quinta-feira, 28 de março de 2019

Gênesis 22


Não vejo muitas dificuldades interpretativas no texto em si, para mim, exceto uma ou duas que veremos mais adiante e os versos do 20-24 que, na minha opinião, usando apenas o método indutivo de interpretação, não nos dá uma grande ideia do que esse texto realmente quer dizer, além do que ele realmente diz.

Minha maior dificuldade foi com o comando de Deus para que Abraão oferecesse seu filho em sacrifício. Conforme já vimos aqui, como por exemplo na questão do dízimo a Melquisedeque no estudo sobre o capítulo quatorze do livro de gênesis, toda narrativa bíblica está inserida num contexto histórico, ou seja, há um porquê dos contos [palavras minhas]. Achei uma definição bem interessante sobre essa questão histórico-cultural, segue: A narrativa bíblica não foi criada num vácuo. As estórias bíblicas frequentemente extraem suas ideias, crenças e motivos da variedade de tradições do contexto na qual estão inseridas - o antigo Oriente Próximo. Portanto, ao estudar o conteúdo histórico-ideológico de uma estória, devemos levar em consideração o relacionamento da estória com todo o contexto cultural. Em outras palavras, nós devemos perguntar se uma estória bíblica tem alguma relação com alguma tradição similar no Oriente Próximo. (traduzido livremente de Boehm, 2004, pp. 145).

O que eu quero dizer com tudo isso, o fato de Deus ter pedido a Abraão que sacrificasse Isaac, me diz que essa era uma prática naquela época [sacrifícios de crianças], tanto é que na Lei de Moisés Deus proíbe o sacrifício de crianças (Lv 20:2-5). Você não pode proibir algo que não é feito ou não existe. Seria ridículo se algum deputado criasse uma lei proibindo alguém de voar sem antes fazer revisão de suas asas.

Essa é até uma questão que os ativistas ateus usam para condenar Deus. Tem um livro cujo título, em uma tradução livre, seria Deus é um monstro moral? (Is God a moral monster, 2011), que, além de outros temas trata dessa questão. O autor tenta argumentar, assim como está escrito no livro de Hebreus 11:19, que Abraão tinha certeza de que Deus era poderoso para ressuscitar Isaac, caso ele viesse mesmo a sacrificá-lo. (Copan, 2011, pp. 48). Na página 49 do dito livro, o autor faz uma reflexão filosófica acerca da natureza desse comando de Deus. Ele até cita dois exemplos em que o homicídio seria moralmente legal: no caso de uma gravidez ectópica, ele argumenta que, profissionais éticos geralmente concordam que nesse caso é recomendável fazer o aborto, caso contrário morreriam tanto a mãe quanto o feto e em um outro caso ele cita o ataque de 11 de Setembro que seria moralmente aceitável abater os aviões antes de atingir as torres e acabar matando mais pessoas.

Para não alongar muito mais essa parte, eu vou deixar aqui o link para um estudo mais detalhado sobre esse tema, uma vez que tento sumarizar o máximo possível meus rascunhos de cada capítulo.

Descendentes de Naor

A princípio, esse texto não tem nada a nos dizer, de fato, se a gente aplicar o método indutivo de interpretação nesse texto, ele não nos dirá muita coisa. Há apenas nomes dos filhos do irmão de Abraão, Naor. Mas o texto não está aqui por acaso, porém é só no seguinte capítulo que entenderemos o porquê, mas vou adiantar o motivo. Alguém veio avisar a Abraão sobre seu irmão e de que ele tinha tido filhos, um deles, Betuel (v. 23) gerou uma moça chamada Rebeca, essa veio a ser a esposa de Isaque. Pronto, é isso.

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