sábado, 30 de março de 2019

Deus mandou Abraão matar Isaque?

Conforme eu falei no meu esboço de estudo de gênesis 22, minha dificuldade inicial foi tentar entender o comando de Deus para que Abraão oferecesse seu único filho como holocausto. Como eu falei, essa era uma dificuldade inicial, mas após uma extensa pesquisa e releitura de um livro apologético muito rico no que tange às difíceis questões morais acerca de certos "atos" de Deus no antigo testamento¹, e após uma simples releitura do primeiro verso do capítulo 22, a ficha caiu. Lemos: "Depois dessas coisas, pôs Deus Abraão à prova [...]". Não preciso mais de explicações para responder à questões do tipo "Como Deus ordenou o sacrifício de uma criança sendo que ele mesmo condena esse tipo de sacrifício como está escrito em Levítico 22:2-5?", a resposta, pelo menos para mim, é muito simples: Deus não ordenou o sacrifício, pois no próprio texto diz que Deus pôs Abraão à prova. Deus nunca teve a intenção de consentir que Abraão levasse a cabo à ordem. No verso 11 lemos "[...] Não estendas a mão sobre o rapaz e nada lhe faças [...]", para mim está claríssimo que a intenção de Deus era somente por a prova a lealdade de Abraão. Esse é o primeiro ponto. 

O segundo ponto é em relação ao fato de Abraão ter obedecido à voz de Deus. Uma vez um amigo meu, que sabia que eu era agiota, mesmo sabendo que eu tinha me convertido me confessou que tinha medo que algum dia eu matasse ele [pela dívida ainda não paga] e alegasse que foi Deus quem mandou. Eu falei para ele que Deus nunca faria nada parecido, mas você pode argumentar que Deus já fez coisa parecida, mas como eu falei no estudo sobre gênesis 22 e de gênesis 15, em todo relato bíblico devemos considerar o contexto histórico-cultural, ou seja, se naquela época sacrificar animais, vingar a morte de alguém com morte (Gn 9:6), ou famoso olho por olho, era normal para o padrão da época, devemos levar isso em consideração. Hoje não é simples assim, você não pode matar o assassino do seu irmão, tio, ou amigo, isso fica a cargo da justiça, se você fizer justiça com as próprias mãos, você tanto será reprovado perante a sociedade como também enfrentará a justiça pelo seu ato.
Para Abraão obedecer a voz de Deus, com certeza ele já deve ter ouvido estórias de algum sacrifício assim, esse é o ponto histórico-cultural. Agora o ponto central aqui é de que Abraão tinha a certeza de que mesmo se ele viesse a levar a cabo o comando de Deus, o SENHOR era poderoso o bastante para trazer seu amado filho à vida (Hb 11:19), essa era a fé de Abraão. Quando Abraão chega próximo ao lugar onde eles deveriam adorar a Deus, ele fala para os rapazes ficarem onde estão que ele e Isaac iriam até o monte adorar e voltariam para junto deles (v. 5). Não podemos inferir aqui nenhuma outra interpretação a não ser a de que Abraão tinha a plena certeza, sem titubear, de que ele voltaria com seu filho. Lembremos que toda escritura é inspirada por Deus (2 Tm 3:16), então quando o autor de Hebreus escreve que Abraão tinha essa certeza, não há margem para dúvidas aqui.

Essa é, em minha análise, uma interpretação indutiva do texto. Está claro no texto que Deus tinha somente a intenção de testar Abraão. Agora vem uma questão teológica, de que essa cena é uma sombra do sacrifício de Cristo, o único filho de Deus (Jo. 3:16).
Vejamos as semelhanças: Deus fala "[...] toma teu filho, teu único filho Isaque, a quem amas [...] e oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes [...]" e comparemos com João 3:16 " [...] deu o seu Filho, unigênito [único]", aqui vemos que ele é o unigênito "[...] meu Filho amado [...]" (Lc 3:21) que morreu no "[...] Calvário [...]" (Jo 19:17). As semelhanças, filho único, amado e que que era pra ser oferecido em sacrifício em um monte, Moriá no caso de Isaque e Calvário no caso de Jesus, Deus não permitiu que Abraão fosse até o fim, mas ele Deus foi até o fim oferecendo seu único filho por amor a nós.

¹Is God a moral Monster?, Copan, 2011.

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