fazer uma grande nação.

Abraão com Abimeleque. Uma diferença que notamos do tratamento que Abraão recebeu do rei Abimeleque comparado com o tratamento que ele recebeu do Faraó em Gn 12 é que Abimeleque permitiu que Abraão ficasse em suas terras. E assim o fez. Abimeleque porém pediu para que Abraão fosse cortês com ele e não mentisse mais.
Abraão aproveita o ensejo para fazer uma reclamação acerca de um poço que ele havia cavado mas que os servos do rei Abimeleque haviam tomado de Abraão. Abimeleque diz que não estava sabendo disso, eles fazem um pacto e Abimeleque garante que ninguém mais vai se meter com Abraão.

Agora vamos para os comentários e curiosidades do texto

A aliança de Abraão e Abimeleque

Verso 27 lemos "Tomou Abraão ovelhas e bois e deu-os a Abimeleque; e fizeram ambos uma aliança." (ARA). Essa história remonta ao pacto que Deus fez com Abraão em Gênesis 15. A palavra aqui para "fizeram" em Hb. é כָּרַת (karath) que significa cortar, cortar fora, entre outros significados, como também usado no contexto de "fazer um acordo", como aqui no texto. Algo interessante, em Português a gente fala, por exemplo, "vamos entrar em um acordo" ou "... fazer um acordo", em Inglês uma frase comumente usada é "cut a deal", cut é o verbo cortar, a gente não deve traduzir literalmente essa palavra, mas  mas vale aqui a comparação com o Hb. karath que foi usado nesse contexto.
Por que eu trouxe essa palavra aqui e mencionei Gn 15, pois a mesma palavra que está aqui para "fazer" que em Hb. é Karath está em Gn 15:18, e lembremos que um verso anterior a bíblia nos conta que "[...] um fogareiro fumegante e uma tocha de fogo que passou entre aqueles pedaços.", que eu explico que isso era um costume da época, uma forma de juramento, ou aliança.

As sete borregas de Abraão

Hermeneutics one-o-one. Na bíblia, em várias ocasiões, a gente vê uma explicação por causa de algum nome seja antes ou depois de mencionar o nome.  Exemplo: "Chamou-lhe, por isto, o nome de Babel, porque ali confundiu o SENHOR a linguagem de toda a terra [...]" (Gn 11:9 ARA). Vemos aqui a conjunção porque que introduz uma justificativa, ou seja, o motivo pelo qual a torre se chamava Babel. De acordo com o dicionário Strong, a palavra Babel (Hb. בָּבֶל (babel)) talvez tenha sua origem em בָּלַל (balal) que significa confusão, ou confundir. 
Para nós, em Português, isso não faz sentido pois as palavras Babel e confundir não são parecidas e nem compartilham da mesma raiz, mas em Hebraico sim, por isso que sempre que lermos "o nome é isso, por causa disso", pode olhar no original que há um mistério aí. Vou dar mais um exemplo.

"[...] Concebeste e darás à luz um filho, a quem chamarás Ismael, porque o SENHOR te acudiu na tua aflição" (Gn 16:11 ARA). Novamente vemos a conjunção porque aqui mas não faz nenhum sentido para nós uma vez que acudir nem rima e nem tem parentesco com a palavra Ismael. Agora vamos para o Hebraico e veremos que faz todo sentido.  Ismael em Hb. é יִשְׁמָעֵ֔אל (yismael) e acudir no original traz a ideia de "escutar": o SENHOR me escutou [ouviu meu clamor] que é שָׁמַ֥ע (shama). Agora vamos comparar, tiramos a primeira letra do nome Ismael (יִ yod) e fica שְׁמָעֵ֔ agora compare com a palavra shama שָׁמַ֥ע, vemos que são as mesmas letras  שָׁ (shin) מַ֥ (mem) e ע (tzade).
Notaram? Ismael significa Deus me ouviu, em uma tradução livre, pois como já vimos tem שְׁמָעֵ֔ (shema) + אל (el). אל (el) é outro nome de Deus (Gn 17:1). Para ficar mais fácil: O nome dele será Ixmael porque Él [Deus] Shama [escutou] sua aflição.

Agora indo para o tema central que é o nome do poço Berseba. Agora que a gente aprendeu esse mistério e porque não faz sentido em Português vamos desvendar o mistério por trás do nome Berseba.
O verso diz assim "Por isso, se chamou aquele lugar Berseba, porque juraram eles ambos." Então o nome do lugar é בְּאֵ֣רשָׁ֑בַע (berseba) porque eles juraram נִשְׁבְּע֖וּ (nisbeu), o nome בְּאֵ֣ר-שָׁ֑בַע (berseba) separei as primeiras três letras da esquerda para direita e temos שָׁ֑בַע e נִ-שְׁבְּע֖-וּ as mesmas aqui entre os dois travessões (- -). Essa última palavra נִשְׁבְּע֖וּ é o verbo jurar que está no passado [ou perfect em Hb.], que no presente é שְׁבְּע֖ que se pronuncia sheba. Então soa mais ou menos assim: O nome do lugar é berseba porque ali sheba [jurar] entre ambos. E interessante é como as sete ovelhas entram na história, sete em hebraico é, adivinhem... שֶׁבַע (sheba).

sexta-feira, 15 de março de 2019

Gênesis 20

Capítulo curto e com uma história direta, mas sempre fica algumas questões com dificuldades de resposta. Como é uma história bem resumida e a bíblia não nos dá nenhuma cronologia ficamos com algumas dúvidas.

