sábado, 11 de maio de 2019

Pentecostalismo: manipulação ou ação do Espírito Santo?

O que começou como uma nova era de uma comunhão especial com Deus através do Espírito Santo, hoje tem se transformado em algazarra, gritaria, manipulação de sentimentos e mensagens antropocêntricas que colocam as necessidades do homem à frente do objetivo central do culto, "[onde] o maior é o menor"[1] e há uma busca incessante por aprovação por parte dos fiéis, que na visão de alguns pregadores, mais parecem clientes de suas mensagens do que irmãos em Cristo ávidos pela palavra de Deus.

Não sou contra as manifestações do Espírito, desde que sejam verdadeiras, sinceras e não precisem de serem manipuladas por pedidos de "glória a Deus". Eu mesmo já chorei muitas vezes aos pés do Senhor ouvindo um louvor, uma pregação carregada de amor, mas isso que vemos hoje de pregadores pedindo para você dar "glória a Deus", falando que se você não der um "glória" é porque você não entendeu a mensagem não é de Deus. Ora, eu numa classe quando entendo o que o professor está falando não vou ficar gritando "é verdade professor". Não há necessidade para isso. Quem gera a mudança é a palavra e não a sua busca incessante por glória. Tem culto que mais parece um programa de auditório onde o apresentador interage com o público. Não que não deva haver manifestação por parte dos fiéis que estão ouvindo a palavra, mas essa manifestação tem que ser espontânea, sincera e não ativada por um pedido do pregador para dar um glória, um aleluia sob ameaça de nos sentirmos burros por não termos entendido a mensagem ou sob ameaça de ir embora por não termos reconhecido que sua mensagem foi "forte" e portanto merecedora de um "gloria a Ti [o pregador e não a Deus, uma vez que Deus pede para adorá-lo em verdade e em espírito]". Quer ir embora vá, da mesma forma que Deus busca verdadeiros adoradores, ele também busca verdadeiros pregadores do Evangelho. Já falo sobre os diferentes ministérios.

Pregadores itinerantes e do fogo

Vim para Cristo em Março de 2018. De lá para cá foram muitas cabeçadas, desilusões e aprendizados. Uma das coisas que mais me deixa perplexo hoje é essa sobrevalorização do chamado "ministério" e devido a romantização do ministério hoje vemos até cursos online de como ''deslanchar seu ministério''. Eu pensei que ministério era algo mais focado servir a Deus, mas hoje mais parece ser no homem, em trazer a glória para o homem do que levar a mensagem do evangelho ou alimentar o rebanho do Senhor. Pessoas frustradas em suas vidas profissionais enxergam no evangelho uma nova possibilidade de realização profissional: reconhecimento e agendas requisitadas, e claro, dinheiro.

Há a figura do pregador itinerante, com agendas requisitadas, muitas viagens, fama e dinheiro, e claro, muitos jovens almejam isso para a vida deles também, e a consequência disso é uma disputa por cargos e oportunidades em suas igrejas na esperança de serem reconhecidos e um dia, quem sabe, ser famoso pregando a palavra de Deus. Há muitos homens de Deus nesse ministério, mas há também muitos oportunistas. E o pior de tudo é que muitos querem só o caminho mais fácil, que é, não estudar e pregar "na revelação" ou trechos memorizados de outros pregadores já consagrados, e claro, ter um testemunho forte.

