quinta-feira, 20 de junho de 2019

Pode beber; mas convém?

Em um debate de ideias com um irmão em Cristo sobre a questão da bebida alcoólica, ele fez alguns apontamentos e eu procurei em forma de diálogo mostrar à luz da bíblia as fraquezas de seus argumentos ao insistir na não-ingestão da bebida alcoólica por parte do crente, desta vez usando o argumento de que não convém. Deixo bem claro minha intenção que é de apenas mostrar as fraquezas lógico-argumentativas dos que dizem que a bíblia proíbe o consumo e não fazer apologia ao consumo.

Convém

O primeiro questionamento foi em relação à conveniência [se convém o crente beber]. Essa reposta só convém ao próprio indivíduo. Se ele já foi viciado, não convém, se ele não sabe se controlar, não convém. Agora se ele é como eu que nunca - antes de conhecer a palavra - teve problemas com o álcool, ou seja, não bebia para ficar dando trabalho, bebia apenas com fins recreativos, pois tudo o que Deus criou é bom (1 Tm 4:4), então não vejo motivos para a proibição. Como eu já mencionei aqui minha briga não é com o ato mas sim com os argumentos! Você pode elencar inúmeros motivos pelos quais alguém deveria se abster do álcool, só não faça uma exposição seletiva dando a entender que Deus abomina quem bebe um vinhosinho.

Aqui vai mais algumas recomendações paulinas acerca do tema em pauta. Paulo escreve para Timóteo que algumas pessoas iriam dizer que não seria lícito o consumo de certos tipos de alimento [nesse caso, o vinho], mas ele deixa bem claro que "tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é recusável"[1], mas vale as outras orientações que [acho que] deixei claro no primeiro texto, como por exemplo se o teu irmão não é muito a favor e se escandalizaria, é melhor que não faça na frente dele (1 Co 8:13) e também se alguém tem algum tipo de fraqueza ou já foi liberto do vício, é bom também que se abstenha para não deixar ser dominado pela bebida (1 Co 6:12). Dentro desse contexto o cristão vai decidir se convém ou não e respeitando todas as recomendações já descritas.

Levantou-se a seguinte questão: Deus criou a uva e não o processo de fermentação. Quanto à esse questionamento eu me pergunto: o vinho era tão bom assim que trazia tanta alegria ao coração do homem ao ponto de ser o único tipo de suco que é mencionado em um salmo? (Sl. 104:15). Seria bem intrigante imaginar que Deus não sabia que iriam aprender a deixar a uva fermentar para virar uma bebida tão maravilhosa que é o vinho.

Sobriedade

Também foi levantado o questionamento sobre a sobriedade, uma vez que Pedro nos exorta a sermos sóbrios e vigilantes (1 Pe 5:8). A palavra traduzida como sóbrio, no Grego é νήφω (néphó #3525), cujo significado é sóbrio, no sentido de não estar intoxicado com álcool e também estar em estado de alerta (mente). Tanto é que na NIV (NVI versão em Inglês) nós lemos "Be alert and of sober mind", que em uma tradução livre seria "esteja alerta e com a mente sã [ou sóbrio de mente, mas não soa bem]". Então com base nisso, se eu quiser aqui inferir que Pedro estava falando para ficar sem beber, isso só me leva a crer que era um costume para àqueles cristãos ficarem em um estado de embriaguez, afinal não faz sentido eu falar para meu amigo "se for dirigir, não saia sem o capacete", uma vez que somente pilotos de corrida de alta velocidade usam capacete no carro, então o comando só faz sentido se estiver dentro de um contexto já conhecido, caso contrário ele vai olhar pra mim com uma cara de desentendido e perguntar "pra quê capacete?". Outro ponto em relação à essa interpretação é que a palavra νήφω é usada 6 vezes no novo testamento (1 Ts 5:6,8, 2 Tm 4:5, 1 Pe 1:13, 4:7, 5:8) e nem em todas elas tem a ver com bebida ou álcool.

Timóteo cachaceiro. 

Seguindo a lógica de que Pedro nos exorta a sermos sóbrios, ou seja, nos abstermos do álcool, então eu posso concluir que Timóteo era um bebum, pois Paulo dá o seguinte comando para Timóteo: "Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições [...]" (2 Tm 4:5). Sê sóbrio, ou seja, "não beba"? Primeiro, se eu interpretar sobriedade aqui como abstinência do álcool, eu só posso concluir que Timóteo era dado ao vinho, portanto inapto ao ministério (1 Tm 3:3), e segundo, porque não faria sentido você falar para alguém que não bebe, não beber, por exemplo, seu filho de 10 anos vai para a escola e você fala para ele: "filho, não quero que você chegue em casa da escola bêbado." Faz sentido esse comando ou exortação? Dito isto, eu só posso concluir aqui duas coisas: a primeira que sobriedade aqui não tem a ver com bebida, e segundo que se alguém insistir nessa questão, vai ter que explicar a harmonia desse versículo com 1 Tm 3:3, onde o apóstolo deixa claramente que o presbítero/diácono não pode ser dado ao vinho.

Conclusão

Aqui novamente eu descrevo o meu pensamento sobre isso. Se você nunca teve problema com o álcool, porque vai ser agora que terá? Acaso o diabo vai fazer você se viciar? Sejamos sóbrios em relação à esse assunto. Eu ia escrever aqui "beba para Glória de Deus", mas no mesmo instante me perguntei como tomar uma taça de vinho iria glorificar a Deus, mas lembrei que a resposta está acima, onde Paulo fala para Timóteo que tudo que Deus criou é bom e onde o salmista escreve que o vinho alegra o coração do homem. O mesmo podemos dizer do sexo, Deus é glorificado no ato sexual? Desde que esse seja feito dentro do propósito criado por Deus (Hb. 13:4), sim, Deus é glorificado. Sejamos responsáveis e não seja pedra de tropeço pro seu irmão (1 Co 8:12).

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[1] Alguns já quiseram usar esse texto para dizer que maconha pode ser consumida, mas isso não pode ser assim, pois há outros versículos que nos explicam o porquê. Primeiro a ilegalidade da substância (c.f 1 Pe 2:13, Rm 13:1-2), segundo que ela vicia (1 Co 6:12).

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