Então aqui a repetição da estória de Gn 12 onde Abraão foi pro Egito e chegando lá, temendo por sua vida, ele diz que Sara é sua irmã [o que não deixa de ser verdade]. Aqui Abraão passou um tempo em Gerar e lá a estória se repete, ele diz que Sara é sua irmã. Abimeleque, rei de Gerar, então toma Sara para ser sua mulher mas Deus intervém e em sonho fala pra Abimeleque que ele tem que devolver Sara caso contrário sofrerá graves consequências. Até vemos que Abimeleque diz que não fez por mal e Deus diz que Ele quem o fez não tocar em Sara.

Abimeleque vai cobrar explicações de Abraão sobre tudo isso, depois que ele teve o sonho, Abraão se explica e de quebra ganha muitos bois, ovelhas e prata.

Curiosidades e comentários do texto

Primeiro vamos falar do personagem Abimeleque, rei de Gerar, que significa pai é rei. É a junção das palavras אָב (ab) pai e מֶלֶךְ (melek) rei: אֲבִימֶלֶךְ (abimelek).

Por que Abraão deixou sua esposa ser levada?

Pelo amor a sua vida (risos). Abimeleque assim como o Faraó (Gn12) tem a sua disposição um exército leal que estão dispostos a matar qualquer um que o rei mandar. Essa Sara deveria ser muito bonita mesmo para chamar a atenção de reis dessa forma. E tecnicamente Abraão não mentiu uma vez que Sara também é sua irmã por parte de pai (v.12), ele apenas omitiu a parte de que também é sua esposa, omitir não é mentir (Prov. 12:22-23).

Uma diferença entre esse relato e o de de Gênesis 12 é que aqui o rei Abimeleque permitiu que Abraão ficasse em sua terra já o Faraó mandou Abraão embora de sua terra (Gn. 12:19-20). 
Abimeleque não era uma pessoa má, visto que ele disse para Deus em sonho que não tomou Sara por maldade já que ele não sabia de toda a verdade e Deus reconheceu isso (V.6) e vemos que ele permitiu que Abraão vivesse em sua terra, diferentemente do Faraó que o expulsou (Gn. 12:20).

Uma dificuldade que encontrei no texto, para a qual não encontrei reposta é em relação ao castigo de Deus para a casa de Abimeleque. Explico. Deus fala para Abimeleque devolver Sara e que Abraão oraria por ele e ele viveria (v.7), Abraão então orou por Abimeleque (v.17) e Deus o curou porque Deus fez com que todas as mulheres da casa de Abimeleque ficassem estéreis (v.18). Minha dificuldade é entender como que eles souberam que elas estavam estéreis, uma vez que toda a narrativa dá a entender que foi tudo muito rápido, do rapto de Sara até a revelação de Deus e a confissão de Abraão. Para você saber que é estéril não é da noite para o dia. Se você está tentando ter um bebê e não consegue você então percebe que há algo de errado, foi o que aconteceu com Raquel que enquanto sua irmã teve quatro filhos ela não teve nenhum (Gn. 30:1)

quarta-feira, 13 de março de 2019

Lucas 2, Mateus 2

Vou começar com uma pergunta: Os magos visitaram Jesus quando ele era recém-nascido?

Há fortes indícios que essa afirmação não seja verdadeira. Eu sempre acreditei que os magos [não sei porque falam que eram três e eram reis] visitaram Jesus na manjedoura, tanto é que nos filmes e desenhos essa cena é retratada dessa maneira. Mas as escrituras nos dão uma outra visão acerca dos fatos.

Primeiro, a bíblia é bem clara quando nos conta a respeito da visita dos pastores ao menino Jesus na manjedoura (Lc 2:15-18), porém quando é a vez dos magos, lemos em Mateus 20:10 que eles entraram na casa, não na manjedoura. Antes de continuar minha linha de raciocínio quero aqui falar sobre a tradição dos três [reis] magos, acredito que muitos acreditam que eram três pelo simples fato de terem trazido três presentes: mirra, incenso e ouro e que cada um havia sido dado por um mago distinto, mas isso a bíblia não nos conta, então fico só com "uns magos" mesmo e sem contar que a teologia trata de dar significados distintos a cada um dos presentes.

Outro aspecto interessante da união das duas narrativas [Luquinha e Mateus]. Primeiro o mais óbvio, em Mateus lemos no verso 7 que Herodes perguntou aos magos com exatidão o tempo que a estrela [que os guiava] aparecera e logo mais no verso 16, depois que Herodes se sentiu traído pelos magos e vendo que eles não regressariam pra Jerusalém, Herodes mandou matar todos os meninos de dois anos de idade para baixo "[...] conforme o tempo do qual com precisão se informara dos magos." Ou seja, se a gente for aplicar as técnicas de interpretação de texto aqui, claramente vemos que Jesus tinha dois anos de idade.

Outro ponto interessante. Os magos trouxeram ouro, e em Lc 2:24 os pais de Jesus ofereceram em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, mas o que isto tem a ver com o todo? Bom, se formos na lei no livro de Levítico 12:6-8 vemos que nesse caso a lei manda levar um cordeiro de um ano de idade e uma pomba ou uma rolinha, mas no verso 8 diz que "se as suas posses não lhe permitirem trazer um cordeiro [se você for pobre], tomará então, duas rolas ou dois pombinhos [...]". Sendo assim, como eles não ofereceram um cordeiro, é porque eles não tinham condições, mas e o ouro? Se os magos tivessem levado o ouro eles poderiam ter comprado um cordeiro para levar para o templo, não é certo?