Ninguém quer enfrentar uma faculdade de teologia de 4 anos, preferem algo mais curto, cursos básicos, leituras de livros ralos para pegar o básico pois o resto é com o "Espírito Santo" que "capacita". Certo dia um pastor foi pregar em nossa igreja, ele tem alguns livros escritos e disse que o seu livro de maior sucesso é o "Como pregar em 12 dias", sem comentários. Vejo até muitos comentários na internet erroneamente apontando para os apóstolos como um exemplo de quem não precisaram fazer uma faculdade. Ora, quer melhor faculdade do que aprender sobre o Evangelho com o próprio Jesus Cristo? Se isso não foi um curso intensivo sobre o Evangelho, então não saberia te responder o que foi. Paulo fala na carta aos Gálatas que o que ele aprendeu sobre o Evangelho foi mediante revelação de Jesus (Gl. 1:11-12) e sabemos muito bem que Paulo ficou um tempo fora do radar após a sua conversão (v. 17), o que ele estava fazendo senão se preparando para o seu chamado ministerial? Mas hoje o que vemos são pessoas que querem sair por aí pregando mensagens de fogo e nada de teologia, pois teologia não lota agenda nem igreja[2], mas mensagens massageadores de ego sim.

Ministérios

Quem nasceu para ser lagartixa, nunca vai ser crocodilo. Por mais engraçada que essa frase seja, e há muitas variantes dela, ela se aplica muito bem aos dons ministeriais. Ser pastor ou pregador não é uma segunda opção na sua vida, é um chamado divino. Ninguém pode acordar certo dia e dizer "eu vou ser pastor". Paulo escreve que Jesus "concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres." (Ef. 4:11). E infelizmente há quem ache que há uma escadinha, uma hierarquia a ser galgada por méritos próprios até um dia chegar ao pastoreio, e, não tão raro hoje, chegar a ser um "apóstolo" ou deslanchar no ministério itinerante.

A ordenação ao pastoreio varia muito de igreja para igreja e até denominação para denominação. Das que conheço até hoje a mais rigorosa é a IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil) que diferentemente da Assembleia de Deus por exemplo, não existe escalada hierárquica: começa como cooperador e vai até pastor. Para mais detalhes, clique nesse link.

O que quero dizer com isso é que, como o próprio texto diz, Jesus estabeleceu uns como "evangelistas" e outros como "pastores". Se Deus quis te fazer um evangelista, seja um bom evangelista, o melhor evangelista possível, mas tem gente que pensando em algo que não é para eles, acaba relegando o dom em busca de algo que não é para você. Paulo escreve "assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberdade; o que preside, com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria." (Rm 12:5-8).

Não busque servir à obra de Cristo por fama ou por dinheiro, faça por amor. Eu confesso que no início da fé quando comecei a receber as tais profecias, vislumbrei uma "carreira" como itinerante, mas hoje já mais maduro, espiritualmente falando, parei de pensar dessa forma. Nunca foi minha intenção ou sonho de ser pastor ou ter nada com o ministério da palavra ou qualquer outro ministério. Eu sou curioso por natureza, não importa a área, sempre estou em busca de respostas, seja na minha área profissional seja agora em relação à teologia. De janeiro para cá, li 14 livros, 12 dos quais são de teologia, e pretendo, se assim Deus permitir cursar teologia em uma faculdade reconhecida pelo MEC para assim aprimorar meus conhecimentos acerca teológicos.


[1] retirado de uma pregação do Pr. Napolão Falcão onde ele critica hoje a guerra entre pregadores para ver quem é o melhor ou atrai mais glória. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=7ocknS0FJFo>. Acesso em: 11/05/2019.
[2] Hoje graças a Deus isso tem mudado, temos visto congressos e simpósios sobre teologia lotados de pessoas com sede da palavra de Deus. Mas muitos desses eventos são patrocinados ou organizados por organizações de orientação calvinista, o que gera muita intriga da parte dos pastores assembleianos que acusam os fieis assembleianos de estarem "bebendo" de muitas fontes, ora, se não se encontra muitos eventos arminianos, quem tá com sede quer água e acaba indo onde tem. Eu hoje tenho maturidade espiritual e conhecimento teológico para filtrar o que é conhecimento puramente bíblico e o que é arminianismo/calvinismo, então não sou facilmente influenciado, mas há muitos jovens que não têm essa capacidade e acabam infelizmente influenciados pelos calvinistas.




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