quinta-feira, 21 de março de 2019

Lucas 3, Mateus 3, Marcos 1

Já analisamos os acontecimentos do nascimento tanto de Jesus quanto de João Batista em Mateus 1,2 e Lucas 1,2 e agora vamos para João Batista e o início do ministério de Jesus Cristo. 

Nos três evangelhos a história é contada basicamente em quatro partes: Pregação de João, Testemunho de Jesus, Tentação de Jesus no deserto e a volta para a Galiléia.

Então vamos estudar cada parte separadamente analisando cada evangelho simultaneamente.

Pregação de João Batista: Mc 1:2-6; Mt 3:1-6; Lc 3:1-6

No evangelho de Marcos podemos dividir a narrativa em três partes: (1) acerca das profecias sobre João Batista, (2) dos que estavam buscando o arrependimento e se batizavam e (3) acerca dos trajes de João e sua base alimentar. Suas vestes remontam ao profeta Elias que também vestia peles de camelo e ninguém pode dizer que João era rico, pois comia gafanhotos e mel silvestre.

Já o evangelho segundo¹ Mateus há um detalhe a mais. Mateus também menciona uma profecia messiânica, fala acerca dos que buscavam o arrependimento assim como registrado no evangelho de Marcos, bem como das vestes de João Batista e seus hábitos alimentares simples. Um detalhe a mais que temos é acerca dos fariseus e saduceus que vinham observar o batismo. Não vou falar aqui acerca do que é Saduceu e Fariseu para não ficar muito grande, há muitos bons estudos sobre esses grupos do judaísmo, estudos melhores até do que eu porventura poderia produzir. Mas vou comentar brevemente o que JB quis dizer nos versos 7-10. Quando comparamos os relatos de Mt 3:7 com Lc 3:7, à princípio dá a entender que os fariseus e os saduceus vieram se batizar pois em Lucas o texto diz que JB se dirigiu às multidões e não somente aos fariseus e Lucas sempre se refere às multidões (V. 3:7;10). Mas os comentaristas estão em acordo de que JB estava nesse caso falando com os fariseus e os saduceus². Os fariseus e saduceus achavam que só pelo fato de serem filhos de Abraão já estavam com sua salvação garantida e não precisavam desse arrependimento que João pregava. Arrependimento esse que tinha que ser verdadeiro, não somente dizer que se estavam arrependidos. Em Mateus João diz no verso 7 "produzi, pois, frutos dignos de arrependimento" o mesmo relato está escrito em Lc 3:8 mas Lucas trás detalhes que não encontramos em Mateus como vemos no verso 3:10 de Lucas o povo perguntando o que seria esse fruto do arrependimento quando eles falam "[...] que havemos, pois, de fazer?" e João lhes ensina dos versos 11-14 o que alguém com um coração contrito e arrependido deve fazer, como, repartir com os mais necessitados, não enganar os outros, etc (v.13).

João dá testemunho de Jesus Mt 3:11-12; Mc 1:7-8; Lc 3:15-17 (não falarei do relato de João 1:19-27)

Aqui vemos uma das passagens que mais trazem confusão, principalmente entre os pentecostais [que a propósito não são todos que concordam com essa interpretação] e reformados. Os pentecostais [não posso afirmar sem em maior número, mas de certo em grande número] interpretam a parte do fogo como um fogo bom, purificador, já os reformados, notadamente o Pr. Augustus Nicodemus ensina que esse fogo é o fogo do Juízo.
Vou explicar o porquê da confusão, na minha humilde análise a confusão se dá quando lemos o versículo fora do contexto, ou seja, ler o verso 11 de forma isolada sem levar em consideração o seguinte verso. Devemos lembrar que a bíblia não originalmente escrita com capítulos e versículos, credita-se essa organização de capítulos e versículos a Stephen Langton (1150 - 1228). Mas o que isso tem a ver com essa questão? Tem a ver com o fato de não havendo versículos para separar, diminui-se o risco do famoso "texto fora de contexto", pois não tinha nem como citar o versículo! E acredito que muitos ainda leem cada versículo como tendo um significado próprio, que não precisa do contexto geral para expressar sua ideia central. Então nesse caso temos que levar em consideração o verso 12 onde João segue sua narrativa dizendo que Jesus tem na sua mão a pá e recolherá o trigo no celeiro e queimará a palha no fogo. Se é um fogo "purificador", como ele vai purificar o que não existe? Uma vez que se você jogar palha no fogo, restará apenas um punhado de cinzas? Aqui o trigo representa os santos/crentes em Jesus e a palha são os ímpios/rebeldes (jo 3:36), ver Benson, Jamieson-Fausset-Brown, Barne's, Matthew Poole. Posso afirmar que quando os que leem o fogo como um fogo bom, têm em mente Atos 2:3 quando Lucas escreve sobre as "...línguas como de fogo", mas novamente eu acredito que essa é uma leitura muito superficial da perícope em que a palavra fogo se encontra em Mateus 3, e baseado nisso eu sou da opinião de que o fogo a que o texto se refere quer dizer a o fogo do juízo.

Dos relatos dos três evangelhos, Lucas conta que além de muitas exortações, João Batista falava sobre as maldades de Herodes [Antipas] e falava especificamente sobre Herodias, esposa do seu irmão que ele tomou como mulher. Aqui não é objetivo de Lucas dá um relato completo acerca da prisão de João, mais detalhes sobre a prisão e morte de João será contado em Mt 14:1-12.

O Batismo de Jesus Mt. 3:13-17; Mc 1:9-11; Lc 3:21-22

Os três relatos - não falaremos sobre o relato em João - trazem basicamente a mesma sequência: veio Jesus, João o batizou, o Espírito Santo desceu em forma de pomba e ouviu-se uma voz dos céus que dizia: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo."
Algo interessante que Mateus relata com um pouco mais de detalhes os eventos antes de Jesus descer nas águas. A cena deve ter sido muito linda quando João avistou Jesus, em João 1:29 João, o batista, pronuncia a famosa frase "[...] Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" e logo após Jesus vem ter com João (Mt 3:13). Aqui João indaga Jesus dizendo "Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?" Jesus não tinha pecado algum (1 Pe 2:22), então porque deveria ele se batizar se ele não tinha do que se arrepender? Vou deixar aqui o link de uma explicação do Pr. Augustus Nicodemus sobre o tema, ele consegue explicar com grande maestria. Clique aqui e tenha acesso ao vídeo do Pastor. Mas para resumir em poucas palavras, de acordo com o Pr., esse ato de Jesus se deixar ser batizado por João vindicaria a autoridade de João, ou seja, que ele foi de fato enviado por Deus para preparar o caminho para o Messias.


¹A forma comum ou tradicional de se referir aos evangelhos é dizer "Evangelho segundo fulano", porque segundo, porque o evangelho é as boas novas de Cristo e segundo é a quem a tradição atribui o autor, então quando dizemos "...segundo Mateus" estamos dizendo que foi Mateus quem escreveu esse relato da vida de Jesus. Isso não me impede, porém, de se referir aos evangelhos como livro de Mateus, evangelho de Mateus. Semanticamente falando é incorreto, pois a preposição de dá a ideia de pertencente a, mas me perdoem acaso eu escrever assim, o importante é que agora você entende a diferença e que você sabe que eu também entendo e que escrevo de forma proposital sem prejuízo ao significado.
²Ellicott, Benson

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