Verso 18 Todos os que ouviram se admiraram das coisas referidas pelos pastores. Imagine a seguinte cena: chega uma pessoa no seu departamento e diz: - Eu sou o nome gerente. Todos vão ficar espantados e vão provavelmente pensar: - Como assim? Ninguém nos avisou! Agora imagine que essa pessoa começa a dar ordens. Claro que alguém do departamento vai buscar saber se isso é verdade. Se de outra forma, chega alguém com uma autoridade maior, digamos um diretor ou o presidente da empresa e diz: - Este é o novo gerente. A coisa muda.
Imaginem agora, Maria diz: - Este menino é o Messias que tanto esperávamos! Vão achar que ela é louca, mas se chegam alguns pastores de onde ninguém sabe e todos dizem que este é o menino de que os anjos falavam, aí a coisa muda de figura.

A história de Simeão fala por si só, não há muito o que debater sobre essa passagem bíblica, a não ser o que está no verso 34 que é um pouco mais carregado de significados e remonta à algumas profecias messiânicas do livro de Isaías. Onde lemos "[...] o menino está destinado tanto para ruína [queda] como para levantamento [...]", queda fala do tropeço [condenação] daqueles em Israel que não vieram a crer no Senhor Jesus e o levantamento são aqueles que por crerem em Jesus serão levantados [salvos] e o "... alvo de contradição." é exatamente isso, contradição entre os que não creram. (Is 7:14).¹

O próximo verso (35) que fala que "[...] uma espada traspassará a tua própria alma [...]" fala do sofrimento de Maria² com todas as provações que Jesus enfrentou (Lc 4:29, Mt 12:46, Jo 19:26)³.

Pulando a parte que fala da profetiza Ana, no livro de Lucas, vamos para o retorno a Nazaré. Lucas conta duas histórias sobre Jesus antes da pregação de João Batista (Lc 3:1-9), um breve relato da chegada a Nazaré (v.39) e que Jesus crescia com muita sabedoria (v.40). Como Mateus não fala da visita ao templo e nem Lucas fala da visita dos magos, alguns céticos gostam de apontar essa falha com sendo um erro, só que o objetivo de nenhum deles foi contar detalhe por detalhe, até porque ficaria um livro imenso. Mas então como conciliar as duas partes? Eu acredito que Mateus 2 dos versos 1 até o 23 foram eventos que ocorreram entre Lucas 2 versos 38 a 39. Tem um artigo da Apologetics Press que trata desse caso e você pode acessá-lo clicando aqui.

Então voltemos para Mateus 2. Já falei dos magos e dos pastores e então agora vamos pro Egito. Então um ano de Jeová aparece em Sonho para José [ rápido break para curiosidades: O nome José em Grego é Ἰωσὴφ que se pronuncia Iósef, em Inglês [que é derivado do Latin que deriva do Grego] é Joseph lê-se djô-zef. E no Hebraico também se lê Iósef, porém a letra em Hb. é o Y (yosef) de Yoda יוֹסֵף (essa última pequena letrinha). ] voltando ao Sonho de Iosef, digo José. O anjo aparece para José dizendo para que ele e sua amada família partam para o Egito, pois Herodes está tentando matar o pequeno Jesus [ outro break para falar de Jesus, que em Grego é Ἰησοῦς Ieçus que também é a transliteração do Hb. pro Grego do nome de Josué. Josué em Hb. é Yehoshua, logo Jesus em Hb. é Yeshoshua, agora pesquise aí o porquê de Jesus ser chamado Jesus e Josué Josué se ambos tem o mesmo nome. ]

Então eles foram para o Egito. Eu disse que os pais de Jesus eram pobres; à luz de Lc 2:24. Essa é a interpretação 100% textual (ou seja, sem levar em consideração influências externas). Por que digo isto, pois alguns pastores já me falaram que Jesus era o próprio cordeiro, por isso da mudança no sacrifício, eu tentei argumentar que estava fazendo uma interpretação textual fidedigna, ou seja, o que o texto está falando. Agora vamos para outro ponto de discussão: se eles eram pobres como foram para o Egito. Eu já li sobre teorias de que o ouro que os magos trouxeram, eram a fonte da renda que eles usaram, mas claro, isso é uma teoria, não posso, aliás, ninguém pode afirmar nada pois não há relato bíblico nem histórico [achados] que suportem essa ou outra afirmação. Mas eu acho que isso é bem provável. Interessante aqui é que eu usei Eu + Acho do verbo achar que dentre seus vários significados, em particular aqui quer dizer ter a impressão ou opinião; considerar, em outras palavras, não afirmo mas acredito que sim, eles usaram o ouro para se manterem no Egito.

Tempos depois, um anjo do Senhor aparece novamente para José e lhe diz que Herodes morreu e que era pra ele voltar pra Israel porque quem queria tirar a vida de Jesus já morreu. E novamente por divina advertência, sabendo que Arquelau (filho de Herodes) lá reinava ele foi para Nazaré para que se cumprisse uma profecia.

De volta para Lucas. Já tendo voltado do Egito e estando em Nazaré, Jesus já com 12 anos de idade, eles então vão Jerusalém para a Festa da Páscoa, vale aqui uma nota. Não estamos falando da Páscoa que celebramos em Abril que tem ovinhos e tudo mais. A Festa da Páscoa a que o texto se refere tem outro significado, a Páscoa aqui se refere a saída do povo de Israel do Egito. Na décima e última praga Jeová matou todos os primogênitos do Egito (Ex 12:12) exceto os dos hebreus, mas para isso Deus falou para eles teriam que passar sangue de cordeiro na verga da porta, assim o SENHOR não ferirá a casa em que tiver o sangue do cordeiro. A palavra Páscoa vem do Grego πάσχα (pascha) que por sua vez é uma transliteração do Hb. פֶסַח (pesach). É mais ou menos assim o mistério, em Ex 12:13 Deus diz que quando visse o sangue iria passar direto (em Inglês pass over), ou seja, não iria entrar na casa para matar o primogênito. Então "passar sobre voz" (ARA) vem do verbo em Hb.פָסַח (pacach).

Versos 41-52 conta a famosa história de Jesus no meio dos doutores. Esses entendidos na lei se admiraram com a sabedoria de Jesus, aqui não tem muito mistério, mas queria ir direto pro verso 51 onde está escrito "[...] sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no coração." Maria falou isso pois quando eles falaram pra Jesus "Oh Jesus, a gente tava preocupado procurando você, e você aqui no meio desse monte de gente, por que fez isso?" e Jesus respondeu "oxi por que tava me procurando? Não sabia que eu precisava tá na casa do meu Pai?" (v. 49), Maria nem José entenderam o que Jesus quis dizer com isso (v. 50).



¹Benson, Ellicott
²Ellicott, Expositor's Greek, Barne's
³Ellicott

segunda-feira, 11 de março de 2019

Gênesis 19

No capítulo anterior vimos o encontro de Deus e dois de seus anjos com Abraão. Eles vieram com dois objetivos: trazer boas novas para Abraão e julgar Sodoma e Gomorra.

Aqui no capítulo 19 continuamos essa saga. Os dois anjos, em forma de homem, vão para a cidade de Sodoma onde são acolhidos por Ló. Ele então convida os dois homens para passarem a noite em dua casa e lhes dar de comer. Antes de dormir, alguns homens da cidade cercaram a casa de Ló e exigiram que Ló entregasse os homens [anjos para que eles os sodomitas pudessem abusar dos convidados de Ló. Ló não consente com o pedido dos homens e sai para conversar com eles, mas eles estão dispostos a usar a força bruta para conseguirem seu objetivo, porém os convidados de Ló resolvem a parada cegando os homens que queriam lhes causar mau, pois eles eram anjos e tinham poderes.
Então os anjos contam a Ló a que vieram e fala pra Ló se preparar para deixar a cidade que será destruída. No dia seguinte Ló deixa a cidade com suas duas filhas e esposa e quando já estão longe e a salvo as cidades de Sodoma e Gomorra são destruídas.
Temendo a extinção da linhagem de seu pai uma vez que seus futuros maridos não acreditam nas palavras de Ló, ficaram na cidade e morreram, as filhas de Ló acabam engravidando de seu próprio pai de forma ardilosa, dando origem assim as nações de moabe e dos filhos de amo.

Agora bora partir para as curiosidades do texto

5 "[...] Traze-os para fora a nós para que abusemos deles." (ARA). O verbo em Hb. יָדַע (yada) tem muitos significados, sendo o mais amplo conhecer, mas que dependendo do contexto significa "ter relações sexuais." e de fato a NVI traz exatamente essa tradução "[...] para que tenhamos relações com eles."

8 "tenho duas filhas, virgens, eu vo-las trarei [...]", é isso mesmo que você está pensando, os safadinhos de Sodoma foram até a casa de Ló com intenção de abusar de seus convidados [os Anjos] e Ló implorando para que eles não fizessem mal algum aos homens, oferece suas próprias filhas em troca dos convidados. Por mais horrendo que isso possa parecer para você, nos dias de hoje, naquela época não era tão tenebroso assim. Isso se repete em Juízes 19:24 quando o levita de Efraim foi buscar sua concubina, na volta ao chegar em Gibeá um senhor ofereceu-lhe abrigo mas os homens da cidade [que a bíblia diz serem filhos de Belial] vendo isso foram até a casa do senhor e queriam que ele trouxesse o levita para fora para que eles pudessem abusar dele, ao invés o senhor ofereceu-lhes sua filha e uma concubina. Hospitalidade nesta época era coisa séria, um artigo¹ da Northwest University tenta traçar a historicidade acerca do tema. É também o que os comentarista Ellicott e o Cambridge Bible argumentam.
Só a título de curiosidade, minha bíblia² é a Almeida Revista e Atualizada (a.k.a ARA) e nela está escrito que as filhas eram virgens, mas se você pegar uma ACF por exemplo não verá a palavra virgem e sim "não conheceram homem" ou não יָדַע (yada) conheceu homem. Que semanticamente alando é a mesma coisa, era só pra dizer que aqui a palava no Hb. não é virgem.

9-10 uma tradução [interpretação] mais clara seria "Eles falaram "Saia da frente", esse [Ló] chegou aqui como forasteiro e quer agora ser juiz. Então empurraram Ló e chegaram perto da porta para arrombar mas os homens [anjos] puxaram Ló para dentro [de casa] e fecharam a porta e feriram os homens [de Sodoma] com cegueira [com um ato milagroso, pois eram Anjos do SENHOR].

Na parte que trata da origem dos moabitas e amonitas mais especificamente no verso 31 temos uma dificuldade interpretativa, onde lemos "[...] Nosso pai está velho, e não há homem na terra que venha unir-se conosco [...]", a dificuldade é no "não há [mais] homem na terra", Gill's interpreta essa passagem dizendo que ela estava achando que não havia mais homem algum no mundo e tenta outras formas de explicar essa passagem. Há varias possibilidades aqui, pode ser que elas acharam que Zoar também fora consumida, etc. A verdade é que não saberemos a resposta correta, uma vez que a bíblia não nos conta.


¹HOSPITALITY IN THE ANCIENT NEAR EAST <https://eagle.northwestu.edu/faculty/bob-stallman/files/2011/03/4.pdf>. Acesso em: 11/03/2019.
²Na verdade, eu tenho duas bíblias em papel, uma ARA e uma NVI em Inglês [todas presentes], mas sempre consulto outras versões online.

sábado, 9 de março de 2019

Gênesis 18

No capítulo anterior aprendemos sobre a mudança do nome de Abrão para Abraão, a instituição da circuncisão como sinal da aliança entre Deus e Abraão e novamente Deus fala de sua promessa para Abraão.

Neste capítulo nós lemos sobre a destruição de Sodoma de Gomorra e da promessa do filho de Abraão e Sara.

Então aparecem três figuras e Abraão corre para saudá-los, vendo que eram enviados de Deus e o próprio Deus [numa teofania] Abrão se prostra em terra e vai mandar preparar comida para eles. Depois um dos homens pergunta a Abraão sobre Sara e fala para ele que daqui a um ano ela voltaria e que ela já estaria com o filho. Sara escutando isso riu por dentro e Deus em sua infinita onipotência pergunta pra Abraão [retoricamente] porque Sara riu e fala que para Ele nada é impossível.

Depois o SENHOR fala pra Abraão de seu plano de destruir Sodoma e Gomorra pelos seus pecados e aí Abrão fica preocupado porque ali mora seu sobrinho Ló.

Vamos para as curiosidades e comentários do texto

Como Abraão sabia que diante dele estava o SENHOR Deus?

A resposta, ou melhor, a minha tentativa de responder a esta questão é puramente interpretativa, não me entendam mal. Uma vez que a bíblia não deixa claro o desenrolar dos fatos, pois vemos que a bíblia diz que "Apareceu o SENHOR [...]" e mais adiante "[...][Abraão] prostrou-se em terra e disse: Senhor [adonai] meu [...]". Aqui claramente é uma teofania de Deus, e vamos relembrar que Deus já havia aparecido para Abraão em mais de uma oportunidade (Gn 12:7, Gn 17:1). Em Gn 17:1 Deus apareceu para Abraão e aqui novamente, a diferença entre a aparição de Gn 17:1 e Gn 18:1-3 é de poucos meses, pois aqui no capítulo 18 o SENHOR fala para Abraão que Sara vai engravidar de um bruguelo e em Gn 21:5 lemos que Abraão tinha 100 anos quando Isaque nasceu, não sabemos exatamente quantos meses mas de 100 para 99 de em Gn 17:1 digamos que foram alguns meses. Agora vamos para a pergunta, como Abraão soube que um daqueles três homens era Deus? A resposta correta é: não há resposta correta pois a bíblia não nos conta, mas eu quero acreditar que Deus veio na mesma forma de Gn 17:1 quando ele disse "Eu sou o Todo-Poderoso [...]", então Abraão reconheceu a sua face e de imediato se prostrou em terra.

"[...] lavai os pés e repousai [...]" (V. 4) aqui é a primeira vez que lemos sobre esse ato de lavar os pés. Sabemos tanto por contexto histórico quanto pela própria bíblia que naqueles tempos não haviam sapatos ou tênis como conhecemos hoje, eles andavam de sandálias (Ex 3:4, Js 5:15) e que lavar os pés, principalmente das visitas era um costume e um ato de hospitalidade (Gn 19:2; 43:24, Lc 7:44). Convenhamos que pé sujo é muito desconfortável. Nasci e me criei no interior do nordeste e andava só de sandália pelas ruas sem calçamento, ao chegar em casa tinha que lavar os pés pois não aguentava o desconforto de estar com os pés cheios de poeira. O mesmo acredito que acontecia aqui.

Uma correção a respeito da tradução ARA.

18:6 "[...] Amassa depressa três medidas de flor de farinha e faze pão assado ao borralho". Essa palavra borralho aqui que pode significar o forno onde se assa o pão está aqui de atrevida, uma vez que não temos isso no original. A NVI está assim "Depressa, pegue três medidas da melhor farinha, amasse-a e faça uns pães". No Hb. מַהֲרִ֞ישְׁלֹ֤שׁסְאִים֙קֶ֣מַחסֹ֔לֶתל֖וּשִׁיוַעֲשִׂ֥יעֻגֽוֹת que ao pé da letra é "Rapido, três medidas de flor de farinha, amasse e faça pães". Uma curiosidade sobre o Hebraico é que não há artigo indefinido (um, uns, uma, umas), mas como a função da tradução é interpretar o que o autor quis dizer e trazer para a língua-alvo, adiciona-se os artigos indefinidos para fazer sentido. Se fosse feita uma tradução literal, ficaria estranho.
A King James traz "[...] faça três pães." Mas o texto fala de três medidas de farinha e não que eram três pães, agora se uma medida era equivalente a um pão aí são outros quinhentos, mas é melhor deixar o texto falar por si.

Curiosidade sobre o lanchinho que Abraão preparou para Deus o os Anjos

Abraão pediu para Sara preparar depressa uns pães e enquanto isso ele escolheu um novilho, entregou-o ao seu criado para que ele o preparasse. Preparar aqui significa, matar [os judeus degolam o animal vivo], tirar o couro, as entranhas, despencar [como se diz no nordeste para separar as carnes] e levar a carne para que seja preparado. Algo similar aconteceu quando o SENHOR apareceu para Gideão quando este foi incumbido de libertar Israel dos midianitas. Em Juízes 6:19 Gideão preparou um cabrito cozido e pães. Agora você imagine quanto tempo isso num demorou (risos) para matar o boi até a carne ficar prontinha. Eles devem ter esperado no mínimo umas 3h horas para que tudo ficasse pronto. Digo isso porque já presenciei o processo da transformação do boi em bife. Aqui se Abraão assou a carne, foi até mas rápido, mas como Gideão cozeu, demorou mais ainda.

Sodoma e Gomorra

Esses Anjos e o próprio Deus vieram com uma missão específica, 1. Anunciar o que fora prometido a Abraão sobre seu herdeiro (18:9-15) e 2. Julgar essas duas cidades perversas (18:16-33).

O verso 21 diz "Descerei e verei se, de fato, o que têm praticado corresponde a esse clamor [...]". Não se enganem. A princípio esse verso pode parecer estranho, pois a conjunção "se" que dá ideia de "será se é mesmo?" Traz uma conotação de incerteza. Você deve estar se perguntando: - mas será se Deus em sua grande onipotência não tinha certeza desses fatos?  Aqui é o que os teólogos chamam de antropomorfismo. Outros exemplos disso encontramos no capítulo 6:6 quando a bíblia diz que Deus se arrependeu de ter feito o homem. E bem lá na frente no livro de 2 Reis Deus manda o profeta falar pra o rei Ezequias que ele iria morrer dessa enfermidade mas Ezequias começa a orar e chorar e então Deus manda o profeta voltar e falar pra Ezequias que ele viveria mais 15 anos. Estes são exemplos de antropomorfismo, vale a pena ler um pouco mais sobre esse assunto.

Intercessão de Abraão

A resposta que vou dar aqui é meramente opinativa. A corrente mais comum de pensamento diz que Abraão intercedeu pela cidade inteira perguntando pra Deus se acaso houvesse 50 pessoas justas na cidade Ele abortaria seu plano de destruição da cidade. Respondendo o SENHOR que sim, então Abraão pergunta novamente mas fala de 45 pessoas, depois 40, 30, 20 até chegar no número 10 e então Abraão se cala e Deus se retira da cena.

Quero acreditar que a cada resposta positiva de Deus, que sim ele abortaria a destruição da cidade caso houvesse algum justo, Abraão ficava mais convencido de que não havia nenhum justo ali, até que Abraão desiste de interceder (V. 32). O que me soa estranho é o porquê de Abraão se preocupar tanto com essa cidade que tinha tanta má fama. Eu quero acreditar que a maior preocupação de Abraão não é com a cidade, mas em particular com um certo indivíduo que habita lá, seu sobrinho Ló! Quando Deus anuncia a Abraão suas intenções para com aquela cidade, Abraão fica apreensivo e começa a dialogar com o SENHOR na esperança que ele poupe a cidade por amor ao seu sobrinho Ló.

Ora, Deus é o Todo-Poderoso. Você acha que ele já não saberia de antemão que ali não havia justo algum? Quando Deus fala "[...] Se eu achar em Sodoma cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a cidade toda por amor deles." mas enquanto isso os dois Anjos continuam caminhando em direção a cidade, e então a percepção de Abraão é: "Eita, não tem cinquenta justos ali, vou tentar quarenta e cinto", e isso continua até chegar no número dez e Abraão desiste. Mas como eu afirmei no início da resposta, esta é minha teoria baseada nesses argumentos.

quarta-feira, 6 de março de 2019

Lucas 1, Mateus 1

Começo pelo evangelho segundo Lucas pois este é o que traz mais detalhes acerca dos acontecimentos antes do nascimento de Jesus. 

Enquanto Mateus começa com a genealogia de Jesus a partir de Abraão até José marido de Maria. Marcos começa já com o ministério de João Batista e Lucas com a história pré-nascimento de João Batista.

O prefácio começa com um relato de Lucas descrevendo o motivo pelo qual ele escreve esse Evangelho e como ele o fez, investigando os fatos. Lucas era médico de formação e andou com o apóstolo Paulo. Diferentemente de Mateus e João que andaram com Jesus e o que eles escreveram foi baseado no tempo em que passaram com o Senhor, Lucas, conforme descreve no verso 3, fez uma investigação acurada sobre a vida de Jesus e escreveu esse relato endereçado à Teófilo. Agora esse Teófilo não sabemos quem é, há várias teorias acerca da pessoa de Teófilo, mas a verdade é que não sabemos a verdade uma vez que a bíblia não nos diz.

Zacarias e Isabel

Então vamos a história de João Batista, que começa com seus pais: Zacarias e Isabel. Conforme você leu Zacarias era um sacerdote e quando foi sua vez de exercer sua função de queimar incenso no santuário do Senhor um Anjo do Senhor apareceu pra ele dizendo que sua oração havia sido ouvida e que sua esposa daria luz à um filho: João Batista, a.k.a JB [nota minha =].

Vamos falar sobre o que Zacarias fazia, de forma resumida. Zacarias era um sacerdote da linhagem de Aarão. Aarão e seus filhos foram escolhidos por Deus para servirem a Deus como sacerdotes (Ex 28:1). Uma das funções dos sacerdotes era queimar incenso no santuário do Senhor, que é o que temos registrados em Lc 1:9, para mais alguns detalhes sobre as funções sacerdotais ver Nm 28.

Então o Anjo do Senhor fala pra Zaca [rias] que JB será grande diante do Senhor, [...] e converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor. Quando lemos que ele [JB] irá no espírito de Elias para converter os corações dos filhos de Israel, o comentarista Matthew Poole diz que ele iria clamar o povo pra retornar pra Deus de verdade, apesar de conhecerem Deus eles estavam mergulhados em erros e o judaísmo se tornou um sistema legalista, muito religioso. E Elias foi um grande profeta usado por Deus para converter muitos que já não andavam mais nos caminhos do Senhor (1 rs 18:20-40).

Como vemos no texto, Zacarias acabou duvidando das palavras do Anjo e então o Anjo lhe falou que por ele ter duvidado, iria ficar mudo até que o menino nascesse. Quando Zacarias saiu, o povo que estava do lado de fora orando, se admiraram porque Zacarias demorou e como ele saiu sem falar nada eles deduziram que ele [Zacarias] havia tido uma visão no santuário.

Depois disso Zaca voltou pra casa. Isabel, sua esposa, então engravidou e ficou alguns meses reclusa. Vemos que ela ficou feliz por suas palavras no verso 25. Em uma sociedade patriarcal, a mulher que não gerava filhos não era vista com bons olhos. Vemos isso na própria bíblia. Em Gn 30:1 podemos ver o desespero de Raquel por não não conseguir ter filhos, enquanto sua irmã Lia tinha vários. No verso 23 depois de conceber ela fica muito feliz. Acreditava-se que não ter filhos era como se fosse um castigo divino¹, por isso as palavras "opróbrio" (lc 1:25) e "vexame" (gn 30:23).

Nascimento de Jesus (em Grego Ἰησοῦς lê-se iéçus)

A história conta que o Anjo Gabriel foi enviado para Nazará a uma virgem chamada Maria desposada de José [da linhagem de Davi].

Desposada (ARA), Prometida (NVI): a tradição² diz que no judaísmo esse ato de estar desposada/prometida era uma cerimônia que se fazia com um ano de antecedência do casamento.

Lucas conta com mais detalhes os fatos acerca da miraculosa gravidez de Maria. Mateus relata de forma mais resumida e vai até o nascimento de Jesus (Mt 1:18-25). Mateus também traz detalhes que em Lucas não vemos, como por exemplo, o fato da descoberta de José da gravidez de Maria. Sabemos que eles estavam prometidos, mas Lucas não fala sobre esse acontecimento. Pois bem, em Mateus lemos o relato de que José descobre da gravidez de sua prometida e bola um plano para deixar ela sem desgraçar sua honra, aí um anjo aparece para José em sonho explicando toda a situação e cita uma profecia messiânica do livro de Isaías (Is 7:14)

De volta pra Lucas. Maria então vai visitar sua parenta Isabel, pois o anjo do Senhor havia falado pra Maria que também Isabel de forma milagrosa havia engravidado, pois já era avançada em idade. O que acontece em seguida é algo muito lindo, Maria chegando na casa de Zaca e saudando Isabel, Isabel ao ouvir a voz de Maria o pequeno João Batista se meche todo no ventre de sua mãe e Isabel cheia do Espírito Santo começa a exclamar em voz alta: "Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto to teu ventre!"
Foi uma revelação do Espírito Santo, como veremos também no cântico de Zacarias. No verso 43 onde está escrito "E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor?" onde está escrito provém no grego é o advérbio πόθεν(prothen) que quer dizer "de onde", mas algumas traduções como a King James, NVI traduzem a ideia de "honra", de fato a NVI está escrito "Mas por que sou tão agraciada, a ponto de me visitar a mãe do meu Senhor? "

Sobre o cântico de Maria e de Zacarias eu farei uma análise separada.

Nascimento de João Batista

Então chegado o tempo certo, nasce o famoso João Batista. Os vizinhos maravilhados com esse milagre [uma velhinha dando a luz] e seus parentes ficaram muito alegres com esse acontecimento. No oitavo dia foram circuncidar JB e é nesse dia também que registram o nome da criança [os Judeus era bons em manter esses registros genealógicos]. Sobre a circuncisão ao oitavo dia, está na lei: Lv 12:3, em Gênesis 17 escrevi um pouco sobre isso.

Ficou nessa de coloca o nome de Zacarias mas não tinha que ser João, e nisso após Zacarias escrever numa tábua o nome do moleque quando perguntado ele milagrosamente volta a falar e todos ficaram cheios de temor por causa desses acontecimentos: 1. Zacarias se demora no templo e sai de lá mudo, 2. Sua esposa que já em avançada idade consegue engravidar e 3. Ao terminar de escrever o nome de João, Zacarias volta a falar e começa a louvar a Deus. E isso se espalhou e todos ficaram temerosos, pois esta não iria ser uma criança comum.

Verso 80 João viveu nos desertos até o dia em que começaria seu ministério, que era anunciar a vinda do Senhor Jesus. Nada se sabe do que João fez durante esse tempo, há várias teorias mas vamos focar no que a bíblia nos diz. Só sabemos que ele se alimentava de gafanhotos e mel (Mt 3:4).

Voltando para Mateus.

Mateus, sendo ele mesmo um judeu, ele tinha em mente ao escrever essa carta os judeus. Podemos notar que ele frequentemente se referia ao Senhor Jesus como Filho de Davi para enfatizar sua linhagem messiânica [que Jesus era o messias prometido e que viria da linhagem de Davi (2 Sm 7)]. Por isso ele começa seu escrito com a linhagem de Abraão até José, esposo de Maria que gerou Jesus. Mateus queria aqui mostrar que Jesus era de fato o Messias prometido, mostrando todas as gerações desde Abraão. Lucas também traz uma linhagem, mas vamos falar disso só no capítulo 3.
Há uma pequena discrepância na genealogia de Mateus, só fui notar isso quando comecei a estudar o livro de Reis. Não há uma reposta correta acerca dessa discrepância, ou seja, ninguém sabe ao certo porque Mateus omitiu esses nomes, há teorias mas não vou discorrer sobre elas aqui. Você pode fazer uma pesquisa ou encontrar uma boa teoria no site Got Questions³.


¹Ellicott
²Pulpit, Cambridge Bible for Schools and Colleges
³Genealogia de Jesus de acordo com Mateus

Gênesis 17

No capítulo 16 aprendemos sobre a história de Ismael. Quando Sarai já sem esperanças de gerar um filho fala pra Abrão que ela se edificará tendo filhos através de sua serva Agar. É isso mesmo, ela manda seu marido pegar sua escrava. Então nasce Ismael.

Depois de 13 anos deste acontecimento, ou seja, do nascimento de Ismael, Deus aparece a Abrão e novamente fala para ele de sua aliança. Deus então muda o nome de Abrão para Abração que significa pai de nações [ou multidões].

Deus institui a circuncisão como símbolo da aliança de Abraão com Deus e promete a Abraão um herdeiro, filho de Sara [ah, Deus também muda o nome de Sarai para Sara], o que Abraão dá uma risadinha duvidando disso mas o SENHOR diz que isso vai sim acontecer. Abraão então circuncisa todos de sua casa, e a história acaba.

Melhor parte agora, comentários e curiosities

Acho que já está na hora de falar de Deus, isso mesmo de Deux. Até aqui Ele já se apresentou de várias formas: Deus, SENHOR, Deus Altíssimo, Deus Todo-Poderoso e mais a frente vermos outras formas nas quais o SENHOR se apresenta.

Quando vemos escrito na bíblia Deus, no original Hebraico a palavra é אֱלֹהִ֑ים (elohim). Quando lemos SENHOR, tudo maiúsculo, no Hebraico é יְהוָ֣ה (yaweh) ou como falam em Português Jeová/Javé. Quando no capítulo 14 Melquisedeque abençoa Abrão ele diz: "Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo [...]", aqui em Hebraico Deus Altíssimo אֵ֣לעֶלְי֔וֹן (el elyom) e aqui no 17:1 ele se apresenta como o Todo-Poderoso; אֵ֣לשַׁדַּ֔י (el saday). Já notaram que na bíblia de vocês há dois "senhores"? Quando estiver escrito SENHOR em maiúsculo o original é Yaweh mas se for minúsculo ou só o "s" maiúsculo a palavra no hebraico é Adonai, que é o termo usado para "senhor". Os judeus não pronunciam o nome de Deus [dizem que é um mandamento não falar o nome de Deus em vão] então sempre que estiver escrito Yaweh eles falam adonai. Em escritos ao invés de escreverem Deus eles escrevem D'us.

Acerca da mudança do nome de Abrão para Abraão, como sempre, há diferentes interpretações. No verso 5 Deus fala  "Abrão já não será teu nome, e sim Abraão; porque por pai de numerosas nações te constituí." Onde tem "numerosas" no texto em Hebraico a palavra é הֲמ֥וֹן (hamon) significando, multidão, abundancia. Notem a primeira letra הֲ (hey) e vamos comparar em Hb., Abrão אַבְרָ֑ם e Abraão אַבְרָהָ֔ם, vejam que houve a adição da letra הָ֔ na penúltima sílaba. Ellicott, Pulpit e Gill's estão em comum acordo de que a mudança para o -aham vem do Árabe que quer dizer multidões, porém olhando para as palavras eu acredito que não tem nada a ver com o Árabe e sim com a adição do hey, e essa linha de pensamento é compartilhada por Matthew Poole.

Circuncisão e aliança

Circuncisão é a retirada da pele do prepúcio do pênis. Como as histórias da bíblia são um reflexo do contexto cultural no qual ela está inserida, não seria diferente com essa parte da circuncisão. Há relatos de que os Egípcios praticavam a circuncisão muito antes do tempo de Abraão¹, apesar de ser uma prática para o sacerdócio, mas vemos que isso não foi inaugurado por Deus especificamente para isso. Mas esse rito foi instituído por Deus para separar seu povo dos demais.
Abraão [já passarei a chamá-lo assim] então obedecendo a ordem do SENHOR circuncida todos de sua casa, desde seu pequeno Isaque até os escravos. A partir deste momento para o povo de Deus [descendentes de Abraão] todo macho terá de ser circuncidado ao oitavo dia do nascimento (Gn 17:12; Lv 12:3).

Ismael

O SENHOR então fala pra Abraão que vai mudar o nome de Sarai para Sara e que ela vai lhe gerar um filho, Abraão rindo e falando com ele mesmo duvidando de que eles já eram velhos. Abraão duvidando disso ele fala pra Deus que espera que seu filho Ismael viva e Deus diz que ele não só viverá mas que também ele se multiplicará grandemente e dele sairão 12 príncipes. Sobre esses príncipes temos poucas informações. Em Gênesis 25 encontramos os nomes dos 12 príncipes, depois disso nada mais. Há muitas teorias acerca desse tema, mas não vou entrar em detalhe. Mas acreditas-se que os Árabes são descendentes de Ismael.

¹Cambridge Bible for Schools and Colleges/Herodotus, ii. 114

sábado, 2 de março de 2019

Introdução ao estudo dos Evangelhos

Nesse estudo eu vou focar nos Evangelhos conhecidos como Sinóticos¹ e será um estudo sincronizado entre os três de uma vez. Não vou fazer com nos outros livros que estudo capítulo a capítulo, mas farei um estudo pegando partes de cada um dos evangelhos e colocando no estudo.

Não pretendo aqui nessa introdução fazer uma exposição detalhada dos porquês de cada evangelho, há já bastante coisa boa por aí acerca desse assunto. De fato se você entende Inglês eu te recomendo o site christianuniversity.org, só tem fera lá. Todos os cursos foram criados por doutores em alguma área da teologia.

Cada um dos evangelhos de Jesus nos trás uma perspectiva diferente e contribui de maneira singular para o aprendizado e entendimento da vida e ministério de Jesus aqui na terra.